Em um pronunciamento em quem teve o seu microfone cortado
várias vezes pela mesa, o senador Roberto Requião (MDB-PR) fez duras críticas
ao Conselho de Comunicação do Senado, classificando-o como chapa branca e
conivente com as "fake news " produzidas pela mídia comercial; para o
senador, a imprensa independente, hoje, é representada pelos blogs
progressistas; assista
Paraná 247 -Em um
pronunciamento em quem teve o seu microfone cortado várias vezes pela mesa, o
senador Roberto Requião (MDB-PR) fez duras críticas ao Conselho de Comunicação
do Senado, classificando-o como chapa branca e conivente com as "fake news
" produzidas pela mídia comercial. Para o senador, a imprensa
independente, hoje, é representada pelos blogs progressistas. Requião criticou
ainda dois outros órgãos de assessoria do Senado, o TCU e a IFI.
A
seguir, o texto do pronunciamento e vídeo picotado pela mesa:
Blogs e Patrões da imprensa no Comitê de Comunicação do Senado?
Como
agora, nesta pátria bem-amada, admite-se que se terceirize quase tudo e
entregue-se tudo, fico pensando até quando as atividades legislativas vão
resistir sem que também sejam terceirizadas.
Vejam,
frequentemente reclamamos das restrições às nossas atividades de legisladores,
de formuladores, de criadores das leis.
É o
Executivo que nos atropela, diminui e constrange com uma enxurrada inestancável
de Medidas Provisórias;
é o
Judiciário, sob o pretexto ou à verdade de nossa omissão, fazendo o papel do
Congresso;
são
juízes de primeira instância e procuradores de segunda transformando a livre
interpretação da lei, em lei;
são o
mercado e as transnacionais do petróleo elaborando, diretamente, sem
intermediários, relatórios de MPs que depois são lidos pelos seus ventríloquos
nas comissões, e aprovados em plenário;
são as
entidades patronais que, sem sequer o cuidado de remover o timbre de seus
logotipos da papelada, fazem aprovar leis por elas elaboradas, ferrando os
trabalhadores;
são os
lobistas que enxameiam as comissões e ousam até mesmo circular por este
plenário, sem inibição ou restrições;
são as
seis famiglias que dominam o "mercado de opinião" no país,
influenciando diretamente mais de 90 por cento dos brasileiros que consomem
informações, são esses famiglias ditando leis.
Enfim,
a nossa fraqueza, a nossa omissão ou cumplicidade tornam cada vez mais
irrelevante o Poder Legislativo.
Mas o
pior é quando nós mesmos, através de assessorias que criamos, permitimos que
tais assessorias nos desmoralizem, desautorizem, desrespeitem, não deem a
mínima importância à opinião desta Casa, especialmente à opinião da minoria.
Falo do
Tribunal de Contas da União, do Conselho de Comunicação Social e da tal
Instituição Fiscal Independente.
O TCU
de há muito que nos dá uma banana, pouco se lixando para o que esta Casa pense.
O episódio do impeachment da presidente Dilma foi exemplar. Tivemos na comissão
que aceitou as argumentações dos golpistas contra a presidente, tivemos neste
plenário, nesta mesa presidencial, um funcionário do TCU agindo como advogado
de acusação, tomando parte na tramoia, sem levar em consideração que o TCU não
é um tribunal, não tem poderes para tal, que é apenas um órgão auxiliar, de
assessoramento do Congresso. Pior: o TCU desacatou quase um terço dos senadores
que se opunham ao impeachment. O que eles pensavam não fez parte do relatório
aqui apresentado.
Não! O
rapazote que veio aqui, com um claríssimo partis pris, que deixou evidente em
seus comentários na internet, ele veio aqui e ousou dar de dedo, ironizar,
desrespeitar senadoras e senadores que se opusessem aos seus paupérrimos,
ridículos e parcialíssimos argumentos.
E como
a maioria desta Casa estava engajada na derrubada da presidente, pois a queda
da presidente destravaria as fontes de onde jorrariam leite, mel e algumas
sinecuras, essa maioria deixou que o paspalhão desempenhasse impune o seu papel
de pau mandado.
(Faço
um parêntese para uma confissão: confesso que muitas vezes, rememorando a
tramitação nesta Casa e na Casa ao lado do processo que levou à derrubada da
presidente, relembrando os argumentos que aqui desfilaram, a proclamação dos
votos, a intervenção do funcionário do TCU, o desempenho da Janaína, confesso
que essa rememoração me faz corar de vergonha e de constrangimento).
Mas,
voltando aos nossos assessores, ao TCU. Alguma vez os nossos assessores
consultaram-nos sobre qual fosse a decisão?
Outro
órgão de assessoramento desta Casa é o Conselho de Comunicação Social. Acredito
que muitos senadores sequer sabem da existência desse Conselho. Mas ele existe
e, como o TCU, não está nem aí para os seus patrocinadores; isto é, o
Congresso.
Por
exemplo: uma das preocupações do Conselho é com as chamadas "fake
news". Só que o entendimento de notícias falsas do Conselho é
particularíssimo. É o mesmo entendimento que têm as seis famiglias que
monopolizam o "mercado de opinião" brasileiro. E não seria para
menos, já que as seis famiglias têm uma representação privilegiada no Conselho.
Em
nenhum momento vi os nossos "conselheiros" de comunicação social
fazendo reparos à cobertura que a mídia comercial dá aos acontecimentos
nacionais. À parcialidade dessa cobertura, às omissões dessa cobertura. Afinal,
omitir uma informação propositadamente, escondê-la, também é uma forma de
"fake news"?
Não, o
nosso Conselho não considera que a cobertura engravatada, cinicamente isenta da
grande mídia comercial produza "fake news".
Notícias
falsas, devem pensar eles, como pensa o pessoal da Lava Jato, notícia falsa é
coisa da imprensa independente, dos blogs progressistas; é coisa de quem
discorda do neoliberalismo, do jornalismo de mercado, dos economistas de
mercado, das assessorias dos bancos.
Notícias
falsas são coisas do Nassif, do Paulo Henrique, do Rosário, do Esmael, do
Eduardo Guimarães, do Miro, do Raimundo Pereira, do Emir Sader, do Fernando
Brito, do Fernando Moraes, do Breno Altman, da Tereza Cruvinel, do Leonardo
Attuch, do Ricardo Kotscho, do Marcelo Auler, do Mino Carta, do Sérgio Lírio, do
Bob Fernandes, do Plínio de Arruda Sampaio e do Paulo Nogueira, in memoriam.
Enfim,
de todos aqueles que dessoam do pensamento único; daqueles que, como o
"Libertacão", o "Amanhã",o "Movimento", "O
Pasquim", o "Coojornal", "O Lampião", o
"Opinião", "Os Cadernos do Terceiro Mundo" tentaram furar o
bloqueio da ditadura militar, assim como os jornalistas e os blogs citados
tentam, hoje, furar o bloqueio dos donos do "mercado da opinião".
Em sua
última reunião, o Conselho soltou uma nota indignada contra a agressão que
jornalistas teriam sofrido durante a greve dos caminhoneiros. Até aí, tudo bem.
Assino também. No entanto, os nossos "conselheiros" não produziram
uma vírgula de reparo, de crítica ao comportamento da grande mídia comercial no
decorrer do movimento.
As seis
irmãs que monopolizam, o "mercado de opinião" no Brasil exageraram na
parcialidade, na desinformação, na divulgação de meias-verdades, no
espalhamento de factoides. Tomaram claramente um partido, o partido do mercado,
do Parente, das importadoras, das petrolíferas transnacionais.
Não
houve espaço para o contraditório na cobertura dos controladores do
"mercado de opinião".
E isso,
caríssimos conselheiros de comunicação desta Casa, isso não leva a notícias
falsas? Isso não pode ser caracterizado com o "fake news"?
Além de
parcial, mentirosa, partidária, a cobertura da greve dos caminhoneiros foi
também negligente, preguiçosa. Vejam o que se divulgou sobre o desabastecimento
dos supermercados, do comércio em geral.
Dia
seguinte à greve relevou-se que o pânico açulado pelas seis
"famiglias" que fazem a contravenção no mercado de opiniões não
procedia, era "fake".
Com
tanta falta de alimentos e de mercadorias, como foi alardeado, o que aconteceu
dia seguinte ao fim da greve foi então uma obra divina, um novo , milagre da
multiplicação dos pães e peixes?
A
composição do Conselho de Comunicação Social muda, de tempo em tempo, no
entanto, o compromisso com os donos do "mercado de opinião"
permanece. Pois não é que o Conselho, em sua composição anterior, posicionou-se
contra o meu projeto de "Direito de Resposta", aprovado aqui e na
Câmara dos Deputados?
Refletindo
a vontade de seus patrões, os conselheiros pouco se importaram com mais essa
tentativa de democratizar o acesso dos cidadãos aos meios de comunicação.
Imaginem,
assim, a opinião de "nossos " conselheiros em relação a medidas
antimonopólio há tempo adotadas pelos Estados Unidos e alguns países da Europa,
que proíbem a propriedade cruzada de meios de comunicação. Aqui, qualquer
tentativa de quebra do monopólio é imediatamente classificada como atentado à
liberdade de imprensa.
Enfim,
liberdade de imprensa é, para o Conselho de Comunicação Social do Congresso
Nacional, assim como é para Organizações Globo, a Folha, o Estadão, a Veja, a
RBS, o Correio Braziliense, o Estado de Minas, o Jornal do Commércio, e outros
monopólios regionais, liberdade de imprensa é a liberdade irrestrita, radical,
total de manipular as informações, de conduzir e induzir a opinião pública; de
controlar o "mercado de opinião"
O princípio
básico do jornalismo, que é o de buscar a verdade nos fatos não tem nada a ver
com o jornalismo praticado pelos que dominam, açambarcam, monopolizam a
comunicação social no país.
E
atentado à liberdade de imprensa é qualquer coisa que se oponha ao monopólio.
Sendo
assim, para que precisamos de um Conselho de Comunicação Social se ele é a
reprodução escancarada do pensamento dos controladores do "mercado de
opinião"?
Por
fim, cabe-me falar sobre outro órgão de assessoramento do Senado, que é a tal da
Instituição Fiscal Independente. Ela foi criada por resolução da mesa, com a
aprovação da Casa, em 2016, tendo como tarefas pesquisar, analisar, medir e
prever os eventos fiscais e orçamentários relevantes, decorrentes
principalmente das decisões públicas.
A IFI é
composta por três diretores e cinco assessores. Os diretores são todos
comissionados e, dos cinco assessores, apenas dois são funcionários efetivos do
Senado.
Para
que os senhores tenham uma ideia de que seja essa nossa mais nova assessoria,
comunico às senhoras e aos senhores que ela acabou de fazer um seminário e
concluiu que o Brasil precisa de mais ajustes fiscais, que o garrote da emenda
95 não foi suficiente, que esse novo ajuste precisa ser da ordem de cinco por
cento do PIB!
Sim, as
senhoras e os senhores ouviram direito: a nossa Instituição Fiscal Independente
recomenda que, para corrigir o grave déficit fiscal brasileiro, se faça um novo
ajuste fiscal de cinco por cento do PIB!
Santo
Deus!
Como é
possível tanta estultícia! Vejam só a que ponto leva o fundamentalismo de
mercado, a idiotia fiscalista, a ideologia radical, criminosa, assassina do
neoliberalismo. A que ponto esses fanáticos, esses maníacos, chegam.
E olha
que a rapaziada que propõe alinhar os brasileiros no paredão do desemprego, do
arrocho salarial, da exclusão e da fome, essa rapaziada é muito bem remunerada.
Remunerada por quem? Pelos mesmos brasileiros de quem querem tirar o que resta
do couro, cortar a saúde, a educação, a moradia, a segurança e as civilizadas
três refeições diárias.
Não sei
se alguma senadora ou algum senador deu-se ao trabalho de ler os boletins que a
tal Instituição Fiscal Independente publica.
Sabe
aquele trabalho de conclusão de curso que os alunos medíocres criam,
caprichando na apresentação, cheio de gráficos e de bossa? São assim os
boletins da Instituição Fiscal Independente. Não servem para nada. Ou talvez
sirvam para que se tome o rumo oposto, tanto na análise como nas propostas de
soluções para os nossos problemas econômicos, fiscais, orçamentários.
O TCU,
o Conselho de Comunicação Social e a Instituição Fiscal Independente não
entenderam ainda que o Senado reúne mulheres e homens de várias tendências, que
esta Casa é uma Casa plural, que o nosso compromisso fundamental, básico é com
os brasileiros e não com o mercado.
O
desrespeito às senadoras e aos senadores que discordam das decisões e
orientações do TCU, das orientações e decisões do Conselho de Comunicação
Social, das orientações e decisões da Instituição Fiscal Independente precisa
cessar. Ou então, que terceirizemos de vez nossas atribuições para eles.