Uma nota equivocada sobre a visita do advogado Juan Grabois a
Lula, já deletada pelo Vaticano, foi usada por agências contratadas pelo
Facebook para atacar e penalizar sites progressistas como 247, Fórum e DCM; na
nova versão, o Vaticano deixa claro que Grabois veio ao Brasil para trazer não
apenas um terço abençoado pelo Papa, mas também palavras do Santo Padre a Lula,
e retirou o trecho que falava numa visita em "caráter pessoal"; o
caso revela como agências de checagem de dados, submetidas a interesses
privados, podem dar vazão a uma nova forma de censura, que será combatida na
Justiça e também no parlamento
247 – O Vaticano, que, como qualquer estado, enfrenta disputas
internas entre setores progressistas e conservadores, foi alvo, nesta
terça-feira 12, de uma gigantesca polêmica no Brasil, que poderá levar à
censura ou à asfixia econômica de meios de comunicação independentes. Isso
porque uma nota divulgada precipitadamente pelo Vatican News, posteriormente
deletada, foi usada por agências de checagem de dados, como Lupa e Aos Fatos, para atacar sites independentes como Brasil 247, Diário do Centro do Mundo e Revista Fórum, em razão da visita frustrada do advogado Juan Grabois, que
é próximo ao Papa Francisco, ao ex-presidente Lula.
Grabois veio trazer a Lula um
terço abençoado pelo pontífice assim como palavras do Papa Francisco, como
atesta a nota oficial do Vaticano que foi
publicada na noite de ontem. "Grabois definiu inexplicável a rejeição de
não ter podido se encontrar com Lula a quem queria levar um Terço abençoado
pelo Papa, as palavras do Santo Padre e as suas reflexões com os movimentos
sociais e discutir assuntos espirituais com o ex-chefe de Estado", diz o
texto.
Esta
nota representa uma guinada de 180 graus nas manifestações anteriores do
Vaticano, já devidamente deletadas, que antes se referiam a Grabois como
"ex-consultor" e também como alguém que agia "em caráter
pessoal". Na nota que foi apagada pelo Vaticano, também sumiu o trecho,
fartamente usado por veículos conservadores no Brasil, que afirmava que 'terços
como esse são levados, como o Santo Padre deseja, a tantos prisioneiros do
mundo sem entrar no mérito de realidades particulares'.
Portanto,
a posição oficial do Vaticano neste momento, pode ser resumida da seguinte
forma: Grabois é consultor do pontífice e veio ao Brasil com a missão de trazer
a Lula um terço abençoado e também AS PALAVRAS do Santo Padre – o que evidencia
o caráter institucional – e não meramente pessoal – da sua visita. O fato de
comunicados anteriores terem sido apagados também sugere que o próprio comando
do Vaticano pode ter determinado a revisão dos procedimentos antes adotados
pela comunicação da Santa Sé.
O 'combate a fake news' como
arma na guerra política
Recentemente,
o Facebook contratou agências de checagem de dados para monitorar a
disseminação de notícias falsas, com o pretenso objetivo de evitar que o debate
político seja contaminado por manipulações. Duas das agências contratadas pelo
Facebook foram exatamente a Lupa e a Aos Fatos.
A
Lupa tem como investidora a Editora Alvinegra, que pertence a João Moreira
Salles, um dos herdeiros do Itaú Unibanco, e é parceira do Uol, da família
Frias, que edita a Folha de S. Paulo, jornal que, em editoriais, apoiou a
deposição da presidente Dilma Rousseff e a prisão do ex-presidente Lula – dois
processos amplamente questionados por intelectuais, acadêmicos e juristas do
Brasil e do mundo.
No
dia de ontem, tanto a Lupa como a Aos Fatos publicaram posts agressivos contra
247, DCM e Fórum, a partir da nota já deletada pelo Vaticano. Tais posts foram
usados pelo Facebook para advertir os três sites do campo progressista sobre a
disseminação de notícias falsas, alertando ainda sobre a possibilidade de
redução drástica do alcance de suas publicações.
De
maneira geral, o Facebook responde por grande parte do tráfego de notícias dos
sites de informação – e, portanto, também da sua geração de receita
publicitária. Portanto, qualquer medida que instrumentalize o necessário debate
sobre o combate a notícias falsas, que está presente na mídia corporativa
brasileira em larga escala, e o coloque a serviço de interesses privados, será
levado aos foros adequados, tanto na esfera política quanto jurídica.
Embora
o Vaticano tenha deletado suas postagens anteriores e publicado uma nova versão
oficial sobre o caso Juan Grabois, atestando que ele é consultor do Papa e veio
a Lula trazer não apenas um terço abençoado como também as palavras do Santo
Padre, as agências Lupa e Aos Fatos não revisaram adequadamente suas notas, nem
se desculparam diante de seus leitores por terem atacado veículos do campo
progressista, que já foram advertidos pelo Facebook. Tais agências também serão
alvo de ações judiciais, caso não se retratem e revisem suas posições,
comunicando seu contratante – o Facebook – sobre a notícia falsa que espalharam.
Recentemente,
o jornalista Luis Nassif, editor do GGN e um dos profissionais
mais respeitados do Brasil, criou a Agência
Xeque e também se colocou à disposição do Facebook para participar
do esforço de combate a fake news. Segundo ele, o combate às fake news, quando
instrumentalizado por grupos econômicos, se converte numa nova forma de
censura, a "censura 2.0". Para o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que
é jornalista e líder do Partido dos Trabalhadores na Câmara, esse debate será
levado ao parlamento para evitar que novos mecanismos de censura sejam usados
para coibir a liberdade de expressão no Brasil.
Corrigindo
um nosso serviço precedente sobre o caso Grabois-Lula, devemos ressaltar que
havia imprecisões na tradução e nas transcrições que induziram a alguns erros.
Abaixo apresentamos a notícia correta.
O
advogado argentino Juan Gabrois é Consultor do ex-Pontifício Conselho Justiça e
Paz, que passou a fazer parte do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento
Humano Integral, e é o coordenador do encontro mundial dos movimentos sociais
em diálogo com o Papa Francisco.
Grabois
concedeu uma entrevista (https://youtu.be/A7F-C1Bi5Q0)
depois de ter sido impedido de visitar o ex-presidente Lula no Cárcere de
Curitiba, onde está detido há mais de dois meses. Grabois definiu inexplicável
a rejeição de não ter podido se encontrar com Lula a quem queria levar um Terço
abençoado pelo Papa, as palavras do Santo Padre e as suas reflexões com os
movimentos sociais e discutir assuntos espirituais com o ex-chefe de Estado.
Grabois
disse que está muito preocupado com a situação política no Brasil e em vários
países da América Latina. Enfim, disse estar muito triste pela proibição de
realizar esta visita, mas que o importante é ter conseguido levar a Lula o
Terço.
Leia um post precipitado,
publicado em redes sociais do Vaticano, que foi posteriormente deletado:
"Em mérito às notícias
circuladas sobre o suposto envio de um Terço pelo Papa Francisco ao
ex-presidente Lula, esclarecemos que o advogado argentino Juan Grabois,
fundador do Movimento dos trabalhadores excluídos e ex-consultor do Pontifício
Conselho Justiça e Paz, tentou fazer uma visita - a título PESSOAL - ao
ex-presidente, tendo após a tentativa infrutífera, concedido uma entrevista
diante do prédio da Polícia Federal em Curitiba. Na entrevista - e nos ativemos
a ela - EM NENHUM MOMENTO Grabois afirmou que o Terço foi enviado pelo Santo
Padre, mas apenas "ABENÇOADO" pelo Papa"
Leia ainda a nota publicada
pelo serviço Vatican News, posteriormente deletada, e que foi usada pelas
agências Lupa e Aos Fatos contra a mídia independente:
“O advogado argentino Juan
Gabrois, fundador do Movimento dos trabalhadores excluídos e ex-consultor do
Pontifício Conselho Justiça e Paz, deu uma entrevista em sua tentativa de
visitar o ex-presidente Lula na prisão de Curitiba, onde está detido há mais de
dois meses. Grabois disse que a visita era pessoal e não em nome do Santo
Padre. Ele não teve a permissão para se encontrar com Lula”
Na entrevista, ele nunca
declarou que foi o Papa a enviar o terço, mas simplesmente que se tratava de um
terço que tinha sido ‘abençoado’ pelo Papa. Terços como esse são levados, como
o Santo Padre deseja, a tantos prisioneiros do mundo sem entrar no mérito de
realidades particulares”.
Portanto, fica claro que cabe
uma retratação das agências contratadas pelo Facebook para monitorar a
disseminação de notícias falsas.