Crise se aprofunda sem cessar com o país em colapso e as
elites agora cogitam tirar Temer; prejuízos do golpe chegam à casa das centenas
de bilhões de reais; analistas projetam cenário de desastre em larga escala em
2018; num evento do Valor Econômico que reuniu dezenas de empresários
e alto executivos na noite de ontem (28) clima era de desalento; jornal
conservador dá Temer como liquidado
247 - A crise se
aprofunda sem cessar com o país em colapso e as elites, que patrocinaram o
golpe contra a presidenta eleita Dilma Roussef em 2016, agora cogitam tirar
Michel Temer. Os prejuízos do golpe ao Brasil são incomensuráveis, chegam à
casa das centenas de bilhões de reais e analistas projetam um cenário de
desastre em larga escala em 2018. Num evento do jornal Valor
Econômico que reuniu dezenas de empresários e alto executivos
na noite desta segunda (28) o clima era de desalento. Jornal conservador dá
Temer como liquidado.
Walter
Schalka, presidente da Suzano Papel e Celulose, chegou a prever que o caos dos
últimos dias patrocinado pelo governo pode reduzir o crescimento do PIB
dramaticamente: "Essa paralisação vai afetar o PIB do ano em um ponto
percentual. Porque a economia parou", disse. "Há múltiplas empresas
com as operações paradas." A bem da verdade, a paralisia da economia já
estava se desenhando antes da greve dos caminhoneiros. Nos últimos três
meses do ano passado, o PIB estava estacionado, com um aumento simbólico de
0,1%. O cenário se repetiu no primeiro trimestre deste anos bem antes da greve.
Segundo o Valor Data, a estimativa média de 24 instituições financeiras e
consultorias é de que PIB continua estacionado, com outra alta irrisória de
apenas 0,3% -os números oficiais devem sair hoje. Enquanto isso, analistas
começam a projetar para 2018 um PIB negativo, o dólar batendo nos 5 reais e uma
queda brutal nas reservas do país.
No
encontro de ontem à noite, Luiza Trajano, presidente do conselho do
Magazine Luiza disse que "o Brasil não será o mesmo depois dessa
greve". Para Hamilton Amadeo, presidente da holding de saneamento Aegea, o
governo está no chão: "Essas movimentações, crises e impactos sempre
existirão. O que pode fazer a diferença é ter um governo com capacidade
mobilizadora suficiente para direcionar a sociedade e as empresas no melhor caminho".
Para
Tito Martins, presidente da mineradora Nexa Resources (ex-Votorantim Metais) a
greve dos caminhoneiros tem potencial, inclusive, para influenciar o resultado
das eleições de outubro. "A maneira com a qual a negociação foi levada
mostra que o governo está enfraquecido", disse. "Nas eleições, o
ambiente criado acaba favorecendo os candidatos mais radicais. Arriscaria que a
intenção de voto de alguns desses candidatos mais extremos vai subir nas
próximas pesquisas."
O
jornal O
Estado de S.Paulo, porta-voz do segmento mais conservador das
elites, publicou nesta terça um editorial com o título "Fraqueza
perigosa" no qual indica que o governo golpista naufragou: "O governo
do presidente Michel Temer mostrou-se frágil ao lidar com o protesto dos
caminhoneiros que parou o País. Essa fragilidade ficou particularmente evidente
com a quase total inação das Forças Armadas, malgrado o fato de que as medidas
decretadas por Temer para desobstruir as estradas e garantir o abastecimento
das cidades incluíam a autorização expressa para que os militares agissem
contra os grevistas. Está claro que ao governo faltou pulso para administrar
uma crise dessa dimensão, restando à sociedade a sensação de que o que está
sendo feito é insuficiente e que os caminhoneiros – e todos os oportunistas que
pegaram carona no movimento – estão a ditar os rumos da crise. O País se
aproxima perigosamente da anomia – quando aqueles que deveriam exercer a
autoridade política e institucional são desmoralizados, prevalecendo a lei do
grito".
O humor
e mesmo desespero das elites econômicas dá asas a saídas não democráticas para
a crise, como insinua o editorial do jornal de Sçao Paulo. A presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, agendou para os próximos
dias uma ação que questiona se é possível
migrar do sistema presidencialista para o parlamentarismo por meio de emenda à
Constituição. Seria uma reedição da saída de 1961, quando as elites, para
evitar a posse de João Goulart na Presidência, depois da renúncia de Jânio
Quadros, tiraram da cartola o parlamentarismo para evitar um presidente
progressista. O sistema durou 17 meses, sendo derrotado num plebiscito em 1963
e acabou sendo um ensaio para o golpe militar de 1964.
A
articulação de Lúcia vai ao encontro dos movimentos do presidente da Câmara,
César Maia. Pré-candidato do DEM à Presidência, com irrisório 1% nas pesquisas,
Maia tenta viabilizar-se no poder como primeiro-ministro. Ele continua atirando
contra Temer. Numa entrevista à Rede TV que foi ao ar somente na madrugada
desta terça-feira ele voltou a insistir na inviabilidade política de Temer:
"Governo existe para arbitrar soluções, e não para ficar tratando de
números e fazer ajustes econômicos. A renda das pessoas está caindo, o
orçamento familiar está pesado por causa do gás de cozinha e dos combustíveis e
não houve sensibilidade para enxergar isso antes que o movimento dos
caminhoneiros ocorresse".
Cenário das empresas
O
encontro do Valor Econômico serviu para dar um cenário da atividade empresarial
no país.
"A
Suzano parou, hoje, porque eu preciso colocar madeira, químicos e outros
insumos para a fábrica 'rodar', e não recebemos nada disso", afirmou
Schalka. O executivo relatou que, mesmo com as medidas anunciadas pelo governo,
a companhia não sentiu qualquer melhora no fluxo dos caminhões que transportam
matéria-prima. "Temos um gabinete de crise monitorando tudo, hora a hora,
e não conseguimos evoluir nada."
A greve
paralisou cerca de 90% das operações da Heineken no Brasil, informou Didier
Debrosse, presidente da cervejaria no país. A previsão é que as operações vão
levar de quatro a seis dias para voltar ao normal a partir do momento em que a
greve, de fato, terminar.
No
grupo Boticário, houve uma queda ao redor de 20% no movimento das lojas, disse
Artur Grynbaum, presidente da empresa. "Temos até estoque nas lojas, mas
não temos movimento", afirmou. A previsão é que o setor levará de 8 a 14
dias para voltar ao normal.
A
Kroton suspendeu 50% das aulas presenciais nas suas unidades de ensino
superior, ontem, e planeja estender esse percentual para 70%, hoje. O motivo é
a dificuldade de professores e alunos chegarem às unidades, disse Rodrigo
Galindo, presidente da empresa.
Na Dell
EMC, o estoque de componentes só vai durar 24 horas se o desabastecimento se
mantiver, disse Luiz Gonçalves, presidente da fabricante de computadores no
Brasil. "Temos estoque curto, de alguns dias, e abastecimento contínuo.
Oito caminhões estão parados em Santos", afirmou. "Estamos fazendo
reunião de crise duas vezes por dia". Metade dos funcionários passou a
trabalhar em casa.
O polo
petroquímico do Grande ABC está parado desde ontem (28) por tempo
indeterminado, informou o Comitê de Fomento Industrial do Polo do Grande ABC
(Cofip ABC), em nota. O polo petroquímico é formado por 14 empresas de primeira
e segunda geração da é formado por 14 empresas de primeira e segunda
geração da Indústria, como Braskem, AkzoNobel, Liquigás, Ultragaz, entre
outras.