"No vídeo do Itaú, agora as ruas estão vazias. A torcida
foi para o estádio. Os rostos agora estão limpos. Sem mais a maquiagem dos cara
pintadas que dominava as campanhas de 2014. Mas se as ruas foram pacificadas,
agora precisa-se conquistar os corações e mentes com o ideário
mérito-empreendedor. Nada melhor do que um misto de personal coaching e pastor
motivacional: o técnico da seleção Tite", explica o professor Wilson
Ferreira
Por Wilson Ferreira, no Cinegnose– Para
quem ainda duvida e acha que guerra híbrida e bombas semióticas não passam de
"teoria da conspiração", uma simples comparação entre as peças
publicitárias que promoviam a Copa de 2014 e a desse ano, na Rússia, põe fim a
qualquer dúvida: enquanto a Copa no Brasil foi dominada por criações
publicitárias para lá de polissêmicas (ambiguidade entre festa e agressividade,
alegria e raiva, em consonância com a pesada atmosfera das manifestações do
"Não Vai Ter Copa!" + Lava Jato), nesse ano a publicidade é bem
diferente: uníssona e assertiva - a Nação deve ficar unida, esquecer as
diferenças e torcer pela Seleção. Em 2018 a Guerra Semiótica veste as chuteiras
cumprindo duas funções: a primeira política, pacificar as ruas com a ideia de
união e nação; e no campo ideológico, enfiar goela abaixo da choldra as
preleções de Tite, misto de "coaching" e pastor motivacional. Para
nos fazer acreditar que desemprego não é crise. É oportunidade para virarmos
todos empreendedores. Mas, e se algo sair fora do script? Então teremos um
"Plano B" cujos balões de ensaio já estão sendo lançados.
Visto
em perspectiva, a intervenção norte-americana no Brasil por meio da estratégia
de guerra híbrida (guerra semiótica implementada pelo complexo
jurídico-policial-midiático com apoio logístico e de inteligência dos EUA) teve
dois propósitos bem definidos: primeiro, o golpe político - o impeachment, nova
modalidade de golpe sem mais traumáticas imagens de tanques de guerra cercando
o Congresso ou um presidente com quepe estrelado discursando para a TV, e a
inviabilização de um candidato de esquerda por meio da pesada artilharia do
chamado "lawfare".
E
segundo, a conquista dos corações e mentes: fazer a choldra, que olha para tudo
até agora bestializada, acreditar na ideologia do mérito-empreendedorismo da
nova ordem neoliberal imposta ao País – diante da perda das garantias
trabalhistas e sociais e por meio de pitacos ideológico-motivacionais, incutir
nas massas a fé de que, daqui em diante, é cada um por si pelo próprio mérito e
esforço empreendedor. E o salto de fé de que, um dia, a força de trabalho
magicamente se converterá em capital.
Da
mesma forma como na Copa do Mundo de futebol de 1970 (em pleno início do golpe
militar e dos anos de chumbo de perseguições e tortura), na qual a ordem
militar calçou as chuteiras dos "90 milhões em ação, prá frente
Brasil!", também o atual golpe político que promove a guerra semiótica
também calça suas chuteiras.
Neste
momento, a palavra de ordem é mostrar uma nação unida, brasileiros "com
muito orgulho e com muito amor", entusiasmo, felicidade e inspiração. E
muitos pitacos motivacionais do técnico Tite em vídeos publicitários do banco
Itaú.
Para
aqueles que ainda duvidam sobre estarmos em plena guerra semiótica ou de que o
País continua alvo de uma guerra híbrida cuja logística poderá colocar em xeque
as eleições desse ano (se as coisas nãos seguirem o script previsto pela
banca), uma prova é fazer um comparativo das campanhas publicitárias de duas
copas do mundo de futebol: a de 2014 e a desse ano.
Lá
em 2014 vivíamos o auge de uma pesada guerra semiótica que pretendia
desestabilizar o governo Dilma Rousseff (o clima do "não vai ter
Copa" + Lava Jato).
E
agora em 2018, a luta midiática pela estabilização da Nova Ordem - Lula preso,
a inviabilização de um candidato de esquerda (só esperam a definição do
candidato para a artilharia lawfare ser acionada) e a catequização diária dos
valores do mérito-empreendedorismo para a massa de desempregados e aqueles
inseguros com o emprego que ainda possuem.
Em
2014, as campanhas publicitárias eram polissêmicas, ambíguas, explorando um
duplo sentido: entre o tradicional ufanismo da pátria de chuteiras e a
incitação das mobilizações de rua do "Não Vai Ter Copa!" e contra o
governo federal.
Bem
diferente, hoje vemos um clima publicitário semioticamente unívoco, assertivo,
com um único sentido: a necessidade da Nação ficar unida, esquecer as
diferenças e torcer pela Seleção. Um incômodo déjà vu que lembra as amargas
atmosferas do anos de chumbo das copas de 1970, 1974 e 1978 – cuja Seleção
chegou até a contar como um técnico militar, Cláudio Coutinho, capitão que se
graduou na Escola de Educação Física do Exército.
Não
foi por acaso que, assim como o juiz Sérgio Moro (arma do lawfare da atual
guerra híbrida), Coutinho fez cursos nos EUA. A diferença é que foi na área de
preparação física com Kenneth Cooper (idealizador do famoso método de avaliação
física), chegando a frequentar o Laboratório de Estresse Humano da NASA –
afinal, o futebol fez parte do aparato ideológico dos governos militares.
A
campanha polissêmica da Copa de 2014
Olhando
em conjunto anúncios e vídeos publicitários é nítida a intenção polissêmica das
criações que antecederam a Copa do Mundo no Brasil: um misto de festa e
agressividade, alegria e raiva. E torcidas que ora parecem as tradicionais
torcidas organizadas de futebol, ora manifestantes que saem às ruas para
protestar.
E
tudo é reforçado com alusões aos icônicos "cara pintadas" das
manifestações (cores verde e amarelo pintadas no rosto) pelo impeachment de
Collor em 1992.