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O ex-jogador de futebol argentino Diego Maradona, no
encerramento da campanha do presidente venezuelano Nicolás Maduro para as
eleições presidenciais no próximo domingo. (Twitter/Divulgação)
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Luciano
Fetzner (*)
Não gosto de emitir opiniões sobre a
Venezuela. Toda “informação” que vem de lá está sempre recheada de conteúdo
ideológico. Parece que ambos os lados desta polarização insana – que tomou
conta de qualquer papo sobre política no continente latino-americano – estão
dando atenção especial para a disputa pela narrativa da história recente
Venezuelana. O que sobra é pouquíssima margem para relatos que possam ser
encarados como imparciais.
Todavia, a grande mídia brasileira adotou
uma postura recente que deixa explícito: com a aproximação do período
eleitoral, escolheram um lado desse ringue para se alinhar. Aproveitam as
visitas de Grêmio e Corinthians ao país vizinho para, quase que indiretamente (apesar
de que com pouca discrição), despejarem sua linha editorial, apostando na
narrativa da direita, apoiada por Trump, de que “a Venezuela está sendo
destruída pelos comunistas”. E isso é digno de nota e profunda reflexão.
Anos atrás, assisti ao excelente
documentário “A Revolução Não Será Televisionada”, que narra o processo de
golpe jurídico-midiático sofrido pelo então presidente Hugo Chávez. A obra
descreve detalhadamente todo o processo que – utilizando o jargão do futebol –
aos 45” do segundo tempo, foi derrotado, graças à massiva mobilização popular
em defesa de seu presidente democraticamente eleito (qualquer semelhança com o processo
sofrido por Dilma no Brasil em 2016 não é mera coincidência).
Como o golpe não deu o resultado esperado,
outras forças começaram a se movimentar. Vieram então boicotes econômicos,
manobras com o preço do petróleo, financiamento de milícias e toda sorte de
sabotagens. Até mesmo lock-outs foram
promovidos por redes de supermercados venezuelanos: escondiam alimentos com o
claro intuito de se construir no imaginário popular que o país estava
colapsando.
Em 2013, pós a estranha morte de Hugo
Chávez – que logo após ter sido sequestrado para a Costa Rica com apoio
estadunidense apareceu adoecido de câncer – seu sucessor Nicolás Maduro assume
o comando do país. Maduro, mesmo tendo sua indicação ao governo legitimada nas
urnas, o mais comum de se ver são referências pejorativas ao seu governo, desde
acusações de fraude até a pecha de ditadura. Assim como estamos vendo acontecer
no Brasil, o Judiciário de lá entrou em cena. Tentaram extrapolar às suas
funções, desequilibrando os 3 poderes. Mais uma vez, a soberania popular deu
guarida ao governo venezuelano, levando o Judiciário a ser reformado e a crise
solucionada.
Durante este período todo, a Venezuela foi
gradativamente se tornando o centro das discussões da geopolítica
sul-americana, o que torna claro o porquê do gigantesco volume de produções
políticas disputando a “verdadeira verdade” sobre o que tem acontecido por lá.
De minha parte, não pretendo fazer juízo de qual o grau de culpa do governo ou
dos fatores externos na crise que o país está atravessando, até porque o mundo
passa por uma crise sistêmica e cíclica do capitalismo que atinge em maior ou
menor grau a praticamente todos os países.
Mas arrisco desta vez uma opinião. Ao
contrário do que aconteceu no Brasil, na Venezuela o golpe, primeira cartada,
não foi bem sucedido. A segunda cartada está sendo a difamação, a crise e a
culpabilização do governo por tudo. Na sequência disso, presumo que
transcorrerá discussão internacional sobre “salvar a Venezuela”, via
intervenção militar coordenada pelas tropas estadunidenses, sedentas por
petróleo. É bom lembrar que não faz muito que Temer permitiu que tropas de
Trump se movimentassem na Amazônia, sob o pretexto de manobras humanitárias.
Podem chamar de paranóia, teoria da
conspiração, alarmismo ou qualquer outro adjetivo, mas temo que o embrião de um
processo de intervenção na América Latina, nos mesmos moldes do que vemos há
décadas no Oriente Médio acontecer, pode estar sendo gestado na nossa vizinha
Venezuela. E não esqueçam que por essas bandas daqui, além do petróleo, também
temos a maior floresta tropical e as maiores reservas de água potável deste
planeta.
Como sabiamente afirmara Millôr Fernandes: “O
futebol é o ópio do povo e o narcotráfico da mídia”.Fiquemos
atentos ás próximas rodadas… Nunca se sabe quando será o próximo 7×1.
(*) Graduando
em ciências sociais e diretor secretário-geral do SindBancarios Porto Alegre.
Fonte: Sul21