Pela terceira vez, os deputados do PT Paulo Lula Pimenta
(RS), Wadih Damous e Paulo Teixeira cobraram junto à procuradora-geral da
República, Raquel Dodge, em audiência nesta quarta-feira 2, que o órgão
investigue denúncias feitas pelo ex-advogado da Odebrecht Rodrigo Tacla Durán
contra a operação Lava Jato; documentos e declarações de Tacla Duran colocam em
xeque delações dos executivos da Odebrecht, provas entregues pela empreiteira e
em suspeita os próprios procuradores da força-tarefa
247, com informações do PT na
Câmara - Pela
terceira vez num período de cinco meses, os deputados do PT Paulo Lula Pimenta,
líder na Câmara, Wadih Damous e Paulo Teixeira cobraram da Procuradoria-Geral
da República (PGR) investigação das denúncias feitas pelo ex-advogado da
Odebrecht Rodrigo Tacla Durán contra a operação Lava Jato. Os parlamentares
tiveram audiência nesta quarta-feira (2) com a procuradora-geral da República,
Raquel Dodge.
As
denúncias do advogado são baseadas com documentação que coloca em xeque as
delações dos executivos da Odebrecht no âmbito da operação, mas também de todas
as denúncias construídas a partir dessas delações e de outros dados coletados a
partir de sistemas de informações da empreiteira.
"Levamos
extensa documentação, boa parte dela periciada na Espanha, além de depoimento
de mais de quatro horas de Tacla Durán, em que ele detalha uma série de
irregularidades que envolvem procedimentos adotados por procuradores, juízes,
empresas e delatores na chamada operação Lava Jato", explicou Pimenta após
a reunião com Raquel Dodge, em que cobrou da PGR o resultado das investigações
a partir do material protocolado em dezembro de 2017.
Naquela
ocasião, os três parlamentares entregaram representação ao subprocurador-geral
da República Carlos Alberto Vilhena, com quem se reuniram novamente, em
fevereiro deste ano, para saber dos desdobramentos das denúncias e provas
apresentadas no ano passado. "De lá pra cá, não temos nenhum indicativo de
que a PGR tenha realizado qualquer investigação a respeito dos fatos que
apresentamos", destacou o líder petista, lembrando que em outras situações
PGR e Ministério Público Federal têm instaurado procedimentos, inclusive, a
partir de simples notícias de jornal.
Pimenta
argumentou ser de extrema relevância o conteúdo dos documentos que foram
entregues à Procuradoria demonstrando ter havido manipulação dos sistemas
Drousys e MyWebDay, que eram os sistemas de informações operados pela
Odebrecht, dentro e fora do Brasil, com dados acerca das transações da
empreiteira. Tal relevância exigiria, portanto, um posicionamento do órgão, já
que a PGR na última segunda-feira (30) apresentou denúncias com base em
planilhas, cujos conteúdos foram formalmente questionados – a partir de provas
– desde dezembro do ano passado.
"Além
disso, existem indícios da participação de escritórios de advocacia e de
procuradores, que facilitam ou dificultam delações, facilitam ou dificultam
liberação de recursos, o que está absolutamente fora do que prevê a lei. Na
medida em que isso for investigado, teremos um fato que poderá, sim, levar à
nulidade dessas delações", completou Paulo Pimenta, também chamando a
atenção para a necessidade de a PGR investigar o modus-operandi da Lava Jato em
"oferecer" delações.
"Pela
lei, delação é um ato espontâneo. E Tacla Durán apresentou uma minuta de uma
proposta de delação, com os termos daquilo que deveria constar na sua delação e
com os benefícios que seriam oferecidos a ele caso aquela delação fosse feita.
Este advogado que encaminhou essa minuta a Tacla Durán recebeu esse conteúdo do
e-mail do Ministério Público Federal lá em Curitiba. Queremos saber se esse
e-mail é verdadeiro ou não", reivindicou, fazendo referência ao esquema
ilegal revelado por Tacla Durán de obtenção de delações pela Lava Jato.
Durán
denunciou o chamado "esquema Zucolotto", em que o advogado Carlos
Zucolotto – amigo próximo do juiz Sérgio Moro, ex-sócio de sua esposa,
Rosângela Moro, e padrinho de casamento do casal – teria funcionado como
intermediador do seu acordo de delação com o Ministério Público. Disse ainda
que o amigo da família Moro foi autor de uma proposta de redução de US$ 10
milhões na multa a ser cobrada de Durán, caso ele fizesse um pagamento de US$ 5
milhões "por fora", além de um abrandamento de pena – de regime
fechado para domiciliar.
Diante
da cobrança dos parlamentares, a procuradora-geral agendou nova reunião, a ser
realizada em uma semana, para que a PGR apresente que providências adotou a
partir do que foi apresentado. "Não estamos falando de suposições, estamos
falando de depoimentos, de provas, de planilhas de pericias, estamos oferecendo
testemunha [Tacla Durán] e esperamos que, de fato, nesse prazo de uma semana
possamos ter uma resposta conclusiva da PGR. Queremos saber o que foi feito da
denúncia e quando seremos chamados a colaborar. A testemunha está à disposição,
e novos documentos poderão ser apresentados", detalhou Pimenta.
Diante
da relevância de tudo o que foi entregue à PGR, o deputado Wadih Damous
argumentou não haver outra alternativa senão ouvir Tacla Durán em depoimento.
"São fatos que apontam a possibilidade de tráfico de influência no âmbito
da Lava Jato; favorecimento de advogados ligados a esse ou aquele procurador,
inclusive com relação de parentesco entre advogado e procurador; e fraude em
planilhas que serviram para condenar pessoas. Uma série de elementos de suma
gravidade. Então, nossa expectativa na próxima quarta-feira é que a PGR nos
apresente o andamento das investigações do que foi levado a conhecimento há
cinco meses", reforçou.
Para o
deputado Paulo Teixeira, é fundamental ouvir Tacla Durán, considerar suas
denúncias com relação à Lava Jato e às delações da Odebrecht e investigar o
conteúdo das planilhas apresentadas pelos delatores, já que existem fortes
indícios de que foram manipuladas. "Ora, se a árvore é podre, o fruto
também é podre. Então essa pessoa tem que ser ouvida. E o que nos causa espécie
é a recusa do judiciário brasileiro de não ouvir Tacla Durán a respeito de
crimes que estariam sendo praticados no âmbito da Lava Jato e que precisam ser
investigados", disse Teixeira.