Após vários áudios que
circularam em grupos privados na internet, o jornalista Chico Pinheiro, da TV
Globo, foi procurado pela Veja para se manifestar e respondeu: “Nada tenho
a dizer a respeito”; após a repercussão das gravações, o diretor de Jornalismo
da emissora, Ali Kamel, divulgou um comunicado interno pedindo para que
jornalistas fiquem alerta com suas mensagens em redes sociais, conforme já
havia solicitado no ano passado; leia a íntegra
247 - A divulgação de
diversos áudios atribuídos ao jornalista Chico Pinheiro, da TV Globo, pelo
aplicativo WhatsApp, comentando a prisão do ex-presidente Lula, abriu uma crise
na emissora. Após a repercussão, o diretor de Jornalismo da Globo, Ali Kamel,
divulgou um comunicado interno pedindo para que jornalistas fiquem alerta com
suas mensagens em redes sociais, conforme já havia solicitado no ano passado.
Chico
Pinheiro foi procurado pelo site da revista Veja para se
manifestar sobre o caso e respondeu: “Nada tenho a dizer a respeito”. Nas
gravações, o âncora do Bom Dia Brasil, que narrou a prisão do ex-presidente
Lula neste fim de semana, afirma que agora "os coxinhas estão
perdidos" na disputa presidencial de 2018 e reproduz uma declaração do
próprio ex-presidente, de que ele não é "mais um ser humano", e
sim "uma ideia".
O
apresentador critica ainda a atuação do juiz Sergio Moro, contesta uma legenda
da Globonews e manifesta um desejo: "Que Lula tenha calma, sabedoria,
inspiração divina, para ficar quieto ali um tempo, onde está". No áudio,
ele lembra a apresentação do Jornal Nacional do último sábado, quando noticiou
a prisão de Lula.
"Um
beijo no coração de vocês que me representaram quando eu tinha que apresentar
aquele jornal de ontem. Mas está tudo bem. A história é um carro alegre, cheia
de um povo contente, que atropela indiferente todo aquele que a negue",
declarou.
Em e-mail no ano
passado, eu alertei para o uso de redes sociais. Na ocasião, lembrei que
jornalistas, de forma não proposital, publicavam fotos em que marcas apareciam.
Eu alertei então para aquilo que todos nós sabemos: jornalistas não fazem
publicidade e que todo cuidado é pouco para evitar que nossos espectadores
equivocadamente pensem que se descumpre esse preceito.
Hoje,
volto a falar sobre o uso de redes sociais. O maior patrimônio do jornalista é
a isenção. Na vida privada, como cidadão, pode-se acreditar em qualquer tese,
pode-se ter preferências partidárias, pode-se aderir a qualquer ideologia. Mas
tudo isso deve ser posto de lado no trabalho jornalístico. É como agimos. Daí
porque não se pode expressar essas preferências publicamente nas redes sociais,
mesmo aquelas voltadas para grupos de supostos amigos. Pois, uma vez que se
tornem públicas pela ação de um desses amigos, é impossível que os espectadores
acreditem que tais preferências não contaminam o próprio trabalho jornalístico,
que deve ser correto e isento. Como entrevistar candidatos, se preferências são
reveladas, às vezes de forma apaixonada? O mais grave é que, quando os
vazamentos acontecem, as vítimas, com toda a minha solidariedade, dizem que
foram mal interpretadas. Não importa, o dano está feito. A Globo é apartidária,
independente, isenta e correta. Cada vez que isso acontece, o dano não é apenas
de quem se comportou de forma inapropriada nas redes sociais. O dano atinge a
Globo. E minha missão é zelar para que isso não aconteça. Portanto, peço a
todos que respeitem o que está em nossos Princípios Editoriais (e nos dos
jornais sérios de todo o mundo):
"A
participação de jornalistas do Grupo Globo em plataformas da internet como
blogs pessoais, redes sociais e sites colaborativos deve levar em conta três
pressupostos: (...) 3- os jornalistas são em grande medida responsáveis pela
imagem dos veículos para os quais trabalham e devem levar isso em conta em suas
atividades públicas, evitando tudo aquilo que possa comprometer a percepção de que
exercem a profissão com isenção e correção."
É com
isso em mente que envio esse e-mail.