(foto: Franklin de Freitas)
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O primeiro dia
julgamento do ex-deputado Luiz Fernando Ribas Carli Filho começou na tarde
desta terça-feira (27), no Tribunal do Júri, em Curitiba terminou por volta das
22 horas. As oito horas de depoimentos foram encerradas pela fala do réu, o
ex-deputado estadual Luisz Fernando Carli Filho. Neste segundo dia, por volta
das 7 horas da manhã, a polícia militar já havia reforçado a segurança nas
imediações da sede do Tribunal do Júri, no Centro Cívico, cuja sessão foi
marcada para começar às 9h30.
O julgamento é conduzido pelo juiz Daniel
Avelar, da 2ª Vara Privativa do Tribunal do Júri de Curitiba. A fila dos
populares que conseguiram uma senha para acompanhar o júri já tinha cerca de 50
pessoas por volta das 8h20. O primeiro a chegar ao Tribunal foi o juiz Daniel
Avelar.
Neste segundo dia, o acusado Carli Filho
chegou acompanhado do irmão, o deputado estadual Bernardo Ribas Carli (PSDB), e
do pai, o ex-prefeito de Guarapuava, Luiz Fernando Ribas Carli.
No primeiro dia, o depoimento mais longo
foi o da sexta testemunha, Ventura Raphael Martello Filho, perito
particular chamado pela defesa de Carli Filho. Ele falou por quase três horas.
Foi durante o depoimento de Martello, quando mostraram as fotos das vítimas,
que o ex-deputado, aparentemente abalado pelas imagens, se retirou do plenário.
O réu, aliás, prestou o último depoimento, das 21 horas às 21h30:
"Eu errei, eu bebi, eu dirigi, mas não tive a intenção de matar",
disse Carli. Ele também pediu desculpas às mães das duas vítimas, Gilmar Rafael
Souza Yared e Carlos Murilo de Almeida. A sessão será retomada às 9 horas desta
quarta (28), com a fala inicial do Ministério Público.
Antes do início do julgamento, a defesa do
ex-deputado recusou três dos jurados, quantidade a que tinha direito. A
promotoria recusou uma. O júri ficou formado por cinco mulheres e dois homens.
Carli é acusado de duplo homicídio com
dolo eventual pela morte, em 2009, de Gilmar Rafael Souza Yared e Carlos Murilo
de Almeida. Por se tratar de um crime doloso contra a vida, o julgamento, que
está previsto para prosseguir até esta quarta,28, no Tribunal do Júri,
instância em que a decisão cabe a um conselho de jurados formado por cidadãos
da cidade onde ocorreu o crime. A deputada federal Christiane Yared,
emocionada, foi dispensada de testemunhar.
Veja como foram os
depoimentos
Primeira
testemunha: "Ofereci carona para ele, que aceitou num primeiro momento,
mas depois desistiu"
A primeira testemunha foi o médico Eduardo
Missel, amigo de Carli Filho desde 2008, que estava com ele no restaurante no
dia do acidente. O testemunho durou 34 minutos e foi para a acusação e defesa.
Ele confirmou que foram pedidas quatro garrafas de vinho no restaurante, mas
disse que nem todas foram consumidas. Missel não soube dizer se o ex-deputado
estava em condições de dirigir naquela noite, mas ofereceu carona para ele.
Segundo o testemunho, num primeiro momento Carli Filho aceitou e chegou a
entrar no carro do amigo, mas desistiu e foi com o próprio carro. O médico
contou que quando falou com o ex-deputado após ele sair do hospital em São
Paulo, Carli Filho disse não lembrar de nada sobre o acidente. Durante o
depoimento de Missel, Carli Filho chorou.
Segunda
testemunha: "Quando o paciente (Carli Filho) chegou ao hospital ainda não
tinha sido identificado"
O segundo depoimento foi do médico José
Antônio Mangue. Ele prestou depoimento antes porque alegou problemas de saúde.
Ele é testemunha de defesa. O Ministério Público mostrou fotos do corpo das
vítimas e questionou se elas tiveram tratamento adequado. Também foi
perguntado sobre detalhes do estado de saúde de Carli Filho após o
acidente. O ex-deputado foi levado ao Hospital Evangélico pelo Siate.
Quando o médico iniciou o atendimento, Carli estava entubado, com trauma de
face extremamente agressivo. O advogado Roberto Brzezinski Neto questionou o
médico sobre a transferência de Carli a um hospital de São Paulo, dias depois
do acidente. Médico diz que foi decisão da família. A defesa exibiu fotos do
rosto de Carli Filho, quando ele estava hospitalizado. Médico diz que quando o
paciente chegou ao hospital, ainda não havia identificação.
Terceira
testemunha: "Tive que segurar Carli Filho para que ele não caísse no
chão"
A terceira testemunha foi Altevir dos
Santos, segurança do restaurante. Ele confirmou a versão do médico Missel de
que Carli Filho chegou a entrar no carro do amigo e saltou em seguida. Santos
também informou que teve que segurar o ex-deputado para que ele não caísse no
chão e confirmou que Carli Filho saiu do restaurante com o carro em alta velocidade.
Quarta testemunha:
"Vi o carro saltar cerca de 1,5 metro do chão`
Após rápido recesso, o julgamento foi
retomado com a testemunha Leandro Lopes Ribeiro, enfermeiro que viu o acidente.
Indicado pela Defesa. Ele contou que viu o carro de Carli Filho saltar cerca de
1,5 metro do chão. "O carro de Carli Filho saiu com as quatro rodas do
chão. Cheguei a ver uma parte do crânio de uma das vítimas. Foi ele que chamou
o Siate. Diz ter percebido que o carro de Carli Filho bateu na traseira do
carro das vítimas, na altura do porta-malas, perto do para-brisas. Honda ficou
parado na descida, na ruazinha paralela Passat foi parar na frente do Honda.
Quinta testemunha:
"Honda Fita reduziu a velocidade, mas não parou"
Yuri Yasichin da Cunha, também indicado pela
defesa, trafegava na mesma rua que o Honda. Ele não viu a colisão, mas um
pouco antes da esquina, ouviu o barulho. Não soube informar se havia
algum outro carro em excesso de velocidade no mesmo sentido do acusado. Ele
disse que parou, mas não havia nada a ser feito, a não ser chamar o Siate, o
que já havia sido feito. Ao ser questionado pela defesa, afirmou que o Honda
Fit reduziu a velocidade ao chegar na esquina, mas não parou. Ele confirmou que cobriu a cabeça de Rafael
Yared com uma caixa de sapato.
Sexta testemunha:
"A perícia oficial tem várias falhas"
Ventura Raphael Martello Filho é um
perito particular chamado pela defesa de Carli Filho e seu depoimento durou
quase 3 horas. Ele diz ter encontrado inúmeras incongruências na perícia
oficial sobre a velocidade do carro do ex-deputado. Para ele, não há como aferir, cientificamente, a
velocidade em que os carros estavam no momento da batida. O laudo oficial
apontou que Carli trafegava entre 161 km/h e 173 km/h. "Houve
inúmeras tentativas de supostos cálculos de velocidade, nenhum seguiu nenhuma
metodologia aceita; não encontramos possibilidade de calcular a velocidade de
qualquer um dos veículos", disse ele. Segundo o perito, dá
para ter a percepção que o veículo que trafegava acima da velocidade permitida,
mas não há método para aferir a velocidade; nem estimativa. Segundo ele,
o Passat colidiu a parte mais resistente, que é a frente e motor com a
parte mais frágil do Honda Fit, que é uma parte oca. Ele também garantiu que o carro de Carli não saiu do chão no
acidente. Segundo ele, a velocidade mínima para o veículo decolar seria
de 250 km/h e o carro do ex-deputado tem 227 km/h de velocidade
máxima. Questionado, Martello afirma que o valor "travado"
no velocímetro (190 km/h) de Carli não pode ser considerado para determinar a
velocidade do veículo na hora do acidente.
Perito mostrou ainda vistas noturnas do
local do acidente. Explicou que os semáforos ficam em amarelo piscante quando
estão estragados ou em determinados horários. Ele disse que foi até o local do
acidente, ficou na posição do carro das vítimas, no mesmo horário, e esperou
que passasse um veículo com faróis xenon - que dão maior visibilidade -
como eram os de Carli. Tentativa é de demonstrar que era possível que as
vítimas vissem o carro do ex-deputado. O perito mostrou a simulação
virtual para determinação da velocidade máxima atingível pelo
modelo Passat Variant 2.0. Ele acredita que o máximo que o carro de Carli
poderia chegar é 136 km/h, com base em um teste virtual. Martello ainda mostrou
a foto da parte de baixo do Passat do ex-deputado. A imagem foi feita pela
criminalística e mostra um leve amassado. Segundo o perito, se tivesse
caído em cima do Honda, segundo ele, estaria em condições piores.
Martello criticou vídeo produzido pelos assistentes de acusação, que mostra uma
reconstituição em animação gráfica do que teria ocorrido no momento do
acidente; perito critica inclusive o fundo musical dramático; Analisando fotos,
diz que partes do carro de Carli podem ter sido danificadas na remoção, não na
batida. Ele questionou como o carro causou a decapitação de duas pessoas e não
há nenhuma gota de sangue nele. Roberto Brzezinski Neto, advogado de defesa,
pediu que o perito não mostrasse fotos das vítimas para "não explorar a tragédia
de ninguém". Neste momento, Carli
deixou o plenário, aparentemente abalado com as fotos dos jovens mortos. Martello
sustentou a tese de que as vítimas poderiam ter evitado a batida. Após o
depoimento dele, o juiz Daniel Avelar suspendeu julgamento por 30 minutos para
pausa de jantar.
Depoimento do réu
Fernando Ribas Carli Filho: " Eu errei, eu bebi, eu dirigi, mas não tive a
intenção de matar"
O réu Fernando Ribas Carli Filho disse que
nunca fugiu do processo. "Usamos o direito da ampla defesa porque
acreditamos que a denúncia contra a minha pessoa não é correta, porque nunca
tive a intenção de matar", disse ele, no depoimento. "Eu errei, eu
bebi, eu dirigi. Assumo a culpa, mas nunca tive a intenção de matar
alguém", afirmou. Ele ainda negou que tenha feito racha em algum momento
de sua vida. Relembrando o dia do acidente, Carli disse que encontrou o casal
de amigos, beberam e comeram e que não se lembra de nada após a saída do
restaurante. Explicou que esqueceu porque sofrey amnésia lacunar, segundos os
médicos. O réu chorou ao falar da educação simples que os pais deram a
ele. Disse que nunca fez racha na vida dele e não estaria fazendo racha naquela
noite. Ele disse que no dia saiu para visitar o pai no hospital e depois foi
jantar no restaurante. Só lembra do restaurante e depois no coma no hospital.
Afirmou que o carro dele era usado por diversas pessoas da assembleia, por isso
tinha tantas multas. Também afirmou que não foi comunicado formalmente que a
carteira estava cassada.
Ele olhou para as mães das vítimas e disse
que nunca teve a chance de pedir perdão, mas que agora quer pedir desculpas
"do fundo do coração ". Por fim, ele não pode confirmar a
velocidade que estava porque não tem recordação dos fatos.
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Atraso
O julgamento estava previsto para começar
às 13 horas, mas atrasou. A sessão começou apena àss 13h15. Nesta manhã, por
vollta das 10 horas, os policiais já estavam preparando o isolamento da sede do
Tribunal do Júri, no Centro Cívico. O caso, de grande repercussão nos últimos
anos, tem grande apelo e comoção. Por causa disso, a Polícia Militar fez o
reforço da a segurança tanto interna quanto externa do Tribunal de Júri. Do
lado de fora, um grande efetivo deve estar presente para acompanhar possíveis
manifestações e também orientar o trânsito, que deve ficar pesado ao longo do
julgamento.
O ex-deputado foi denunciado pelo
Ministério Público do Paraná (MP-PR) ainda em 2009 e, após uma série de
recursos apresentados pela defesa no Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), no
Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF), o
julgamento foi marcado. Pelo Ministério Público do Paraná, atuarão na acusação
os promotores de Justiça Marcelo Balzer Correia (autor da ação contra o
ex-deputado em 2009) e Paulo Markowicz de Lima.
Como é o
julgamento
O julgamento teve início após a definição
dos jurados. Entre um grupo de 25 pessoas previamente convocadas pela Justiça,
foram definidos, por sorteio, os sete que irão compor o Conselho de Sentença.
Em seguida, foram ouvidas as testemunhas: eram 12 no total, de acusação e de
defesa, mas com os pedidos indeferidos e ausências, ficaram apenas seis.
Na sequência, foi realizado interrogatório com o réu. Nesta quarta, acontecerá
o debate entre acusação e defesa – momento em que as partes sustentam
suas teses sobre o ocorrido para os jurados, os quais se reúnem após as falas
para proferir a decisão do Conselho de Sentença. Por fim, o juiz proclama a
sentença, que é lida em plenário diante do réu e de todos os presentes. A
previsão é que o julgamento termine nesta quarta.
Fonte: Bem Paraná