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Moreira Mariz |
No lançamento paulista da Frente Parlamentar Mista em Defesa
da Soberania Nacional, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) diz que a questão
não é "fora Temer", porque "o inimigo é o capital
financeiro" e defende a criação de uma frente pró-Lula; parlamentares e
movimentos sociais querem a revogação de medidas do atual governo
Vitor Nuzzi, Rede Brasil Atual - No lançamento paulista da Frente Parlamentar Mista em
Defesa da Soberania Nacional, movimentos sociais e políticos, basicamente do PT
e do PMDB não alinhados a Michel Temer, defenderam unidade com vistas a 2018 e
atos de revogação das medidas do atual governo. Último a falar, na noite de
ontem (23), o senador Roberto Requião (PMDB-PR), afirmou que é preciso
"somar", chamou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de
"candidato maravilhoso", mas falou que ele precisa de uma
"frente aberta", no sentido partidário, para não caminhar, por
exemplo, para a radicalização.
A questão, para
ele, não é o "fora, Temer", como alguns defendem. "O Temer é um
peão de terceira categoria nessa história. O inimigo é o capital
financeiro", afirmou, no encerramento do ato, na Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo (USP), no Largo São Francisco, região central da
capital paulista. É o quinto estado que recebe o lançamento da frente, formada,
segundo seus líderes, por mais de 200 parlamentares.
Faziam
parte da mesa vários parlamentares petistas, como os deputados Carlos Zarattini
(SP), líder do partido na Câmara, Nilto Tatto (SP), Paulo Teixeira (SP) e
Patrus Ananias (MG), além do presidente da legenda em São Paulo, Luiz Marinho,
e o líder na Câmara paulistana, Antonio Donato. Pelo PMDB, além de Requião, o
deputado Celso Pansera (RJ). E representantes de diversos movimentos, como a
presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Marianna Dias, o coordenador
do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, e o líder da
Central de Movimentos Populares (CMP) Raimundo Bonfim, além do escritor Raduan
Nassar, entre outros.
Para
Pansera, ministro de Ciência e Tecnologia no segundo governo Dilma Rousseff,
2018 será um ano "paradigmático", com o país ameaçado de perder
"janelas de oportunidades" no setor. "A inovação e a ciência
agregam valores aos produtos. O Brasil, que teve um avanço muito grande de 2003
a 2014, nos últimos anos tem sofrido um ataque muito duro na área",
afirmou.
Elite apátrida
Outro
ex-ministro, Patrus Ananias criticou a Lei 13.467, de "reforma" da
legislação trabalhista, que segundo ele desvirtua o ordenamento jurídico.
Chamou a atenção para a ameaça de privatização do Banco do Brasil, o que
terminaria por acabar com "linhas decentes de apoio à agricultura
familiar", e da Caixa Econômica Federal, prejudicando famílias de baixa
renda. E também identificou ameaças à integridade do território nacional:
segundo Patrus, estão "esperando o momento de dar o bote" para
permitir uma venda ilimitada de terras a estrangeiros.
"A
soberania nacional está vinculada à soberania popular", afirmou o
deputado, criticando "uma parcela poderosa da burguesia brasileira
dissociada do projeto nacional, uma elite apátrida desde os tempos da colônia,
que nunca aceitou nossas origens africanas, nossas origens indígenas".
Patrus iniciou sua fala com uma saudação a Raduan, considerando Lavoura
Arcaica "a mais importante obra literária publicada no
Brasil desde 56, quando Guimarães Rosa publicou Grande Sertão: Veredas".
O autor
amazonense falou apenas uma frase, mas foi o único a ser aplaudido de pé pelo
auditório, ao defender "resistência, resistência e resistência".
Depois dele, Requião fechou o evento, que durou três horas, chamando Temer de
"fantoche", "figura absolutamente insignificante" diante do
processo histórico e econômico em curso no Brasil e no mundo, que faz, segundo
afirmou, o país caminhar no sentido contrário ao do crescimento.
Um
processo composto, de acordo com a visão do senador, pelo tripé
"precarização do Estado", com poder dado ao capital,
"precarização do parlamento", com privatização de campanhas
eleitorais, e "precarização do trabalho", com a prevalência do
negociado sobre o legislado e o fim da previdência pública. "Aí temos de
deixar bem claro a importância do Bradesco e do Itaú no financiamento do golpe.
Não é neo, é o velho e safado liberalismo econômico, uma espécie de zumbi
transformado em modelo econômico. Não tem a menor chance de ser modelo de
desenvolvimento para o nosso país."
Necessidade de revolta
Representante
da Marcha Mundial das Mulheres, Sarah de Roure apontou as tentativas de
controle pelo poder financeiro. "Controlar nosso trabalho, nosso tempo,
nossos recursos naturais, nossos corpos está na agenda do capital."
Para a
presidenta da UNE, é preciso "se revoltar" e fazer com que a
população tenha esse sentimento. "Não podemos dormir em paz sabendo que
nosso país está sendo vendido. Se perdemos a universidade pública, a Petrobras,
mesmo com um governo progressista teremos dificuldade de retomar", disse
Marianna.
Boulos
afirmou que o país vive um "momento de regressão democrática", com
novas etapas de "fechamento", como a "infame" reforma
trabalhista. Não fosse uma República "esculhambada", disse o líder
sem-teto, muitos do governo estariam presos por crime de lesa-pátria.
"Eles
enganaram o povo brasileiro", acrescentou Zarattini. "A Rede Globo
mobilizou milhares de pessoas, que foram para as ruas de camisa amarela, para
ver a entrega das riquezas brasileiras e a perda de direitos."
Unidade na resistência
"Quem
manda no Brasil hoje são os bancos, e aqueles que estão no Planalto são títeres
do bancos", disse na sequência o deputado Paulo Teixeira. "Fizeram
uma lei de leniência para os bancos e expõem as indústrias brasileiras para
morrer." Ele fez também referência à Medida Provisória (MP) 795, sobre
tributação da exploração de petróleo e gás: "Estão acabando com o conteúdo
nacional". Falando em "pacote anti-povo", o deputado defendeu a
necessidade de um referendo revogatório de todas as medidas do governo Temer.
Donato
pediu unidade. "Eles estão unificados na pauta deles. Também temos de
estar unificados na nossa pauta de resistência." O presidente estadual do
PT reforçou, ao falar sobre a "construção de um processo de unidade no
campo popular" e pedindo mobilização. "Sabemos que somos minoria no
Congresso, portanto a necessidade das ruas, de um levante popular. Precisamos
criar condições para que o próximo Congresso não seja tão covarde e entreguista
quanto o atual", disse Marinho, também falando em "ato revogatório"
de medidas adotadas pelo atual governo.
Ex-ministro
da Previdência (governo Lula), ele afirmou que o problema do setor não é falta
de dinheiro, mas a corrupção e a sonegação das grandes corporações. "O
problema é a tentativa de ludibriar o ovo brasileiro para comprar plano privado
de pensão."
Presidente
da frente parlamentar, que chegará a outros estados nos próximos dias, Requião
vê um momento de "pasmaceira" no país, mas acredita que a tendência é
de reação. "A realidade vai acabar entrando não pela tela da televisão,
mas pela porta e pela janela do trabalhador. É o que vai mobilizar este país.
Estamos tentando construir uma proposta com base em informação."