(Foto: Divulgação/PF-PA) |
Os
principais alvos da operação Anhangá Arara, da Polícia Federal (PF)
são paranaenses. A operação, que investiga um esquema de desmatamento na
Amazônia no Pará e apura um prejuízo ambiental de quase um bilhão de reais, foi
desencadeada na quarta-feira (4) em três estados.
O
madeireiro paranaense de União da Vitória Nelson da Silva, patriarca da família
investigada, seria o líder do esquema.
Na
Região Sul, os mandados expedidos pela Justiça Federal de Altamira, no Pará,
foram cumpridos em residências dos investigados, em Curitiba e União da
Vitória, cidade de origem da família no Paraná, além de Porto União, em Santa
Catarina.
As
atividades da Madeireira Silva & Suski deram origem à investigação. A
empresa está em nome do filho de Nelson, o engenheiro florestal Daniel Antonio
da Silva.
A Tropicalmad Indústria
de Madeiras, com sede em União da Vitória, em nome da ex-esposa de Nelson,
seria responsável pela exportação. Uma empresa chamada Nelson da Silva
Indústria, era intermediária. A Madeireira Silva & Suski e
a Nelson da Silva Indústria foram fechadas pela Justiça.
De
acordo com a PF, madeiras nobres na Terra Indígena Cachoeira Seca, no oeste do
Pará, eram extraídas de maneira ilegal pelas madeireiras investigadas e depois
eram exportadas.
O
escoamento era feito pelos portos de Paranaguá, no Paraná, Itajaí, em Santa
Catarina, e de Belém, no Pará, depois que a carga passava por uma rota de
fachada para dar impressão de legalidade.
A investigação
aponta que grupo fraudava créditos florestais por meio de inserção de
dados falsos no Sisflora – um sistema de controle de produtos florestais, além
de utilizar Planos de Manejo Florestal que não eram cumpridos.
Um dos
levados a depor na operação da PF é funcionário da Secretaria de Meio Ambiente
do Pará. Ele é suspeito de fraudar guias florestais para legalizar a madeira.
O
delegado responsável pela operação, Yuri Rodrigo de Oliveira, afirma que a
empresa usada para a exportação tem sede no Paraná.
“O
patriarca da família é responsável pela coordenação da extração ilegal e pelo
escoamento da madeira para essas três empresas”, explica o delegado responsável
pela operação, Yuri Rodrigo de Oliveira.
“A
empresa base, a Silva & Suski, era responsável por receber toda madeira
extraída e legalizar essa madeira aqui. Após a legalização, através da inserção
de dados falsos no Sisflora, e através de fraude em créditos florestais, dava
um teor legal à madeira, transmita a uma empresa intermediária – Nelson da
Silva Indústria – e depois transmitia, já com teor legal, para a empresa
Tropicalmad que era responsável pela exportação. Um esquema criminoso altamente
arquitetado. Não são amadores”, afirma o delegado.
Além de
Nelson, que seria o líder do esquema, foram ouvidos após condução
coercitiva os funcionários dele, Carlos Esteves, e Egon Behrens.
Desmatamento
A
investigação da madeireira Silva e Suski teve origem em uma fiscalização
do Ibama, em 2015. O instituto confiscou maquinário da madeireira dentro da
reserva Cachoeira Seca. A empresa acumula quatro multas no Instituto, num total
de R$ 611 mil.
Com o
relatório do Ibama, a PF passou a investigar a operação. O delegado afirma que
mesmo com a ação do Ibama, a empresa não parou de desmatar.
O principal alvo
dos madeireiros é o ipê, uma madeira de alto valor comercial e facilmente
identificada na floresta pela cor das flores.
(Foto: Divulgação/ISA) |
O lucro
com o ipê compensaria a abertura de centenas de quilômetros de estradas.
Levantamento do Instituto Socioambiental mostra que a exploração ilegal de
madeira foi responsável por abrir 892 quilômetros de vias clandestinas dentro
da Cachoeira Seca ao longo dos últimos cinco anos.
O
método de desmatamento consiste em abrir estradas e ir até as árvores, sem que
grandes clareiras fiquem expostas ao registro de satélites e aeronaves.
“Após a
fraude em créditos florestais mediante a inserção de dados falsos no sistema
Sisflora, após o esquentamento da madeira, o grupo escoava a madeira para
outras empresas, com destino final na exportação”, completa. Segundo ele, a
madeira era vendida para países como Estados Unidos, Panamá, Argentina e países
da Europa e Ásia.
Cachoeira Seca
O nome
da operação, Anhangá Arara, significa proteção à morada dos
índios. Habitada por um grupo indígena da etnia Arara, que se manteve isolado
até 1987, Cachoeira Seca é a terra indígena do país com a maior taxa de desmatamento
recente.
Somente
no ano passado, foram desmatados 1.315 hectares, segundo Instituto
Socioambiental. Não há um levantamento para estimar a área desmatada pelo grupo
investigado na Operação Anhangá Arara.
Justiça Federal
O processo está em sigilo. A
juíza federal Maria Carolina Valente do Carmo, da Vara Federal de Altamira,
também determinou o bloqueio de bens dos investigados. Os valores não foram
informados.
Uma
perícia da Polícia Federal estima o dano ambiental em um valor aproximado de
574 milhões de reais, referentes a extração ilegal de madeira e mais 322
milhões em produtos florestais extraídos ou destruídos na abertura das áreas
classificadas como ‘corte raso’.
No
total, a Justiça Federal do Paraná expediu dez mandados de condução coercitiva
– quando a pessoa é encaminhada para depor por força policial -, seis mandados
de busca e apreensão e 11 de sequestro de bens e valores.
Defesa
A
reportagem entrou em contato com o filho de Nelson da Silva, que não quis se
pronunciar.
O
advogado Maurício Dieter, que representa a família, afirmou que o inquérito
está finalizado e que vai se manifestar em juízo, no devido processo legal.
Fonte: paranaportal.uol