Um dos principais pilares do golpe de 2016, que derrubou a
presidente honesta Dilma Rousseff e instalou no poder Michel Temer, o primeiro
ocupante da presidência denunciado por corrupção na história do Brasil, o
Globo, de João Roberto Marinho, voltou a pedir a queda de seu ex-aliado e fez
uma crítica à seletividade do Poder Judiciário, que usa critérios diferenciados
para o ex-presidente Lula; "Ora, o que o Ministério Público Federal
entende sobre o comportamento do ex-presidente Lula nas relações promíscuas com
empreiteiras precisa valer para todos. Não pode existir uma metodologia de
interpretação de fatos entre procuradores e juízes que só valham para o PT.
Inconcebível é fazer de conta que nada houve de pelo menos estranho no
relacionamento entre Temer, JBS, Joesley, Loures e outros"
247 – Um dos principais pilares do
golpe de 2016, que derrubou a presidente honesta Dilma Rousseff e instalou no
poder Michel Temer, o primeiro ocupante da presidência denunciado por corrupção
na história do Brasil, o Globo voltou a pedir a queda de seu ex-aliado e fez
uma crítica à seletividade do Poder Judiciário, que usa critérios diferenciados
para o ex-presidente Lula.
"Ora,
o que o Ministério Público Federal entende sobre o comportamento do
ex-presidente Lula nas relações promíscuas com empreiteiras precisa valer para
todos. Não pode existir uma metodologia de interpretação de fatos entre procuradores
e juízes que só valham para o PT. Evidências e indícios são provas válidas para
que se abram processos. Isso tem acontecido com vários políticos, Lula um
deles. Inconcebível é fazer de conta que nada houve de pelo menos estranho no
relacionamento entre Temer, JBS, Joesley, Loures e outros", diz o texto.
Leia, abaixo, a íntegra do editorial do Globo:
Aprovar processo contra Temer é
a melhor alternativa
Reformas corretas de Temer não
justificam que ele fique imune a investigações e a processos
Depois de quase um ano, o país
volta a acompanhar uma votação no Congresso para decidir o destino do
presidente da República. No caso de Dilma Rousseff, o processo de impeachment,
por crime de responsabilidade, por desmandos fiscais, foi encerrado em 16 de
agosto, no Senado, com o impedimento da presidente petista. Hoje, seu então
vice, Michel Temer, enfrenta outro tipo de escrutínio: um pedido da
Procuradoria-Geral da República para que a Casa permita ao Supremo Tribunal
deliberar sobre se o processa, como deseja a PGR, por corrupção passiva.
Duas decisões sobre o futuro de
um presidente em tão pouco tempo, longe de diagnosticarem alguma avaria grave
nas instituições, atestam, ao contrário, o saudável funcionamento delas. Têm
resistido, inclusive, a propostas heterodoxas, contra a Constituição, como a
antecipação das eleições de 2018, enquanto sinalizam que as únicas saídas para
a crise são as estabelecidas na Carta — a Câmara nega o pedido da PGR, ou o
aceita; neste caso, fica-se à espera de os 11 ministros do Supremo abrirem ou
não processo contra Temer.
Caso abram, o presidente será
afastado por até 180 dias, assumindo Rodrigo Maia, presidente da Câmara. Se for
condenado, perde o cargo, e Maia convoca eleição indireta para 30 dias depois.
Absolvido ou caso nada aconteça em seis meses, Michel Temer volta ao Planalto.
Não há o que discutir.
Também não existe dúvida sobre
qual o melhor voto a ser dado na sessão que decidirá o destino do pedido da
PGR: é permitir que o Supremo julgue Michel Temer. Talvez sequer ocorra esta
sessão. Pode ser que pelo fato de o Planalto, por não ter força, assim como a
oposição, para garantir o quórum mínimo de 342 deputados e votar o relatório em
favor de Temer, do deputado tucano Paulo Abi-Ackel (MG), fique tudo pendente, e
o governo assuma o discurso de que vale este relatório.
Assim, tudo continuará como
está. Instável, inseguro, até outubro de 2018, mês da eleição. Pode-se, ainda,
aguardar nova acusação da PGR, por outros crimes — obstrução da Justiça ou
participação em organização criminosa. Nessa hipótese, repete-se o rito.
Hoje ou quando for a votação, e
mesmo que ela não ocorra, estão em confronto, nas acusações a Michel Temer e na
sua defesa, duas concepções do que é exercitar a política com ética. Numa, tudo
pode ser relevado, se o governo tem propósitos corretos na economia, por
exemplo. Na outra, valem a lei e a ética, independentemente de ideologias e
partidos.
O vice-presidente recebeu de
fato uma herança maldita, devido à decisão de Dilma, sob as bênçãos de Lula e
PT, de aproveitar a crise mundial deflagrada em 2008/9 para aprofundar o “novo
marco macroeconômico”, no velho modelo nacional-populista de intervenção do
Estado na economia, inspirado nos pensamentos fracassados da esquerda
latino-americana do pós-guerra. Sabe-se o que aconteceu: recessão profunda,
histórica, 14 milhões de desempregados e inflação. Os juros precisaram ficar em
patamar ainda mais elevados, o que, em um primeiro momento, agrava a recessão,
um efeito colateral inevitável. Mas, com o passar do tempo, o ajuste avançou,
embora tenha estancado com a crise política deflagrada pela conversa nada
republicana do presidente com o empresário Joesley Batista, origem do pedido de
investigação da PGR, divulgado pelo GLOBO.
Temer assumiu com uma
competente equipe econômica e estruturou uma correta agenda de reformas, em que
se destacam as da Previdência e a trabalhista. Em função disso, defende-se a
permanência dele no Planalto, e faz-se vista grossa ao que aconteceu naquela
noite de março nos porões do Palácio do Jaburu, em que o presidente recebeu o
empresário do grupo JBS, Joesley Batista, este com um gravador no bolso.
Repete-se o truque do PT, de
justificar a participação de estrelas do partido na roubalheira do mensalão e
petrolão pela causa do combate à pobreza. É um erro: nada pode atenuar o crime
de corrupção ou qualquer outro. Ter este comportamento é praticar a política
miúda. Significa não aproveitar o momento histórico do enfrentamento que
organismos de Estado fazem dos desvios do dinheiro do contribuinte no âmbito do
Executivo e Legislativo, para que, enfim, se dê um choque forte de ética na
política e seja estabelecido para valer o princípio republicano de que a lei
vale de fato para todos.
Confirmada a autenticidade do
áudio por peritos da Polícia Federal, resta entender o sentido claro do
entrecortado diálogo entre Temer e Joesley, e complementá-lo com o vídeo de
Rodrigo Loures — que agendara aquela visita de Joesley ao presidente —,
correndo em uma rua de São Paulo com uma maleta em que estavam R$ 500 mil. Era
propina acertada pelo empresário com o deputado suplente do PMDB paranaense,
que Temer indicara a Joesley para resolver “tudo”, inclusive uma pendência com
a Petrobras no Cade, em torno do preço do gás fornecido pela estatal a uma
termelétrica do JBS. Os R$ 500 mil eram uma parcela pelo serviço prestado pelo
representante de Temer, acusa a PGR. O conjunto desta obra é complementado por
depoimentos do empresário e de um diretor da JBS que participou dos acertos com
Loures, Ricardo Saud.
Ora, o que o Ministério Público
Federal entende sobre o comportamento do ex-presidente Lula nas relações
promíscuas com empreiteiras precisa valer para todos. Não pode existir uma
metodologia de interpretação de fatos entre procuradores e juízes que só valham
para o PT. Evidências e indícios são provas válidas para que se abram
processos. Isso tem acontecido com vários políticos, Lula um deles.
Inconcebível é fazer de conta que nada houve de pelo menos estranho no
relacionamento entre Temer, JBS, Joesley, Loures e outros.
Lula está para a OAS no caso do
tríplex do Guarujá como Michel Temer para a JBS no assunto do gás da termelétrica.
Sem falar na triangulação com Joesley, Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, um
relacionamento também suspeito, mas ainda na dependência de delações e
investigações. Assim como as instituições prestam conta à sociedade no
desmantelamento do petrolão, em que se lambuzaram PT, PMDB e PP, a nação
precisa ter inúmeras dúvidas respondidas sobre a atuação do presidente Michel
Temer nesses meandros dos subterrâneos das finanças ocultas da política. Também
por isso, ele precisa ser processado. E nisso as próprias reformas serão
ajudadas. Um presidente fraco, sob suspeição, é que não conseguirá tocá-las.