A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ)
rejeitou - por 40 a 25 votos e uma abstenção - o relatório do deputado Sergio
Zveiter (PMDB-RJ) que recomendava a autorização da Câmara dos Deputados para
que o Supremo Tribunal Federal investigue a denúncia de corrupção passiva
contra Michel Temer; no plenário, porém, não será possível realizar manobras
com trocas de deputados; pesquisa divulgada hoje revela que 75% dos brasileiros
não pretendem votar em deputados que se aliarem a Temer
Paulo Victor Chagas - Repórter da Agência Brasil*
A Comissão de
Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara rejeitou o parecer que pedia
a admissibilidade da denúncia contra o presidente Michel Temer. Por 40 votos a
25, os membros do colegiado derrubaram o relatório de Sérgio Zveiter (PMDB-RJ),
que autorizava o prosseguimento da acusação pelo crime de corrupção passiva
perante o Supremo Tribunal Federal (STF). Foi registrada uma abstenção.
A
denúncia foi elaborada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e encaminhada
pelo STF à Câmara, a qual cabe autorizar ou não se o presidente pode ser
investigado pela Corte. A primeira etapa da análise é feita pela CCJ, que agora
deve designar um novo relator que faça um parecer com mérito divergente em
relação ao de Zveiter.
Desde o
início da tramitação do processo, 11 deputados já apresentaram votos em
separado, dos quais seis são contrários à aceitação da denúncia. Por isso, o
presidente da comissão, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), pode designar um dos autores
desses pareceres ou escolher um novo relator para acolher a posição majoritária
dos deputados contra a admissibilidade da denúncia.
Entre
os 18 partidos que tem representação na CCJ, nove encaminharam voto favorável à
denúncia: PT, PODEMOS, PSB, PDT, PCdoB, PPS, PHS, PSOL e Rede. A liderança da
minoria também orientou a bancada em favor da denúncia.
Os sete
partidos contrários à autorização de prosseguimento da denúncia foram: PMDB,
PP, PR, PSD, PTB, SD, e PSC, acompanhados da orientação das lideranças da
maioria e do governo. O PSDB e o PV liberaram a bancada para que os deputados
votassem independentemente das orientações das bancadas.
Independente
da decisão da CCJ, o parecer que for aprovado pelo colegiado deve ser ainda
analisado pelo plenário da Câmara. Uma vez no plenário, a denúncia precisa ter
o apoio de pelo menos 342 votos para ter prosseguimento na Justiça ou para ser
interrompida.
Ainda
durante a fase de debates, deputados da oposição já esperavam a derrota e
lamentaram o que consideram como "resultado artificial", em
referência às trocas de membros da CCJ que foram feitas pela base governista.
Desde que a semana em que a denúncia chegou à Câmara, 25 dos 66 integrantes da
comissão foram substituídos.
O
relator Zveiter também se manifestou previamente de forma crítica sobre o
resultado negativo. Os governistas comemoram e consideram que a decisão de não
aceitar a denúncia, que ainda deve ser referendada pelo plenário, pode trazer
estabilidade ao país.
Votação
A
expectativa para o resultado era tão grande no plenário que os parlamentares
chegaram a ficar de pé, impedindo a visualização do painel de votos. Logo após
o anúncio pelo presidente do colegiado, deputados oposicionistas protestaram
contra a rejeição do relatório, criticando o que classificaram de "vitória
de Pirro".
Pouco
antes da votação, o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) encaminhava o voto de
sua bancada, quando reclamou da intervenção do deputado Major Olímpio (SD-SP),
o que gerou bate-boca entre os parlamentares e um princípio de confusão.
Deputados atuaram para acalmar os ânimos e o presidente da comissão, Rodrigo
Pacheco, teve que solicitar calma ao plenário e conceder mais tempo a Olímpio
para dar seguimento à fala dos líderes.
Apesar
de ocorrer em uma quinta-feira à tarde, período geralmente pouco movimentado no
Congresso, a votação se deu sob grande expectativa das lideranças. A segurança
dos corredores de acesso ao plenário da CCJ foi reforçada. Mais cedo, um grupo
de manifestantes invadiu o plenário gritando palavras de ordem contra o
presidente Michel Temer.
Após o
protesto, a segurança foi reforçada na entrada da CCJ. Mesmo com as restrições,
o plenário ficou lotado, com vários parlamentares em pé. Durante a apresentação
dos encaminhamentos dos votos, os líderes das bancadas repetiram os argumentos
de defesa ou crítica ao parecer pela admissibilidade apresentados nas mais de
20 horas de debate da CCJ.