Há pouco mais de
um ano, a presidenta Dilma foi afastada temporariamente do cargo e logo depois,
definitivamente, pelo impeachment. Os motivos, todos sabemos muito bem, eram
completamente sem fundamento. O Tribunal de Contas da União inventou a história
das “pedaladas”, que associadas às denúncias de corrupção contra o PT criaram o
caldo para afastar a presidenta.
A
verdade é que se formou uma coalizão entre os derrotados nas eleições de 2014 e
parte dos então aliados do governo. Aécio Neves e Michel Temer à frente. Na
retaguarda, quase todos os setores empresariais de peso. Tudo isso com o
suporte da grande mídia, que queria tirar o PT do poder sem aguardar a próxima
eleição para tentar novamente.
A
situação que vivemos hoje, de instabilidade política, jurídica e institucional,
além da grave crise econômica, é resultado do método golpista utilizado para
tirar Dilma e o PT do poder.
Michel
Temer, que surfou a onda do golpe, hoje enfrenta denúncia por corrupção. É o
primeiro presidente a ser denunciado no exercício do cargo. O homem que há um
ano era apresentado na mídia como o pacificador que colocaria o Brasil nos
trilhos mostra-se extremamente agressivo para manter-se no cargo.
Os
mesmos parlamentares que votaram festivamente pelo afastamento de Dilma na
Câmara dos Deputados irão votar agora se autorizam ou não a abertura de
processo contra Temer. Será uma prova de coerência.
Acredito
que Temer tem de sair do governo. Se tivesse um mínimo de dignidade renunciaria
e convocaria eleições, antecipando o pleito de 2018, como sugeriu o presidente
Lula. Acho pouco provável que o faça.
Aliás,
vivemos uma instabilidade judicial muito grande. A constitucionalidade e
legalidade da decisão que reintegrou Aécio Neves ao Senado foram negadas a
outros processados pela Lava Jato. Principalmente aqueles ligados ao Partido
dos Trabalhadores.
Temer,
entretanto, parece mais interessado em atacar, como fez com o Procurador-Geral
da República, do que em se defender. E usar expedientes escusos para manter-se
a qualquer custo no poder, mesmo com míseros 7% de aprovação e mais de 80%
defendendo sua saída.
Temos
ouvido falar em manter o Imposto Sindical em troca de votos de setores ligados
a determinadas centrais sindicais, demissões e nomeações na máquina pública
para garantir apoios e ameaças veladas de retaliação contra os que vacilarem no
apoio.
Enquanto
isso, as finanças do governo afundam. Depois de ter o maior déficit em 20 anos,
no mês de maio, anunciaram (ou desanunciaram) que não haverá reajuste para o
Bolsa-Família, embora até pouco tempo atrás garantissem que o orçamento para
isso já estava assegurado. A Polícia Federal parou a emissão de passaportes por
falta de orçamento. Aí o governo manda um projeto tirando recursos da Educação
para resolver o problema dos passaportes. Mas não deixa de aumentar verbas para
a publicidade e propaganda.
Mesmo
resistindo agora, ele enfrentará pelo menos mais duas denúncias. Acho pouco
provável que resista a todas! É apenas o começo. Ele acabará afastado. O
problema é o mal que pode causar antes disso e, depois, o governo que se
instalará no Planalto, novamente sem voto, sem legitimidade, comprometido até a
medula com os interesses neoliberais.
Essa
gente, que tem compromisso apenas consigo mesma, está usando a estratégia de
tomar o Brasil como refém para tentar escapar e resolver seus problemas! Não
podemos deixar isso acontecer!
Gleisi Hoffmann: Senadora e presidente Nacional do
Partido dos Trabalhadores