A condenação de Luís Inácio Lula da Silva pelo juiz
Sérgio Moro é uma possibilidade cada vez mais presente, ainda mais diante do
comportamento parcial e antijurídico do magistrado e dos procuradores da Lava-Jato
em seu interrogatório no dia 10 de maio. Essa é a primeira das impressões
deixadas pela audiência, além daquela que revelou um Lula maior do que aquele
que entrou na sala para ser interrogado.
Porém, ao terminar o evento maior dos últimos
tempos em Curitiba – e não me refiro ao interrogatório em si, mas à grande
concentração pacífica de povo que se reuniu na capital paranaense, mesmo diante
de uma proibição arbitrária de uma juíza que, de tão covarde, retirou até seu
perfil do Facebook –, restou uma certeza: preservadas as regras do jogo
democrático e caso não venha o arbítrio de novo em nossas vidas, Lula será
eleito presidente da República em 2018 com muita folga sobre seus principais
adversários da direita.
De nada adianta o esquema de divulgação seletiva de
partes do interrogatório pela Rede Globo. A população brasileira já tem acesso
ao vídeo completo no YouTube.
De nada adianta espernearem os fascistas do MBL, do
Revoltados On-Line, do Vem Pra Rua e curriolas afins. Aquela febre antipetista
que começou em 2013 e culminou com o golpe contra a presidente Dilma Rousseff
não existe mais. Em Curitiba, foram pouco mais de uma dezena de gatos pingados
apoiar Moro, enquanto cerca de 50 mil foram apoiar Lula. É o mesmo que comparar
uma formiga a um elefante.
De nada adianta notas como a do PSTU – partido de
extrema-esquerda, em tese, mas que se converte, cada vez mais, em linha
auxiliar da direita mais reacionária. Seu presidente, José Maria de Almeida,
por mais que tente, jamais terá um milésimo do brilho de Lula. Não é capaz,
sequer, de lamber seu dedo do pé – por isso que seu partideco é o que sempre
será, inexpressivo.
De nada adianta o purismo hipócrita do PSDB, DEM e
partidos de centro-direita que formam o "baixo clero" do Congresso –
apinhados de verdadeiros corruptos com provas, mas soltos, apesar disso.
De nada adianta juízes arbitrários mandarem fechar
o Instituto Lula – ou um sindicato, ou um partido político – e retirarem o
direito de se manifestar livremente nas ruas de Curitiba ou de qualquer cidade
do país.
De nada adianta, por fim, emergir uma sentença
condenatória do tribunal de exceção da Lava-Jato – cujos métodos draconianos e
anticonstitucionais foram referendados pelo Tribunal Regional Federal da 4ª
Região (TRF-4). Justamente por ser um tribunal de exceção, integrante de um
Poder Judiciário cada vez mais carcomido por interesses obscuros – cuja
representante máxima, a presidente do STF Carmen Lúcia, anda se reunindo às
escondidas com grandes empresários, inclusive das Organizações Globo –, uma
sentença contra Lula sem provas não será suficiente para lhe retirar a
popularidade, tão imensa que rompe as fronteiras do Brasil.
Quer você, amigo leitor, goste do Lula, quer você o
odeie, quer lhe seja indiferente, não se pode deixar de reconhecer duas coisas:
a) A defesa idolatrada da Lava-Jato não cabe mais
ser admitida em alguém com mente sã – apenas a quem é dotado de absoluta má-fé.
O ex-presidente não possui contra si uma prova incontestável que ampare
qualquer condenação penal, e isso já é suficiente para que seu discurso de
vítima de perseguição ganhe cada vez mais adeptos Brasil afora – petistas e não
petistas, diga-se, inclusive pessoas que não estariam dispostas a votar em Lula
em 2018, mas querem vê-lo concorrer como qualquer outro cidadão livre, sem ser
condenado injustamente.
b) Você pode ser o mais ardoroso defensor da
Lava-Jato e odiar o PT acima de qualquer coisa, mas deve reconhecer – sob pena,
também, de má-fé – que Lula é a maior personalidade política do Brasil desde
Getúlio Vargas. Basta que ele apareça para que brotem os mais extremos
sentimentos de amor – em alguns casos, idolatria – e de repulsa – em alguns
casos, ódio. Uma personalidade que é capaz de despertar amor e ódio em escalas
colossais, independentemente do juízo de valor que se tenha de Lula, é a
demonstração de seu gigantismo. Nem Sérgio Moro, tampouco os despreparados
procuradores da Lava-Jato, jamais chegarão aos pés de Lula em termos de
grandeza de alcance de influência entre as pessoas. Quer o critiquem, quer o
elogiem, Lula é o nome mais falado do país desde que deixou a Presidência da
República com mais de 80% de popularidade, algo jamais atingido por qualquer
outro antecessor ou sucessor.
Por essas e outras, repito: se não houver arbítrio
que cancele as eleições de 2018, prisão injusta, inabilitação política açodada
ou qualquer outro evento alheio às condições normais do jogo democrático
previstas na lei, animem-se, petistas, e conformem-se, antipetistas: Lula
voltará ao Palácio do Planalto nos braços do povo, como Vargas em 1950.
Só espero, sinceramente, que, se isso acontecer – e
é meu desejo, digo logo –, não tenhamos mais golpes e tragédias na nossa
política. Tudo o que precisamos é de alguém com o tamanho de Lula para
voltarmos a sonhar grande como brasileiros.
Do jornalista e escritor Paulinho Oliveira no
Brasil 247