O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus advogados
deixaram a capital paranaense com a certeza da vitória – se não jurídica, ao
menos política; "Ele saiu com a sensação de que fez o que tinha se
proposto a fazer. Pela alegria que senti, estava satisfeito com o que tinha
conseguido", disse à agência Reuters pessoa próxima ao ex-presidente;
outro dirigente petista que conversou com os advogados depois da audiência
conta que o clima era de euforia; "A avaliação deles é de que não poderia
ter sido melhor", contou; depois de cinco horas em que respondeu todas as
questões, Lula ainda fez alegações finais que entram para a história do País
247 – O ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e seus advogados deixaram a capital paranaense com a certeza da
vitória – se não jurídica, ao menos política.
Depois
de cinco horas em que respondeu todas as questões, Lula ainda fez alegações
finais que entram para a história do País (aqui).
Por Lisandra Paraguassu
CURITIBA (Reuters) - O ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva teve seu primeiro embate com o juiz federal Sérgio Moro,
responsável pelos processos da Lava Jato, em um depoimento no qual rebateu as
acusações e considerou ter feito o que pretendia fazer em Curitiba.
Foram
cinco horas de audiência no processo em que Lula é acusado de ter sido
favorecido por empreiteira na compra de um apartamento tríplex no Guarujá (SP)
e no transporte e armazenamento de presentes recebidos durante seu governo.
De
lá, animado, o ex-presidente foi ao encontro dos milhares de manifestantes que
o esperavam desde o início da tarde, em uma praça no centro de Curitiba.
"Se
não fossem vocês eu não suportaria o que eles estão fazendo comigo",
discursou Lula, ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff e de vários petistas de
alto escalão. "Minha relação com vocês é diferente das que os políticos
têm com seus eleitores, minha relação com vocês é uma relação de companheiros
de projeto de país."
Alternando
bom humor e alguns momentos emocionado, Lula disse que a história mostrará que
nunca alguém foi tão massacrado como ele e que se cometer erros quer ser
julgado pelo povo, não apenas pela Justiça.
"Se
um dia eu tiver que mentir pra vocês, prefiro que um ônibus me atropele em
qualquer rua deste país", disse, com a voz embargada.
Fontes
ligadas a Lula disseram que o ex-presidente terminou o dia satisfeito e com o
sentimento de ter cumprido sua missão.
"Ele
saiu com a sensação de que fez o que tinha se proposto a fazer. Pela alegria
que senti, estava satisfeito com o que tinha conseguido", disse uma das
fontes.
Outro
petista que conversou com os advogados depois da audiência conta que o clima
era de "euforia". "A avaliação deles é de que não poderia ter
sido melhor", contou.
Antes
mesmo de chegar ao Fórum, o ex-presidente fez questão de parar o carro e
cumprimentar manifestantes que o esperavam no caminho. Desceu, caminhou por
alguns metros, até sua passagem ficar impossível. Distribuiu beijos, tirou
fotos e pegou uma bandeira do Brasil para acenar.
Nos
prédios do entorno, houve uma tentativa de bater panelas, mas o som foi abafado
pelos gritos de "Lula, guerreiro do povo brasileiro" entoado pelos
manifestantes.
Os
vídeos do depoimento mostram Lula respondendo as perguntas, que em alguns
momentos se repetiam, de Moro e dos três procuradores que participaram da
audiência. Por vezes usou sua fala para protestar contra o tratamento dado a
ele no processo, pela mídia e também pelas perguntas que envolviam dona Marisa
Letícia, falecida no início deste ano.
As
primeiras três horas e meia do depoimento de Lula foram dedicadas a perguntas
do juiz Sérgio Moro. Depois, falaram os promotores e a defesa. Por último, Lula
usou os momentos finais para fazer suas considerações, em uma fala mais
emocional do que havia se deixado levar até ali.
"Primeiro
eu gostaria de dizer que eu estou sendo vítima da maior caçada jurídica que um
presidente e um político brasileiro já teve", começou o ex-presidente.
"Eu
acho que o objetivo é tentar massacrar esse cidadão, ele tem que pagar um preço
por existir, esse cidadão cometeu o erro de provar que esse país deu certo. É
imperdoável o processo de perseguição. Eu confesso ao senhor que esperava que
houvesse mais respeito por um homem que deu a esse país a dignidade que não
tinha há muito tempo", continuou.
Moro
reclamou que as considerações não eram para Lula fazer uma avaliação do seu
governo e nem programa político, mas o ex-presidente não deu atenção.
"Sou
um cidadão, estou subordinado à Justiça, à lei e à Constituição. Virei aqui sem
nenhum rancor todas as vezes que for necessário. Só espero que tenha um
respeito por esse país, pelo povo brasileiro e não contem nunca uma mentira a
esse respeito", disse o ex-presidente.
Ao
chegar em Curitiba, Lula foi recepcionado por cerca de cinquenta parlamentares
e petistas de alto escalão, entre eles Dilma Rousseff e os governadores do
Piauí, Wellington Dias, e do Acre, Tião Viana. De lá, foi para o escritório de
seus advogados na cidade.
A
princípio incógnito, ao sair o presidente teve que enfrentar o protesto de
cerca de 10 pessoas que, ao ver a movimentação da imprensa, descobriram sua
presença no local.
Ao
longo do dia, no entanto, a reação dos contrários a Lula na cidade foi pequena.
O protesto marcado para o museu Oscar Niemeyer reuniu menos de 100 pessoas. Ao
redor do Fórum, alguns apartamentos mostravam bandeiras verde amarelas nas
janelas, mas mesmo entre os moradores --autorizados a circular no perímetro
fechado pela polícia, poucos mostraram mais do que uma leve curiosidade com a
movimentação.
Já
na praça central, onde os apoiadores esperavam por Lula, o número de pessoas
era maior. De acordo com a Polícia Militar, 5 mil pessoas --já os organizadores
apontavam 10 vezes mais.
Lá,
o ex-presidente disse mais uma vez que será candidato em 2018.
"Estou
me preparando para voltar a ser candidato a presidente deste país, eu nunca
tive tanta vontade como eu tenho agora, vontade de fazer mais, vontade de fazer
melhor", afirmou.