Todos estão notando o espaço desproporcionalmente
maior dados aos ex-presidente Lula e Dilma no
noticiário do Jornal Nacional no âmbito das matérias sobre delações de
ex-funcionários e controladores da empreiteira Odebrecht. O caso de Lula,
porém, é escandaloso. Apesar de não haver nada que justifique, o tempo gasto
para acusá-lo é GIGANTESCO.
Leitores,
inclusive, estão vendo similaridade entre o que está acontecendo e matéria que
esta página publicou em fevereiro último, na qual foi relatado que haveria um
plano da Globo justamente para dar maior destaque a Lula e Dilma quando o
ministro Fachin liberasse as delações da Odebrecht.
— jn1
Difícil
dizer ser as informações passadas a esta página estão se materializando, mas um
fato é inegável: Lula e Dilma estão ganhando muito mais espaço do que os outros
delatados, apesar de, no caso de Dilma, pesar muito menos contra ela do que
contra qualquer outro, e, no caso de Lula, no máximo pesar contra si a mesma
coisa que pesa contra políticos do mesmo calibre.
Na verdade,
contra Lula pesa menos do que contra um Aécio Neves, um José Serra ou um Michel
Temer, como veremos adiante.
Como fazer
para dar mais destaque aos dois ex-presidentes petistas? Eis que, na locução de
William Bonner, a fórmula encontrada foi divulgada – até porque, a diferença de
destaque para Lula e Dilma vinha provocando cobranças e estranheza.
Diz Bonner:
“(…) Na
terça-feira, o JN anunciou um compromisso com você. Nos dias seguintes, nós
detalharíamos as denúncias dos [sic] políticos com maior destaque na vida
nacional pelos cargos que ocupam ou que ocuparam (…)”.
O critério é
falho, para dizer o mínimo. Explico: onde entra a GRAVIDADE das acusações? Um
político contra o qual pesa somente citação sem que o delator tenha afirmado
ter sido feito por esse político algum pedido direto de “vantagem indevida”
está na mesma situação que um político acusado de ser “chato” ao pedir propinas
reiteradamente?
Mas mesmo se
o critério alegado pelo JN fosse justo, Lula, o campeão de tempo de reportagens
do JN sobre si, não deveria ter maior destaque que Michel Temer, que é nada
mais, nada menos do que o PRESIDENTE DA REPÚBLICA em exercício do cargo.
Ainda assim,
o espaço dado a Lula e Dilma é desproporcional. Basta olhar a relação de reportagens do JN.
As matérias
do JN dos dias 12, 13 e 14 (sobre os políticos citados por delatores, conforme
consta na página do telejornal – link no parágrafo anterior), atribuem o
seguinte tempo de reportagem dedicado pelo telejornal a cada um.
Fernando Henrique
Cardoso – 2 minutos, 14 segundos – Foi citado nas delações da Odebrecht. O ministro
Edson Fachin decidiu enviar à Procuradoria da República em São Paulo as
citações sobre Fernando Henrique feitas pelo dono da Odebrecht. De acordo com o
Ministério Público, Emílio Odebrecht relatou o pagamento de dinheiro para
campanhas eleitorais do tucano via caixa 2, sem declaração à Justiça Eleitoral.
Geraldo Alckmin – 4
minutos, 44 segundos – Três executivos da
Odebrecht citaram o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, nas delações. Os
delatores do Grupo Odebrecht disseram que a empresa teria repassado ao então
candidato do PSDB ao governo de São Paulo, Geraldo Alckmin, a pretexto de
contribuição eleitoral, R$ 2 milhões em 2010 e R$ 8,3 milhões na eleição de
2014, dinheiro que não teria sido declarado na prestação de contas de campanha.
Os delatores dizem ainda que Adhemar César Ribeiro, cunhado de Alckmin, recebeu
pessoalmente esses valores.
José Serra – 4
minutos, 55 segundos – O senador é investigado por suspeita de
corrupção ativa, passiva, lavagem de dinheiro, fraude em licitações e formação
de cartel. Aos procuradores da República, sete delatores disseram que o esquema
de corrupção começou em 2007 quando José Serra era governador de São Paulo.
Segundo eles, as irregularidades foram na obra do trecho sul do Rodoanel, via
que liga as principais estradas que passam por São Paulo.
Michel Temer – 5
minutos, 28 segundos – Ex-executivos da Odebrecht
relataram um acordo entre o PMDB e a empresa para pagamento de propina ao
partido em troca do fechamento de um contrato com a Petrobras. O delator Márcio
Faria, ex-presidente da Odebrecht Engenharia Industrial, disse que além dele
participaram dessas negociações outro executivo da Odebrecht, Rogério Araújo, e
o lobista João Augusto Henriques, que era uma espécie de intermediário entre a
construtora e o partido. O contrato era de US$ 825 milhões. A propina, 5% desse
valor: US$ 40 milhões. Temer é acusado de estar presente a essas tratativas. De
saber delas.
Dilma Rousseff – 12
minutos, 28 segundos – A ex-presidente Dilma
Rousseff também foi citada por delatores da Odebrecht. O ex-diretor de Relações
Institucionais da Odebrecht Alexandrino Alencar disse que dinheiro do esquema
de corrupção abasteceu a campanha da ex-presidente de 2014. Segundo ele, o
tesoureiro da campanha, Edinho Silva, pediu dinheiro de caixa dois e o repasse
foi feito para o assessor Manoel Sobrinho.
Aécio Neves – 16
minutos, 27 segundos – O senador e presidente do
PSBD, Aécio Neves, aparece em cinco inquéritos no Supremo Tribunal Federal. Nas
planilhas de propina da empresa, Aécio, identificado como “Mineirinho”, é
acusado por esquema de fraude em processos licitatórios na construção da Cidade
Administrativa, sede do governo de Minas, também é investigado por ter pedido
dinheiro de caixa 2 para a campanha dele à Presidência em 2014 e doações eleitorais
da Odebrecht em 2009 e em 2010 para campanhas de aliados.
Lula – 30 minutos,
31 segundos – Foi citado pelos delatores da Odebrecht em
seis episódios. Os executivos contaram ao Ministério Público que a Odebrecht
pagava uma espécie de mesada a José da Silva, o Frei Chico, irmão do
ex-presidente Lula. Também foi relatado que Odebrecht teria pago despesas do
ex-presidente Lula. Eles falam em aquisição de imóveis para uso pessoal,
instalação do Instituto Lula e pagamentos de palestras. Citam ainda o pagamento
de reformas em um sítio em Atibaia/SP.
Como se vê,
não tem ninguém mais ou menos enrolado. Todos sofrem acusações graves. O que
poderia mudar, entre os supracitados, é o grau de relevância política. Mas nada
muda porque todos têm importância similar. Todos já foram candidatos a
presidente da República.
Na verdade,
aliás, Michel Temer, Geraldo Alckmin, José Serra e Aécio Neves deveriam ganhar
mais tempo porque estão no exercício de seus mandatos e, portanto, são mais
relevantes.
O tempo
destinado pelo JN para acusar Lula e Dilma não tem explicação aceitável. É
jogada política. Como avisava post que esta página publicou em fevereiro
último, a Globo está manipulando as delações da Odebrecht para prejudicar mais
Lula e Dilma. Está comprovada a denúncia que este blog fez dois meses atrás.
Por Eduardo Guimarães do Blog da Cidadania