O
executivo Fernando Reis afirmou em sua delação premiada que a Odebrecht
orientou em 2014 o então candidato a presidente Pastor Everaldo, do PSC, a
“ajudar” Aécio Neves nos debates.
O objetivo
era “dar mais visibilidade” ao tucano e atacar Dilma.
Reis
contou que a empreiteira repassou R$ 6 milhões para a campanha de
Everaldo, a quem disse ter sido apresentado por Eduardo Cunha.
A empresa
concluiu depois que a contribuição à campanha de Everaldo foi “muito grande
para quem tem muito pouco para dar”.
“A gente achou que ele
poderia ter uma grande quantidade de votos. Mas foi uma avaliação completamente
errada”, disse.
Relembre esse encontro de titãs:
William Bonner abriu o papel em que estava escrito
o tema a ser discutido. “Previdência”, é o que se lia.
O Pastor Everaldo, à frente do palco, convocou
Aécio Neves. “Meu querido senador”, ronronou, a voz melíflua.
Entrou a falar sobre o PAC. Bonner, como um bedel,
pediu que os dois se concentrassem no assunto determinado.
Everaldo deu um sorriso cínico, descarado, sabujo e
mandou bala: “O que o senhor tem a me dizer sobre a Previdência no Brasil?”
A dupla mais abjeta da televisão brasileira depois
de Danilo Gentili e Roger do Ultraje é formada por Aécio e Everaldo.
A sorte é que foi a última vez, na temporada, em
que ela aparece.
Desde os primeiros debates, os dois interpretam um
casal 20 de fundo de quintal em que o candidato do PSC se deixa subjugar pelo do
PSDB (Se você tem alguma dúvida, é bom que saiba: é tudo combinado nos
bastidores).
Everaldo, com pinta de vendedor de cinto de couro
de cobra, sua mania de declarar que inventou o Bolsa Família, a falta completa
de ideias e coragem, assumiu nos encontros a função de escada para o amigão.
Era mais ou menos previsível que procurasse algo ou
alguém para onde correr. Sua candidatura se transformou num traque. O restolho
de voto evangélico que tinha migrou para Marina Silva.
Não resistiu a 15 minutos de Jornal
Nacional. Silas Malafaia, que o apoiava quando não estava ocupado
detonando homossexuais, trocou-o por Marina.
Everaldo chegou a ser saudado como uma “grata
surpresa” por Rodrigo Constantino, o que deveria ter sido interpretado como um
sinal.
Uma esperança para a direita, no desespero da
direita em achar alguém assumidamente de direita. Revelou-se um conservador
meia boca — “estado mínimo!”, “estado mínimo!” — de fala mole.
Um nanico entre os nanicos. Luciana Genro e Eduardo
Jorge mostraram brilho próprio.
Levy Fidelix, em sua imensa, pantagruélica
estupidez, acabou ganhando muito mais visibilidade, embora por vias
transversas, defendendo também “a família segundo a Constituição”.
O pastor havia terminado um dos debates com uma
bênção evangélica.
Na Globo, pediu a bênção a seu padrinho Aécio
Neves, trocando afagos e beijando a mão do patrãozinho, que olhava o servo com
desdém enquanto lhe trepava nas costas para vender seu peixe.