DELTAN TEME QUE MORAES AJA PARA ESTANCAR SANGRIA
O
procurador da República Deltan Dallagnol usou o seu perfil no Facebook para
expressar o seu temor no fato de que a indicação do novo ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) acabe por fazer com que a Corte recue na decisão sobre a
prisão de réus após serem condenados em segunda instância, que foi aprovada no
ano passado.
Temer
deverá indicar ainda nesta segunda-feira (6) o atual ministro da Justiça,
Alexandre de Moraes, para a vaga do STF que era ocupada pelo ministro Teori
Zavascki, que faleceu no último dia 19 vítima de um acidente aéreo.
Segundo
Dallagnol, "o novo ministro pode inverter o placar", disse em
referência ao fato da decisão do STF aprovada no ano passado ter sido aprovada
por seis votos a cinco. "No mundo, os réus são presos após o julgamento na
primeira ou segunda instância. O entendimento do STF nesse tema é vital para a
efetividade do direito e processo penais", completou.
Para
o procurador, a prisão após a condenação em segunda instância, possibilitará
que "réus de colarinho branco sejam presos após cerca de 4 a 6 anos do
início do processo, e não depois de década(s)".
O
procurador também ressaltou que a possibilidade de punição pode servir de
estímulo para que os investigados colaborem com a Justiça, o que pode
influenciar diretamente os rumos da Operação Lava Jato. "Por que (o réu)
vai entregar crimes, devolver valores e se submeter a uma pena se pode escapar
da Justiça? Por outro lado, quanto mais efetivo o direito e o processo penal,
mais interessante fica a alternativa de defesa por meio da colaboração
premiada", avaliou.
"Em
resumo, a execução provisória é o que pode garantir um mínimo de efetividade da
Justiça Penal contra corruptos, levando-os à prisão dentro de um prazo mais
razoável, e é importante para que a Lava Jato continue a se expandir, chegando
a todo o espectro da corrupção", finaliza o procurador.
Leia
a íntegra do texto divulgado por Deltan Dallagnol
"O
novo Ministro do STF e o impacto na Lava Jato
Mesmo
com a redistribuição da Lava Jato no STF para o Ministro Edson Fachin, a
escolha do novo Ministro terá forte impacto na Lava Jato e nas demais
investigações sobre corrupção. Isso especialmente em razão da orientação do
tribunal sobre a execução provisória da pena. Ano passado, o tribunal entendeu
que ela é possível, por 6 votos contra 5. O Ministro Teori estava dentre os
vencedores. O novo Ministro pode inverter o placar. Por que e como isso afeta a
Lava Jato?
O
Brasil é virtualmente o único país em que um processo criminal passa por 4
instâncias, sem falar dos infindáveis recursos – só no caso de Luís Estevão,
foram mais de 80 recursos, sem contar as dezenas de habeas corpus. Isso faz com
que o fim do processo contra um colarinho branco demore mais de uma década ou
até duas. A simples demora faz com que a pena deixe de dissuadir novos
potenciais corruptos. Contudo, esse quadro é bem mais grave, porque o caso se
torna um provável candidato à impunidade. De fato, a demora enseja a
prescrição, uma espécie de cancelamento do processo pelo decurso do tempo. A
ideia de que os casos de corrupção em geral acabam em pizza, presente no
imaginário popular, está correta – basta uma análise dos escândalos pretéritos.
E onde
entra a execução provisória nisso? Bom, a orientação do tribunal nesse tema
decide se o envio do réu à prisão deve aguardar todos os recursos nas quatro
instâncias, ou pode ser feita após o tribunal de apelação confirmar a
condenação. Ou seja, o que está em questão é se o réu vai para a cadeia após
ser julgado pela segunda instância ou pela quarta. No mundo, os réus são presos
após o julgamento na primeira ou segunda instância. O entendimento do STF nesse
tema é vital para a efetividade do direito e processo penais. Se prevalecer a
possibilidade da execução provisória, isso significa que réus de colarinho
branco serão presos após cerca de 4 a 6 anos do início do processo, e não
depois de década(s). Se o réu estiver preso, o processo pode ser mais rápido e demorar
apenas cerca de 2 anos até ser julgado pela segunda instância. A você pode
parecer muito tempo ainda, mas, acredite, é uma imensa evolução quando se toma
em conta como hoje as coisas funcionam.
E o
que isso tem a ver com a Lava Jato? Se a perspectiva é de impunidade, o réu não
tem interesse na colaboração premiada. Por que vai entregar crimes, devolver
valores e se submeter a uma pena se pode escapar da Justiça? Por outro lado,
quanto mais efetivo o direito e o processo penal, mais interessante fica a
alternativa de defesa por meio da colaboração premiada. A colaboração é um
instrumento permite a expansão das investigações e tem sido o motor propulsor
da Lava Jato. O criminoso investigado por um crime "A" entrega os
crimes B, C, D, E – um alfabeto inteiro – porque o benefício é proporcional ao
valor da colaboração. Importante ressalvarmos que ela é um ponto de partida,
jamais um ponto de chegada, da investigação, e que acordos objetivam trocar um
peixinho por um peixão ou um peixe por um cardume.
Em resumo,
a execução provisória é o que pode garantir um mínimo de efetividade da Justiça
Penal contra corruptos, levando-os à prisão dentro de um prazo mais razoável, e
é importante para que a Lava Jato continue a se expandir, chegando a todo o
espectro da corrupção. Assim, a escolha do novo Ministro, a depender de sua
posição nesse tema, continua a ter um imenso impacto na Lava Jato, ainda que
ele não se torne relator da operação."