Frei Betto também analisou as tensões geopolíticas que devem influenciar o próximo conclave que vai escolher o sucessor do papa
O frade dominicano e intelectual brasileiro Frei Betto, um dos nomes mais respeitados da teologia e do pensamento progressista no país, fez uma análise sobre o legado do Papa Francisco e os desafios que a Igreja Católica enfrentará na escolha de seu sucessor. O Papa Francisco, primeiro líder latino-americano da Igreja Católica, faleceu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos.
Em entrevista ao programa Bom dia 247, Frei Betto destacou os avanços e as limitações do pontificado de Francisco, além das disputas políticas que devem marcar o próximo conclave.
“Estamos diante da perda de uma figura inestimável que marcou o nosso século, o nosso tempo e a nossa Igreja Católica”, afirmou Frei Betto, que teve a oportunidade de se encontrar com o Papa em agosto de 2023, no Vaticano. “Ele tinha um apreço por mim e eu uma profunda admiração por todo o trabalho que ele vinha fazendo.”
Frei Betto destacou que dois papas mais reformadores da história recente da Igreja foram João XXIII, que convocou o Concílio Vaticano II, e Francisco, que tentou implementar seus desdobramentos. “Durante seus 12 anos de pontificado, Francisco convocou vários sínodos para tentar colocar em prática o que o Concílio determinou entre 1962 e 1965.”
Segundo Frei Betto, o grande entrave foi a resistência de setores conservadores dentro da Igreja. “Tivemos 34 anos de pontificados conservadores, com João Paulo II e Bento XVI. Então, o que tínhamos nesses 12 anos era uma Igreja como um corpo conservador e uma cabeça progressista.”
Entre as reformas que Francisco tentou, mas não conseguiu implementar, Frei Betto citou o fim do celibato obrigatório e o acesso das mulheres ao sacerdócio. “Francisco foi o único Papa da história a convocar um sínodo indígena”, lembrou. “Ele queria que sacerdotes indígenas pudessem ser casados, porque no mundo indígena é inconcebível um adulto solteiro. Mas isso não foi aprovado.”