Empresário que construiu fortuna no mercado passou a se aprofundar em livros keynesianos após prisão controversa e mudou forma de pensar a economia
José Kobori (Foto: Reprodução) Uma das maiores referências em finanças do Brasil, José Kobori explicou, em entrevista ao podcast Market Makers, o motivo de ter adotado uma visão de esquerda para a economia após "ter sido liberal a vida inteira".
Tendo acumulado uma fortuna no mercado financeiro ao longo da vida, Kobori criou a JK Global Partners e também trabalhou no Banco América do Sul e Xerox do Brasil, além de ter sido professor de finanças do MBA IBMEC por 10 anos. No entanto, passou por um episódio traumático com uma controversa prisão no "espírito" da Operação Lava Jato - ele ficou encarcerado por 80 dias e, então, foi liberado após decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF) - e, após isso, começou a dedicar-se à criação de vídeos educativos sobre finanças.
TRANSIÇÃO AO PROGRESSISMO - Em vídeo que viralizou nas redes sociais ao longo da última semana, Kobori relatou ao podcast em questão que mudou de visão após se aprofundar na leitura de livros Keynesianos. Tal corrente de pensamento econômico, que influenciou fortemente o desenvolvimento do Estado de bem-estar social, defende a intervenção do Estado para estimular a demanda agregada e evitar crises, contrariando a ideia de que o mercado se autorregula.
"[Depois da prisão] eu tinha mais tempo para ler porque não estava mais naquela correria do mercado, do dia a dia, e aí eu comprava livros com opiniões contrárias [à visão liberal]. Fui ler a Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, de Keynes, e me interessei, sabe quando meio que bate com suas ideias?", relatou.
O financista explicou que, apesar de ter sido neoliberal até então, sempre havia buscado ponderar sobre o sistema capitalista e manter algum grau de sensibilidade em relação à miséria humana.
"Teve uma vez que eu estava no carro aqui na rua Joaquim Floriano, parei no farol e olhei um rapaz até que novo, maltrapilho, pegando comida direto do lixo e comendo. Aquilo me tocou de uma forma que eu comecei a chorar sozinho no carro. Foi uma reação imediata: eu comecei a chorar e me questionar por que isso acontece. Por que eu estava ali, bem vestido, num carro bom, indo a um restaurante almoçar - algo que eu poderia fazer todo dia, se quisesse - e tem uma pessoa do meu lado comendo lixo?".
"E aí eu também saí um pouquinho do discurso de que o cara está ali porque quer ou porque não se esforça. Não. A sociedade não cria as mesmas oportunidades para todos. O modelo econômico neoliberal não permite que todos tenham a mesma oportunidade. Isso, hoje, para mim é claro como a água", concluiu.
CRÍTICAS À LAVA-JATO - Preso em maio de 2018 na Operação Bônus, uma continuidade da Operação Bereré, em um "ambiente de Lava Jato", Kobori passou a ser um veemente crítico dos excessos judiciais cometidos na década passada. Em seu website, o financista afirma que a Lava Jato "inaugurou nossa inquisição moderna".
"Sem qualquer escrúpulo seus integrantes jogavam carne aos leões, a opinião pública vibrava a cada nova prisão. Fogueira para esses corruptos! O estado democrático de direito passou a ser uma abstração na cabeça dos românticos. Garantias individuais? Devido processo legal? Nada, a histeria popular queria sangue. Com capa de herói e poder sem controle, policiais, procuradores e juízes jogavam para a plateia e aproveitavam o momento para perpetrar uma motivação, agora não mais por justiça, mas sim por interesses políticos e pessoais. Eu jamais poderia imaginar que algum dia eu mesmo pudesse ser vítima de uma injustiça criada pelo ambiente da Lava Jato", diz.
Fonte: Brasil 247