Comunidade Avá-Guarani denuncia ataques constantes e atraso na atuação das autoridades
Indígena ferido após ataque no Paraná (Foto: Reprodução/Comunidade Avá Guarani)
A Força Nacional foi mobilizada para a Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá, na região de Guaíra, oeste do Paraná, após uma série de ataques que deixaram seis indígenas do povo Avá-Guarani feridos desde 29 de dezembro. A convocação, de aordo com reportagem do Uol, ocorreu a pedido do Ministério dos Povos Indígenas, que, em nota divulgada neste sábado (4), afirmou: "Condenamos os atos de violência contra o povo Avá-Guarani, ocorridos desde o fim de dezembro de 2024, na Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá".
O órgão também destacou que acompanha a situação e reforçou a necessidade de medidas para garantir a segurança da comunidade, que há décadas luta pela demarcação de seu território. Atualmente, a regularização da TI Tekoha Guasu Guavirá está paralisada devido a uma decisão judicial baseada na tese do marco temporal.
Desde novembro de 2024, os Avá-Guarani alertavam sobre possíveis ataques. Durante encontros realizados nos dias 23 e 24 daquele mês, líderes da comunidade informaram às autoridades que pistoleiros ligados ao agronegócio planejavam ações violentas para o período do Natal. No entanto, o reforço na segurança chegou apenas após os ataques serem concretizados.
De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), "pistoleiros mascarados e armados" têm atuado na área, queimando barracos, disparando armas de fogo e lançando bombas contra os indígenas. "A Força Nacional chega sempre atrasada", criticou a entidade, ressaltando que muitos dos ataques foram anunciados nas redes sociais pelos próprios autores e poderiam ter sido evitados. Em um dos casos, a comunidade ficou cercada por horas sem intervenção das autoridades.
A violência escalou nos últimos dias. Na sexta-feira (3), quatro pessoas ficaram feridas em um ataque noturno. Entre as vítimas, uma criança de 4 anos foi atingida na perna, e um jovem sofreu ferimentos nas costas. Outro indígena foi baleado no maxilar. Já na terça-feira (31), criminosos lançaram rojões e atearam fogo à terra indígena, ferindo um indígena no braço com disparo de arma de fogo.
No dia anterior, outro ataque deixou um indígena com queimaduras no pescoço. Relatos indicam que mesmo após a presença da Polícia Federal, peritos encontraram 14 cápsulas de balas calibre 38 na área, mas os ataques recomeçaram logo após a saída da equipe.
A Apib também informou que, no último dia (29), invasores incendiaram plantações e barracos na terra indígena, enquanto armas de fogo e bombas foram usadas para intimidar os moradores. Esses episódios se somam a outros registrados desde julho, quando os Avá-Guarani começaram a relatar a presença constante de milícias armadas na região.
Histórico de luta pela terra
Os Avá-Guarani enfrentam há décadas a disputa por seu território. Invadido nos anos 1930, o Tekoha Guasu Guavirá passou a ser retomado pela comunidade a partir do final da década de 1990. Contudo, a demarcação permanece travada, agravando a vulnerabilidade do povo indígena. Em 2023, a comunidade já havia sido alvo de ataques semelhantes, incluindo disparos de armas de fogo e ações de tortura contra animais.
O Ministério da Justiça, responsável pela atuação da Força Nacional, ainda não se manifestou oficialmente sobre o caso. A mobilização busca conter os conflitos e garantir a segurança da comunidade, mas lideranças indígenas e organizações de defesa dos povos originários criticam o atraso na resposta das autoridades.
Fonte: Brasil 247 com informações do UOL