segunda-feira, 7 de abril de 2025

Para reverter rejeição dos evangélicos, governo Lula aposta em discurso e política para família

Pesquisa Quaest da semana passada mostra um salto na rejeição entre evangélicos: a desaprovação ao governo subiu de 58% em janeiro para 67% em março

  Lula sanciona lei que cria Dia Nacional da Música Gospel (Foto: Ricardo Stuckert)

Diante do avanço da reprovação entre o eleitorado evangélico, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem se movido para tentar reverter esse cenário e evitar danos à sua imagem em 2026. A informação é do jornal O Globo. A nova estratégia do governo mira na valorização da família e do papel feminino, com ações voltadas especialmente à figura da mulher como centro da organização familiar, como a entrega das chaves do Minha Casa Minha Vida a mulheres e a criação de escolas em tempo integral para facilitar o trabalho dos pais.

A movimentação responde à cobrança de lideranças religiosas que apoiaram a campanha de Lula em 2022, mas se sentem hoje ignoradas. O receio exposto aos ministros é de que qualquer gesto feito apenas às vésperas do próximo pleito presidencial seja visto como uma tentativa oportunista de conquistar votos. A situação se agravou após a divulgação da pesquisa Genial/Quaest da semana passada, que mostra salto na rejeição entre evangélicos: a desaprovação ao governo subiu de 58% em janeiro para 67% em março de 2025, enquanto a aprovação caiu de 37% para 29%.

◉ Valorização da mulher e discurso afetivo - A equipe do presidente tem incentivado Lula a destacar publicamente sua mãe, dona Lindu, como símbolo da força familiar, e a fortalecer a imagem da mulher como referência de liderança no lar. A proposta é mostrar como o governo implementa políticas que impactam diretamente a rotina das famílias, especialmente aquelas chefiadas por mulheres nas periferias urbanas.

Segundo assessores, essas mensagens deverão ser intensificadas em viagens pelo país, onde Lula tem maior contato com a população. O objetivo é estabelecer um canal afetivo com um público que, nos últimos anos, se afastou do campo progressista e se aproximou da pauta conservadora.

◉ Interlocução com líderes religiosos - A retomada do diálogo com pastores e lideranças evangélicas também é considerada essencial. "A construção de diálogo tem que ser feita ainda esse ano para que se evite a classificação de uma manobra eleitoreira. Transformar as ações do governo dentro do espectro família é uma forma de comunicar com o evangélico as ações que visam o bem-estar. A aversão aos governos do PT foi plantada com sucesso porque foi adesivado que o partido quer acabar com a família", afirma o pastor batista Sergio Dusilek.

Segundo interlocutores do Planalto, Lula tem se mostrado menos resistente a ações voltadas ao público evangélico. Ainda que o presidente prefira manter o foco em políticas universais, ministros avaliam que é necessário um gesto mais claro e direto. A estratégia sugerida é mirar nas periferias urbanas, onde há presença significativa de evangélicos que não estão sob influência direta das grandes lideranças religiosas, muitas delas aliadas a Jair Bolsonaro (PL).

"O melhor caminho é fazer parceria com essas igrejas que já fazem trabalho de acolhida e assistência social e demonstrar que, na prática, não há contradição entre nosso projeto e o que as igrejas defendem", diz Gilberto Carvalho, secretário de Economia Solidária do Ministério do Trabalho. "Não tem que entrar na seara do moralismo e da questão identitária, mas do cuidado com povo e pobres", completa.

◉ Estrutura no governo e críticas internas - Além de Carvalho, o ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias — ele próprio evangélico — tem sido acionado para representar o governo em cerimônias religiosas e encontros com lideranças. Também participam do grupo o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias (PT), e o chefe da Secom, Sidônio Palmeira, responsável por desenvolver estratégias de comunicação voltadas a esse público.

Apesar disso, evangélicos aliados ao governo apontam lentidão e falta de empenho de setores mais centrais do Palácio do Planalto.

◉ Batalha nas redes e avanço da direita - A disputa por narrativas nas redes sociais é outro ponto de alerta. O pastor e cantor Kleber Lucas, ligado à ministra da Cultura, Margareth Menezes, observa que a direita vem dominando o discurso entre religiosos sem encontrar resistência. "Hoje há narrativa de apenas um lado, e o governo não está disputando isso. Não há resposta. Conheço algumas lideranças que gostariam de travar diálogo com o governo. Será que esses pastores que apoiaram Lula em 2022 terão a mesma força para apoiá-lo em 2026? É uma pergunta que se levanta".

No Nordeste, onde Lula foi amplamente vitorioso, a proliferação de igrejas evangélicas tem alterado o cenário político. A pastora Odja Barros, da Igreja Batista do Pinheiro em Maceió, nota que esse crescimento, especialmente após a eleição de 2022, tem impulsionado a presença da direita na região. "Não há abertura nem diálogo. E 2026 está aí e a onda virá com força. Não é uma preocupação aleatória. A gente está completamente sem condição de se preparar para o que vem. Faltam pessoas que orientem o governo. A pauta religiosa também é política".

Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Globo

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