segunda-feira, 21 de abril de 2025

Morre, aos 88 anos, o Papa Francisco

 

Papa Francisco: o pontífice morreu nesta segunda-feira aos 88 anos. Foto: Reprodução

O Papa Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio, morreu nesta segunda-feira, às 7h35 de Roma (2h35 de Brasília) aos 88 anos.

O pontífice havia sido internado no Hospital Gemelli, em Roma, no dia 14 de fevereiro, devido a uma bronquite. Quatro dias depois, exames confirmaram que ele enfrentava uma pneumonia bilateral desde o início do mês passado, porém em 23 de março seu quadro apresentou melhora e ele teve alta.

Neste domingo de Páscoa (20) o líder da Igreja Católica fez o sermão na missa de Páscoa no qual condenou a violência em Gaza e o antissemitismo.

O Vaticano emitiu o seguinte comunicado nesta madrugada:

“Às 7h35 desta manhã, o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja.

Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados.

Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino.”

Longo histórico de problemas de saúde

Aos 21 anos, Francisco desenvolveu pleurisia e um de seus pulmões foi parcialmente removido na Argentina. Desde o início de 2023, sofria episódios recorrentes de gripe e complicações respiratórias.

Em 23 de setembro de 2024, o Santo Padre cancelou seus compromissos devido ao que o Vaticano descreveu como sintomas leves de gripe e, em fevereiro de 2024, passou por um check-up após um episódio gripal, retornando prontamente ao Vaticano no mesmo dia. No final de novembro de 2023, foi forçado a cancelar sua participação na conferência climática COP28, em Dubai, em razão dos efeitos da gripe e de uma inflamação pulmonar.

Em março de 2023, foi levado ao hospital após relatar dificuldades respiratórias, recuperando-se rapidamente com o uso de antibióticos para tratar uma bronquite. Recentemente, também sofreu duas quedas em sua residência: em dezembro de 2024 machucou o queixo e em janeiro de 2025, feriu o braço.

O pontífice estava com pneumonia bilateral. Foto: Reprodução

Em junho de 2023, Francisco passou nove dias no hospital após uma cirurgia para reparar uma hérnia abdominal, procedimento realizado em função de obstruções intestinais dolorosas. Em julho de 2021, foi submetido a uma cirurgia de seis horas para remover 33 cm do cólon, visando tratar um quadro de diverticulite, doença que ele afirmou ter retornado em 2023.

O pontífice sofria há muitos anos de ciática, condição crônica que causava dores nas costas, quadris e pernas, e uma crise da doença o impediu de celebrar as cerimônias de Ano-Novo em dezembro de 2020, sendo a primeira vez em que problemas de saúde o fizeram faltar a eventos religiosos importantes.

Desenvolveu também um problema severo no joelho e, em julho de 2022, afirmou à Reuters ter optado por não realizar cirurgia para evitá-la os efeitos colaterais da anestesia geral, os quais já lhe haviam causado complicações após a operação no cólon em 2021, preferindo tratar a condição com terapias a laser e magnéticas.

Carta de renúncia


O próprio Papa revelou essa carta em entrevista ao jornal espanhol ABC, em dezembro de 2022, explicando que a assinou e entregou ao então secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone.

“Assinei a renúncia e disse a ele: ‘Em caso de impedimento médico ou algo assim, aqui está minha renúncia. Você a tem’”, contou Francisco, acrescentando, ao ser questionado se desejava a divulgação da informação, “É por isso que estou lhe contando”. Ele também afirmou não saber o que Bertone fez com a carta após recebê-la.

Quem é o Papa Francisco?

Jorge Mario Bergoglio, nome de batismo do Papa Francisco, nasceu em 17 de dezembro de 1936, na cidade de Buenos Aires, Argentina, integrante da ordem jesuíta, Companhia de Jesus. Sua família emigrou da Itália para a Argentina no início do século XX, fugindo das guerras que assolavam a Europa.

Seu pai, Mario Giuseppe Bergoglio, saiu do Piemonte em 1929 e estabeleceu-se em Buenos Aires, no bairro de Flores. Alguns anos depois, conheceu Regina Maria Sivori, filha de imigrantes genoveses, casando-se e tendo Jorge como o primeiro dos cinco filhos do casal.

Bergoglio e sua família na casa onde viviam na capital argentina. Foto: Reprodução

Início da vida religiosa

Jorge Bergoglio chegou a cursar técnico de Química, mas decidiu seguir a carreira sacerdotal, ingressando em 1958 no seminário jesuíta Villa Devoto. Formou-se em Filosofia pela Universidade Católica de Buenos Aires em 1960, disciplina que lecionou em escolas da Companhia de Jesus em Santa Fé e na própria Buenos Aires.

Foi ordenado sacerdote em 1969, concluiu sua formação em Teologia um ano depois e finalizou sua formação religiosa na Espanha, retornando em 1973 para liderar a Companhia de Jesus na Argentina.

Nomeação como cardeal e proximidade do papado

Nos anos 1980, retomou atividades acadêmicas como reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel, atuando também como diretor espiritual e confessor na cidade de Córdoba. Em 1992, foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires, trabalhando diretamente com o arcebispo Antonio Quarracino, o que, segundo relatos, triplicou o número de sacerdotes dedicados aos bairros mais pobres da capital.

Em 1998, tornou-se arcebispo de Buenos Aires, mantendo seus hábitos simples, utilizando o metrô e evitando os luxos da hierarquia católica.

undefined
O então cardeal-arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, saúda a então presidente da Argentina, Cristina Kirchner, durante missa na Catedral Metropolitana, em 2008. Foto: Reprodução

Em 2001, foi nomeado cardeal pelo Papa João Paulo II e, quatro anos depois, participou de seu primeiro conclave, terminando em segundo lugar, perdendo para Joseph Ratzinger, seu antecessor imediato.

O motivo oficial da renúncia de Bento XVI, ocorrida em 2013, passou a ser conhecido após sua morte, em dezembro de 2022, conforme carta enviada a seu biógrafo, na qual Ratzinger relatou que uma insônia – que o acompanhava desde 2005 e se agravou meses após suceder João Paulo II – o levou a se afastar da liderança do Vaticano.

Segundo a carta, os remédios para dormir provocaram uma queda em 2012, durante viagem ao México e Cuba, levando os médicos a orientá-lo a reduzir a medicação e a participar apenas de eventos diurnos.

Esse cenário, somado às tensões no Vaticano, com escândalos e disputas internas, como o caso “Vatileaks” de maio de 2012, abalou o papado de Ratzinger, fato que levou o então porta-voz do Vaticano, Fredericco Lombardi, a afirmar que “a Igreja precisava de alguém com mais energia física e espiritual, que pudesse superar os desafios de um mundo moderno e em constante mudanças”.

O legado

Em 13 de março de 2013, o Papa Francisco assumiu o comando da Igreja Católica, após os cardeais reunidos no Vaticano alcançarem, pelo menos, 2/3 dos votos, tornando-se o primeiro pontífice de origem latino-americana e o primeiro a adotar o nome Francisco, inspirado em São Francisco de Assis e em suas virtudes de humildade, altruísmo e clemência aos mais pobres.

undefined
Papa Francisco, recém-eleito, na sua primeira aparição pública, na varanda central da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Foto: reprodução

Durante seu pontificado, adotou uma postura progressista em temas sensíveis. Permitiu que padres abençoassem a união de pessoas do mesmo sexo e defendeu a descriminalização da homossexualidade, como afirmou em entrevista ao jornalista argentino Jorge Fontevecchia, do Grupo Perfil, em 2023: “Infelizmente, há cerca de trinta países que ainda hoje criminalizam a homossexualidade, sendo que quase dez deles têm pena de morte. Isso é muito sério, não dá para aceitar”.

Promoveu também o aumento da participação feminina em cargos de gestão na Igreja, com a nova Constituição da Cúria, de março de 2022, que autorizou qualquer católico batizado – inclusive mulheres – a chefiar os escritórios do Vaticano.

Além disso, enfrentou os crimes sexuais cometidos ao longo de séculos pela Igreja, manifestando, em 2021, sua “vergonha pela incapacidade da Igreja de colocar as vítimas no centro de suas preocupações”, após a divulgação de um relatório sobre abusos envolvendo mais de 216 mil crianças e adolescentes na Igreja Católica da França desde 1950.

Em sua atuação, defendeu o meio ambiente e estreitou laços com povos originários, publicando, em 2015, a encíclica “Louvado Seja”, que convocou os católicos a agir em favor da preservação ambiental, iniciativa seguida pelo Sínodo da Amazônia e por uma visita ao Brasil em 2019 para discutir a crise climática com autoridades acadêmicas locais.

Bombardeios em Gaza

O Papa condenou os ataques aéreos israelenses em Gaza, elevando o tom contra a ofensiva, mesmo normalmente evitando tomar partido em conflitos. Referiu que “Crianças foram bombardeadas” e afirmou: “Isso é crueldade. Isto não é guerra. Eu queria dizer isso porque toca o coração”, em alusão aos ataques que ceifaram a vida de pelo menos 25 palestinos em Gaza no ano passado.

O Hamas, que controlava o território costeiro de Gaza, iniciou a guerra ao atacar cidades no sul de Israel em 7 de outubro de 2023, causando cerca de 1,2 mil mortes e fazendo aproximadamente 250 reféns.

Em retaliação, o bombardeio de Gaza por Israel matou quase 47 mil palestinos, a maioria mulheres e crianças, conforme informações do escritório de direitos humanos da ONU.

Francisco também comemorou a interrupção dos combates na Faixa de Gaza após o acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas entrar em vigor, encerrando uma guerra de 15 meses que provocou devastação e profundas mudanças políticas no Oriente Médio.

Papa x Trump

No cenário internacional, o Papa Francisco defendeu ativamente os direitos dos migrantes e criticou as políticas de endurecimento das fronteiras, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. Criticou, inclusive, as medidas anti-imigrantes do presidente Donald Trump, o que gerou uma crise entre o Vaticano e a Casa Branca.

Em carta enviada a bispos americanos, defendeu o direito de “manter as comunidades seguras contra aqueles que cometeram crimes violentos ou graves”, mas condenou a abordagem adotada pelo republicano, afirmando que “o ato de deportar pessoas que, em muitos casos, deixaram sua própria terra por razões de extrema pobreza, insegurança, exploração, perseguição ou grave deterioração do meio ambiente, prejudica a dignidade de muitos homens e mulheres, e de famílias inteiras, e os coloca em um estado de particular vulnerabilidade e indefesa”.

Tom Homan, responsável pelas políticas de imigração no governo de Trump, respondeu às críticas afirmando: “Se atenha à Igreja Católica, deixem a fiscalização da fronteira conosco”, ressaltando que o papa pretendia atacar a postura de proteção das fronteiras.

Donald Trump e o Papa Francisco: o governo do republicano respondeu à crítica do pontífice sobre imigração. Foto: Reprodução

Trump, que sempre fez do controle da imigração uma de suas principais bandeiras – tanto em seu primeiro mandato quanto em sua nova campanha presidencial –, reforçou, logo no início de seu segundo mandato, medidas de segurança na fronteira com o México por meio de ordens executivas, incluindo a declaração de emergência nacional para agilizar deportações e impedir a entrada de novos imigrantes.

A relação tensa entre Trump e Francisco não era recente, havendo, em 2016, o papa afirmar que “uma pessoa que só pensa em construir muros, onde quer que estejam, e não constrói pontes, não é cristã”, declaração que levou Trump a reagir, qualificando-a de “vergonhosa”.

Fonte: DCM

Nenhum comentário:

Postar um comentário