domingo, 6 de abril de 2025

“Instituições financeiras não fazem pesquisas eleitorais por espírito público”, diz Marcos Coimbra

Coimbra afirma que levantamentos patrocinados por bancos e corretoras servem a interesses econômicos e não refletem o comportamento real do eleitorado

      (Foto: Divulgação)

Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o sociólogo e cientista político Marcos Coimbra, presidente do Instituto Vox Populi, criticou com veemência o uso político de pesquisas eleitorais financiadas por instituições financeiras. Segundo ele, esses levantamentos não são motivados por espírito público, mas sim por interesses específicos de grupos econômicos e midiáticos que buscam influenciar o debate político.

“Possivelmente não vamos supor que é altruísmo, espírito público que move instituições do mercado financeiro a fazer esse tipo de levantamento e a dar a ele uma ampla divulgação”, afirmou Coimbra, ao comentar a pesquisa divulgada pelo Banco Genial e repercutida com destaque pela grande imprensa. Para o cientista político, esses dados têm sido usados para alimentar uma narrativa de desgaste do governo Lula, num esforço conjunto entre o mercado financeiro, a mídia tradicional e setores da extrema direita.

Coimbra observou que há uma tendência recorrente de tratar levantamentos sobre avaliação de governo como antecipação do comportamento eleitoral da população, quando, segundo ele, esses dados pouco dizem sobre o que realmente acontecerá nas urnas. “A associação ou a dissociação entre avaliação e voto pode ser extremamente significativa. Lula teve 60% de intenção de voto no final de 2021 e terminou o primeiro turno com cerca de seis pontos de vantagem. Bolsonaro, com 30% na mesma época, terminou o segundo turno com 48,5% dos votos”, lembrou. O caso de Jair Bolsonaro, para ele, é ilustrativo: mesmo com forte desaprovação por sua gestão na pandemia, o ex-presidente quase venceu a eleição.

Coimbra também destacou o descompasso entre o perfil real do eleitorado e as amostras utilizadas nas pesquisas. Para ele, há um desinteresse generalizado da população por política, o que compromete a representatividade dos dados. “Mais de 50% da população adulta brasileira não acerta nenhuma pergunta básica sobre política, como o nome do vice-presidente ou do presidente da Câmara. Como é que essa pessoa pode responder de forma qualificada sobre avaliação de governo?”, questionou. Na sua avaliação, as amostras estatísticas são montadas com base em critérios simplificados, como escolaridade e renda, mas não dão conta de capturar com precisão o comportamento e a motivação dos eleitores.

A repercussão das pesquisas pela mídia tradicional também foi criticada por Coimbra, que vê nesses movimentos uma tentativa de criar artificialmente um ambiente de crise no governo. “A pesquisa da Genial Quest ocupou o dia inteiro nos principais sites da mídia corporativa, com destaque, retranca, manchetes adversativas. Há um movimento claro de explorar ao máximo essas pesquisas para construir narrativas”, disse. Segundo ele, o presidente Lula compreende bem esse jogo político e reage com ceticismo. “Lula está cansado de saber que pesquisa a esta altura do campeonato quer dizer muitíssimo pouco. Ele tem um conjunto de experiências e vivências que permite a ele tratar com grande cautela esse tipo de barulho que esses grupos econômicos fazem.”

Coimbra defendeu o uso de pesquisas internas pelos governos como ferramenta de avaliação da gestão, mas alertou que extrapolar esses dados para análises eleitorais é um erro. “O governo pesquisa porque quer se avaliar. Não quer chegar rendido três anos à frente. Faz parte do processo de gestão compreender como está sendo percebido”, argumentou. Para ele, a pergunta fundamental a ser feita em pesquisas políticas não é sobre aprovação de políticas específicas, mas sobre a disposição do eleitor em votar em determinado candidato. “A pergunta verdadeira é: você tem alguma razão para querer que essa pessoa seja presidente da República? Você vota nela?”

O cientista político também apontou que a dificuldade enfrentada por governos para obterem avaliações positivas é um fenômeno global. Citando dados internacionais, afirmou que dos 25 maiores países democráticos do mundo, apenas três registram avaliações majoritariamente favoráveis a seus governos. “Nos outros quase 20, a avaliação é negativa. Isso mostra que há um fenômeno que transcende partidos e ideologias, afetando governantes de esquerda, de centro e de direita”, analisou.

Ao final da entrevista, Marcos Coimbra minimizou a hipótese de que Jair Bolsonaro seja novamente competitivo numa eventual disputa presidencial. Segundo ele, o que deu ao ex-presidente viabilidade eleitoral em 2022 foi o fato de estar no cargo e poder usar a máquina pública. “A única coisa que tornou o Bolsonaro competitivo quanto foi é o lugar que ele estava: ele estava sentado numa cadeira no Palácio do Planalto. Precisava dobrar o Bolsa Família? Podia. Precisava dar grana para taxista? Podia. Isso a direita não vai ter em 2026 porque não está no governo”, concluiu. Assista:

 

Fonte: Brasil 247

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