domingo, 13 de abril de 2025

Empresários dos Estados Unidos já calculam o 'custo Trump' para o futuro dos seus negócios

Aumento de tarifas imposto pelo presidente norte-americano provoca reajustes, suspensão de investimentos e até ações judiciais de empresas afetadas

Presidente dos EUA, Donald Trump, dá detalhes sobre tarifas no Rose Garden da Casa Branca em Washington, D.C. (Foto: REUTERS/Carlos Barria)

247, com informações da agência Reuters – Empresários de diversos setores da economia norte-americana estão enfrentando incertezas crescentes com a nova política tarifária imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Segundo reportagem publicada pela Reuters nesta sexta-feira (12), o impacto das tarifas sobre importações – que são cobradas das empresas dos EUA e muitas vezes repassadas aos consumidores – já atinge diretamente a rotina de negócios em vários estados, mesmo após o anúncio de uma pausa de 90 dias para alguns países.

Apesar da suspensão temporária para dezenas de nações, Trump endureceu ainda mais as sanções comerciais contra a China, elevando na prática as tarifas para até 145%. Para o restante do mundo, as taxas permanecem em 10% durante o período da trégua, enquanto produtos canadenses e mexicanos que não fazem parte do acordo comercial da América do Norte continuam sendo taxados em 25%.

“Estamos lidando constantemente com a incerteza do futuro e de nossas cadeias de suprimentos”, afirmou Steve Shriver, fundador e CEO da Eco Lips, empresa de produtos orgânicos de saúde e beleza com sede em Cedar Rapids, Iowa. Com ingredientes vindos de mais de 50 países e produtos distribuídos em 40 mil lojas nos EUA, a companhia já avisou a seus clientes que terá que aumentar preços e prazos de entrega. “Não confio nisso. É uma pausa de 90 dias. Pode mudar de novo em 10 dias”, disse. Ele estima que seus custos anuais de produção possam subir em US$ 5 milhões – metade do seu orçamento habitual com insumos, que inclui matérias-primas como baunilha, óleo de coco e cacau, que não são produzidos nos Estados Unidos.

Outros empresários relataram à Reuters medidas ainda mais drásticas: cancelamento de pedidos, suspensão de projetos de expansão e congelamento de contratações.

◉ ‘Estamos tentando sobreviver’

Emily Ley, fundadora da Simplified, empresa da Flórida especializada em agendas femininas de luxo, revelou ter pago mais de US$ 1 milhão em tarifas desde que Trump impôs sanções à China durante seu primeiro mandato. Agora, com os novos percentuais, ela prevê que o custo com impostos de importação poderá dobrar em apenas um ano. "Isso pode nos derrubar, nos tirar do mercado", alertou. Ley afirmou que tentou transferir sua produção para dentro dos EUA, mas não conseguiu manter a lucratividade. Hoje, ela está processando o governo federal, alegando que as tarifas utilizam bases legais inconstitucionais.

Paul Kusler, dono da tradicional loja de brinquedos Into the Wind, em Boulder, Colorado, também vê sua sobrevivência ameaçada. Com 45 anos de história e vendas anuais de cerca de US$ 2,5 milhões, a empresa depende majoritariamente de importações da China. “As tarifas sobre a China são inviáveis. É uma ameaça séria ao nosso negócio”, afirmou. Kusler disse que fornecedores já repassaram aumentos de até 10% nos preços, mesmo em mercadorias que já estavam em seu estoque. “As pessoas não vão comprar brinquedos se estiverem preocupadas com a alta dos preços de alimentos e produtos básicos”, disse.

◉ Cultura em risco

No setor cultural, os impactos também são concretos. Aisha Ahmad-Post, diretora executiva do Newman Center for the Performing Arts, em Denver, Colorado, viu o orçamento para a renovação do principal auditório da instituição ser comprometido por uma cobrança extra de US$ 140 mil, referente às novas tarifas sobre cadeiras importadas do Canadá. O contrato havia sido fechado por pouco mais de US$ 560 mil, mas a fabricante canadense informou a necessidade de aplicar a nova taxa. “As cadeiras já estão em produção, não dá mais para mudar. Agora estamos tentando descobrir como vamos pagar essa conta”, relatou Ahmad-Post.

As queixas dos empresários ouvidos pela Reuters revelam os efeitos imediatos e de longo prazo da política comercial de Trump, que tem justificado as tarifas como instrumento para combater desequilíbrios comerciais, conter a imigração irregular e estimular a produção interna. Para muitos, no entanto, o chamado "custo Trump" pode significar redução de margens, perda de competitividade e até o encerramento das atividades.

Fonte: Brasil 247 com Reuters

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