
Um estudo do FGV Social revela que a renda dos 50% dos trabalhadores brasileiros mais pobres teve crescimento expressivo de 10,7% no quarto trimestre de 2024 em comparação com o mesmo período de 2023, superando a média nacional de 7,1%. A análise, baseada em microdados da Pnad Contínua do IBGE, aponta a queda do desemprego e o aumento da escolaridade como os principais motores dessa melhora na base da pirâmide social.
Marcelo Neri, diretor do FGV Social e responsável pelo levantamento, detalhou que dos 10,7% de aumento, 3,9 pontos percentuais vieram da queda do desemprego, enquanto a escolaridade contribuiu com 3,15 pontos no salário-hora por anos de estudo e 2,09 pontos no número de anos de estudo.
O Brasil, sob o governo do presidente Lula (PT), encerrou 2024 com uma taxa de desemprego de 6,6%, a menor já registrada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), conforme dados divulgados pelo IBGE. No quarto trimestre, a taxa caiu para 6,2%, alinhando-se às expectativas do mercado.
O economista, ao Valor Econômico, também explicou que esses componentes tiveram impacto especialmente significativo entre os trabalhadores de menor renda. O país também bateu recorde de pessoas ocupadas: mais de 103,3 milhões, na média do ano.
O mercado de trabalho aquecido em 2024 beneficiou todas as classes de renda, mas os efeitos foram mais pronunciados na base. Enquanto os 50% mais pobres tiveram renda média de R$ 521, os 10% mais ricos alcançaram R$ 8.056, com crescimento de 6,7% – abaixo tanto da média nacional quanto do avanço verificado entre os menos favorecidos.

“Há um conjunto grande de fatores que explicam o aumento da renda do trabalho e todos apontam para cima na comparação dos dois trimestres. Mas a renda dos mais pobres cresce mais pelo efeito desemprego e pela escolaridade, que tem repercussões lá na frente”, disse Neri.
Bruno Imaizumi, economista da LCA 4intelligence, acrescenta outro fator crucial: “Essa política para o salário mínimo influencia não só o trabalhador formal como também o informal. O salário mínimo funciona como um balizador de rendimento do trabalho informal também”.
Os reajustes acima da inflação em maio de 2023, janeiro de 2024 e janeiro de 2025 ajudaram a impulsionar a renda de 65,3% dos trabalhadores que ganham até dois salários mínimos.
A distribuição de renda no país ainda mostra forte concentração: 31,1% dos ocupados recebem até um salário mínimo e 34,2% ficam na faixa entre um e dois salários mínimos. Esses percentuais têm se mantido relativamente estáveis ao longo dos anos, segundo Imaizumi.
Neri, no entanto, faz um alerta sobre o futuro: “Há muitas incertezas, nos cenários externo e interno. Se a incerteza aumenta, é ruim para o trabalhador e para o empregador, tanto para alta quanto para baixa renda”.
O economista prefere não projetar se esse padrão de crescimento mais acelerado na base continuará em 2025, mantendo-se cauteloso: “É difícil saber o que vem, aprendi a esperar o dado”.
Fonte: DCM
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