terça-feira, 15 de abril de 2025

"As pessoas não comparam mais com a fila do osso, comparam com a promessa da picanha", diz Breno Altman

Jornalista analisa impacto da inflação dos alimentos sobre a popularidade do governo Lula e aponta entraves estruturais para resolver o problema

     (Foto: Prefeitura de Bonito | Divulgação)

Durante entrevista ao Bom Dia 247, o jornalista Breno Altman afirmou que a inflação dos alimentos segue como um dos principais fatores que afetam negativamente a percepção do governo junto à população, especialmente entre os mais pobres. Segundo ele, há uma deterioração da qualidade da alimentação, mesmo quando o número de brasileiros com comida suficiente em casa se mantém estável.

“A manchete tem uma certa maldade porque a gente fica com a impressão de que as pessoas estão comendo 58% a menos. Isso seria catastrófico”, comentou, referindo-se à pesquisa Datafolha segundo a qual 58% dos brasileiros reduziram as compras de alimentos. Altman destacou que, na prática, “as pessoas estão trocando alimentos mais sofisticados e mais caros por alimentos mais baratos. Elas continuam se alimentando, mas já não se alimentam com a fartura ou com a qualidade que se alimentavam antes.”

Para ele, a percepção da piora tem forte peso político. “As pessoas comuns não comparam mais com a fila do osso. Elas comparam com a promessa da picanha. E com a realidade da carne vermelha.” Essa comparação, observou, gera frustração e impacta diretamente a popularidade do governo. “Não há governo que consiga suportar altos níveis de popularidade quando as pessoas têm essa percepção de que estão comendo pior.”

Altman explicou que o aumento da renda nos governos petistas gerou forte crescimento da demanda por alimentos, mas a oferta não acompanhou esse ritmo, em razão da estrutura agrária voltada para exportações. “O campo brasileiro passou a ser ocupado pela soja, pelo milho e pela pecuária para exportação. O Brasil é um grande exportador de commodities. Em termos relativos, foi reduzindo a produção de alimentos.”

O jornalista apontou que há dois caminhos para enfrentar esse desequilíbrio: taxar as exportações de commodities e investir pesadamente na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), para que o Estado atue na regulação de estoques e preços. “Com R$ 10 bilhões nas mãos da Conab, ela desmonta o poder dos cartéis”, afirmou.

No entanto, Altman reconheceu obstáculos para essa estratégia. “O governo não tem esses recursos. Estouraria as metas do resultado primário. E o governo também não tem vontade e força política para taxar a exportação de commodities. Não precisa nem do Parlamento para isso, mas há medo de criar uma crise com o agronegócio e perder governabilidade.”

Ele também comentou a concentração do setor de comercialização de alimentos. “Todo o processo agrícola passou a ser dirigido por grandes cartéis, por grandes traders. Virou um grande negócio financeiro. O controle da comercialização passou a se centralizar com grandes operadores do mercado.”

Segundo Altman, sem uma política ativa de regulação, os preços são determinados por essa lógica concentrada. “A lógica dos cartéis é pagar o menos possível para os produtores e vender pelo preço mais alto possível. O governo pode romper isso comprando a preços mínimos e vendendo a preços mínimos nos mercados consumidores. Mas para isso precisa de orçamento.”

A política de isenção de impostos, como o corte de tributos de importação, não é suficiente, diz ele. “Quando os preços externos estão altos, isso não resolve nada. A única saída concreta seria taxar a exportação de commodities e fortalecer a Conab. Mas isso exige coragem política.” Assista:

 

Fonte: Brasil 247

Nenhum comentário:

Postar um comentário