Ministros veem mudança de postura do colega como sinal político e criticam falas feitas durante julgamento de Bolsonaro
Durante o ato pró-anistia realizado na Avenida Paulista, em São Paulo, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro fez um apelo público ao ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), pedindo a anulação das penas aplicadas aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. A abordagem direta de Michelle reacendeu tensões internas na Corte e aumentou o mal-estar entre Fux e seus colegas. As informações são do jornal O Globo.
Ao discursar para apoiadores, Michelle mencionou casos específicos de réus, como o de uma idosa e o de Cleriston Pereira da Cunha — este último preso por envolvimento nos ataques e morto antes do julgamento. Em tom emotivo, ela se dirigiu nominalmente ao magistrado: "Luiz Fux, eu sei que o senhor é um juiz de carreira e o senhor não vai jogar o seu nome na lama", afirmou, em meio aos aplausos do público.
A irritação entre os ministros do STF tem como pano de fundo a mudança de posição de Fux durante o julgamento de Jair Bolsonaro, transmitido ao vivo por diversas emissoras no mês passado. Apesar de até então ter seguido de forma consistente os votos do relator Alexandre de Moraes em praticamente todas as mais de 500 condenações relacionadas ao 8 de janeiro, Fux surpreendeu ao declarar que os magistrados julgaram os casos “sob violenta emoção”.
Além disso, Fux informou a Moraes que reconsideraria a pena de Débora Rodrigues, cabeleireira que ganhou notoriedade após pixar com batom uma estátua em frente ao STF. O caso de Débora tem sido utilizado politicamente por aliados de Bolsonaro como símbolo da defesa pela anistia.Para ministros da Corte, a sinalização pública de Fux, feita em um momento de intensa exposição midiática, acabou fornecendo “munição” para os discursos políticos bolsonaristas — culminando no pedido de intervenção feito por Michelle. O gesto foi interpretado como uma tentativa de pressionar o tribunal e colocar em xeque a firmeza das decisões já tomadas.
A tensão também se ampliou após o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, aliado de Bolsonaro, defender a anistia durante o mesmo ato. Integrantes do STF entenderam o posicionamento como mais um movimento coordenado para fragilizar a legitimidade das condenações e desacreditar o trabalho da Corte.
Apesar de Fux ainda não ter formalizado nenhuma revisão de penas, sua nova postura em meio a um ambiente de intensa polarização política tem sido vista por colegas como inoportuna e geradora de desgaste institucional.
Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Globo
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