Em meio à reforma ministerial e pressões do Centrão, titular do MDS diz que a pasta não entra em negociações políticas
O ministro do Desenvolvimento Social (MDS), Wellington Dias, criticou a postura de líderes do Centrão que ameaçam desembarcar do governo e disputar mais espaço na Esplanada. Em entrevista ao Valor Econômico, o ministro afirmou que “muitas pessoas estão acostumadas a tirar proveito de participar de um governo e depois cuspir no prato que comeram”. A declaração ocorre no contexto da reforma ministerial conduzida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem sido realizada de forma gradual e estratégica.
O nome de Dias foi ventilado entre os cotados para deixar o cargo desde 2024, quando sua pasta passou a ser alvo de interesse do PSD e de outros partidos da base aliada. Apesar disso, a tendência é que o MDS permaneça sob o controle do PT, já que a gestão do Bolsa Família é considerada um dos pilares do governo Lula. Nos bastidores, chegou-se a especular que a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) teria interesse na pasta, mas, com sua ida para a Secretaria de Relações Institucionais (SRI), as pressões sobre Dias diminuíram.
O ministro descartou que o MDS esteja em negociações políticas e destacou que a pasta é central para o governo. “O presidente Lula tem autorização do povo para a mudança que ele quiser”, afirmou. “Mas, conhecendo como eu o conheço, o MDS não entra em negociações políticas, é o coração do seu governo. Por isso, sei o peso da minha responsabilidade.”
◉ Pressão do Centrão e resposta a Ciro Nogueira
A resistência de Lula em ceder a pasta do Desenvolvimento Social ao Centrão ocorre num momento em que o bloco político se divide entre pleitear mais espaço no governo e discutir um possível desembarque.
Questionado sobre as movimentações do grupo, Dias não poupou críticas. “A gente já contou com vários líderes destes partidos na eleição do presidente Lula. Eu estou bastante animado que, em 2026, nós vamos ter em cada Estado uma quantidade ainda maior desses líderes”, afirmou. “Mas tem muita gente que se acostumou a tirar proveito de participar de um governo e depois cuspir no prato que comeu, como se diz no popular. Mas tem muita gente séria.”
Um dos principais articuladores do Centrão, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), tem sido uma das vozes mais estridentes na defesa do afastamento do bloco do governo. Na semana passada, ele afirmou que sempre foi contra a nomeação do deputado André Fufuca (PP-MA) para o Ministério do Esporte e que seu partido nunca integrou a base de Lula. Em resposta, Dias ironizou: “Fico imaginando a situação do meu colega ministro hoje, como se tivesse tomado uma decisão sem dialogar com o seu partido.”
◉ Cenário econômico e desafios para 2026
Com a popularidade de Lula enfrentando desafios nas pesquisas, Wellington Dias demonstrou confiança em uma recuperação do governo. “O PT é o único partido ao qual me filiei em minha vida inteira. Você tem ideia do que já passamos?”, disse. Ele minimizou as dificuldades que a gestão enfrenta e comparou o cenário atual com a eleição de 2022. “Eleição mais difícil que 2022? Olho para frente, acho muito difícil a gente ter”, afirmou, citando as blitze da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), teriam tentado impedir o deslocamento de eleitores de Lula no Nordeste.
A alta dos alimentos, um dos fatores que impulsionaram a insatisfação popular, foi atribuída pelo ministro a fatores externos, como enchentes no Rio Grande do Sul, secas em regiões produtoras e a valorização do dólar, que chegou a R$ 6,30 em dezembro. “Muitos desses produtos são importados. Outros têm como referência o preço de exportação. No caso do milho, do café, de vários outros produtos, como a cana-de-açúcar, o açúcar, a soja, o óleo comestível”, explicou.
Dias também comentou a decisão do governo de zerar tarifas de importação para conter a inflação de alimentos. Apesar disso, alertou para a atuação de setores do mercado financeiro que, segundo ele, especulam contra o governo. “Há uma parte da Faria Lima e do empresariado que especula por ganância, tumultuando o ambiente econômico. São setores da economia que ganham com a instabilidade.”
Fonte: Brasil 247 com Valor Econômico
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