O funk brasileiro pode ser o próximo gênero a ganhar projeção global, diz a revista inglesa
O funk brasileiro está pronto para romper fronteiras e conquistar o mundo, diz reportagem da revista inglesa The Economist publicada no último dia 6. Enquanto o país celebra sua primeira vitória no Oscar com o filme "Ainda Estou Aqui", cuja trilha sonora resgata a imagem clássica do Brasil associada ao samba e à bossa nova, a realidade musical contemporânea é bem diferente. O sertanejo domina as plataformas de streaming nacionais, mas é o funk, originado nas favelas do Rio de Janeiro, que tem maior potencial de exportação e pode redefinir a identidade musical do Brasil no exterior, diz a matéria.
Nos últimos dez anos, o sertanejo tem sido o gênero mais ouvido nas rádios e serviços de streaming no Brasil, impulsionado pelo crescimento do setor agrícola no país. "A maioria dos produtores musicais costumava estar no Rio, mas com a ascensão da agropecuária, os estados rurais ganharam voz", explica Leo Morel, da Midia Research. No entanto, apesar do enorme sucesso nacional, o sertanejo tem pouca projeção internacional. Os artistas do gênero não demonstram interesse em conquistar o mercado estrangeiro, diferentemente do funk, que já atrai atenção global.
Inspirado pelo Miami bass e pelo electro-funk, o funk carioca surgiu nos anos 1980 e desenvolveu uma identidade própria, acelerando os ritmos e criando uma cultura de bailes nas favelas. O gênero se destaca pelo ritmo rápido, que pode ultrapassar 130 batidas por minuto, e por danças como "o 'passinho' acrobático para homens, que envolve um trabalho de pés elaborado, e a 'rebolada' para mulheres, uma variante ritmada do 'twerking'". Apesar de sua popularidade, o funk enfrenta resistência de setores conservadores da sociedade, registra a publicação.
Mesmo diante de críticas, o funk está se consolidando no mainstream. Taísa Machado, professora de dança e curadora de uma exposição sobre o gênero no Rio, observa que muitos de seus antigos alunos de baile funk agora são profissionais estabelecidos, como dentistas e terapeutas, muitos deles moradores de bairros nobres e de classe média alta.
Se antes o Brasil era representado internacionalmente por artistas como Gilberto Gil, hoje a figura de destaque é Anitta, afirma a revista. Vinda de um subúrbio do Rio de Janeiro, a cantora trilhou um caminho até o mercado global, aprendendo inglês e espanhol, mudando-se para Miami e assinando com a Republic Records. Em 2022, foi a primeira brasileira a liderar as paradas globais do Spotify com Envolver, um reggaeton cantado em espanhol. Seu mais recente álbum é trilíngue e resgata suas origens no funk.
A dificuldade de artistas brasileiros em se internacionalizar é um desafio histórico. "Exportar jogadores de futebol é mais fácil do que exportar música e cultura", observa Michele Miranda, jornalista musical. Diferente do reggaeton, impulsionado por comunidades latinas nos Estados Unidos, o Brasil possui uma diáspora menor e menos influente.
Mesmo assim, produtores acreditam que o funk está à beira de uma expansão global. Recentemente, Beyoncé e Kanye West samplearam batidas do gênero em seus álbuns. Papatinho, um dos principais produtores brasileiros, relata que, até pouco tempo atrás, artistas americanos desconheciam o funk. Agora, ele recebe ligações de nomes como Timbaland, Snoop Dogg e o próprio Kanye, todos interessados em suas produções. "Antes, eu adicionava funk em pequenas doses, como um tempero. Agora, as pessoas querem o molho inteiro", afirma.
O interesse crescente de grandes nomes da indústria musical está alinhado ao avanço do mercado latino-americano e africano, que se destacam como os de crescimento mais rápido no setor. O Brasil já representa quase um quarto da base ativa mensal do Spotify, segundo Roberta Pate, da filial brasileira da plataforma. Para ela, a chave para o sucesso de gêneros como o reggaeton foi a consistência dos artistas em investir na conquista do público internacional. Se Anitta for um indicativo, o funk pode estar muito perto de atingir esse objetivo.
Fonte: Brasil 247 com informações publicadas pela revista inglesa The Economist
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