Governo zera tarifa de nove produtos para conter inflação, mas ruralistas alegam “concorrência desleal” enquanto lucram com alta do dólar
A decisão do governo federal de zerar a tarifa de importação para nove alimentos essenciais gerou forte reação do setor agropecuário e de políticos alinhados à bancada ruralista. A medida visa reduzir os preços ao consumidor diante da inflação persistente e abrange produtos como milho, carnes, café, açúcar, azeite, sardinha, óleo de girassol, massas e biscoitos. No entanto, mesmo diante do impacto positivo esperado para a população, entidades do agronegócio e representantes políticos criticaram a iniciativa, alegando que prejudica os produtores nacionais.
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), uma das mais influentes no Congresso Nacional, classificou a decisão como “ineficaz” e “superficial”, acusando o governo de penalizar os produtores brasileiros em vez de adotar medidas estruturais. Em nota oficial, a FPA declarou: “Não é transferindo o ônus de bancar o desequilíbrio do gasto público do governo para os produtores rurais que teremos uma comida mais barata e uma produção economicamente viável”.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), também criticou a isenção tributária e argumentou que o governo está promovendo uma “concorrência desleal” contra a produção nacional. “Isso compromete diretamente os setores produtivos do país. Na hora de governar, a esquerda é um zero à esquerda”, atacou.
⊛ Setor agro é beneficiado pela alta do dólar
As críticas à medida ignoram um ponto central: o setor agropecuário brasileiro se beneficia diretamente da desvalorização do real e da crise alimentar global. Como grande exportador de commodities, o agronegócio lucra com a alta do dólar, que eleva os preços internos de produtos básicos. A venda para o mercado internacional se torna mais vantajosa do que o abastecimento doméstico, o que contribui para a carestia dos alimentos no Brasil.
Esse fator estrutural da economia brasileira reflete a lógica de um setor que prioriza a exportação em detrimento da segurança alimentar da população. Enquanto os consumidores enfrentam dificuldades para arcar com os custos da alimentação, os grandes produtores e tradings do agro acumulam lucros recordes com vendas externas.
⊛ Governo rebate críticas e reforça foco no consumidor
Diante da resistência do setor agropecuário, o governo federal defende a isenção tarifária como um instrumento emergencial para aliviar a pressão sobre os preços. O vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, rebateu as críticas e garantiu que a decisão não compromete os produtores nacionais.
“Nós entendemos que não. Você tem períodos de preços mais altos, mais baixos. Estamos em um momento em que reduzir o imposto ajuda a reduzir preços. Você está complementando. Não vai prejudicar o produtor, mas beneficiar os consumidores”, afirmou Alckmin.
Especialistas apontam que, apesar de paliativa, a redução das tarifas de importação pode trazer um alívio imediato ao consumidor, que tem sentido no bolso os impactos da inflação dos alimentos. No entanto, sem mudanças estruturais na política agrícola e cambial do país, a dependência do Brasil da exportação de commodities continuará tornando a alimentação mais cara para a população.
Fonte: Brasil 247
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