domingo, 2 de março de 2025

Mauro Cid se isola após delação e denúncia de golpe: 'não confia mais em ninguém'

Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro vive recluso e evita contato social após acusação da PGR

      Mauro Cid presta depoimento à Polícia Federal (Foto: Reprodução )

Peça-chave na investigação que levou a Procuradoria-Geral da República (PGR) a denunciar Jair Bolsonaro (PL) e aliados por tentativa de golpe de Estado, o tenente-coronel Mauro Cid tem levado uma rotina cada vez mais isolada no Setor Militar Urbano, em Brasília, relata reportagem do jornal O Globo. Seguindo um padrão de reclusão desde sua delação premiada, que teve o sigilo derrubado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Cid evita qualquer tipo de interação e, segundo relatos de vizinhos e conhecidos, desconfia até mesmo de amigos próximos.

O oficial, que durante quatro anos esteve no epicentro do governo Bolsonaro, raramente sai de casa. Quando o faz, opta por trajetos alternativos por acreditar estar sendo seguido. Sua presença foi observada algumas vezes no restaurante Costelita, frequentado por oficiais de alta patente, onde compra marmitas e retorna rapidamente para sua residência. Relatos indicam que Cid está visivelmente "abatido e arredio", não trocando palavras com conhecidos nem respondendo a cumprimentos. Em dezembro de 2024, um general tentou abordá-lo, mas ele sequer percebeu a saudação.

A delação de Cid se tornou um dos principais elementos da investigação contra Bolsonaro e mais 32 aliados, acusados de tentativa de golpe de Estado. Como parte do acordo firmado com a Justiça, ele está submetido ao uso de tornozeleira eletrônica, o que o leva a utilizar calças compridas sempre que precisa sair. Seu cotidiano se restringe à sua residência, cuja rua de acesso está bloqueada com cones, sendo monitorada por militares.

A paranóia de Cid tem aumentado nos últimos meses, segundo conhecidos. Um vizinho que costumava frequentar sua casa relatou que ele não confia mais em ninguém e acredita estar sendo vigiado constantemente. A suspeita de que pessoas próximas possam repassar informações à imprensa ou à polícia o fez se afastar até mesmo de familiares. "Minha vida acabou", disse ele à Justiça em 22 de março de 2024.

Apesar do temor constante de estar sendo monitorado, a retirada do sigilo de sua delação trouxe algum "alívio", segundo fontes próximas. Para Cid e sua defesa, a exposição do conteúdo de suas mensagens reforça a tese de que ele era "apenas um intermediário" e "cumpridor de ordens", sem participação direta na articulação do golpe. No entanto, caso se torne réu, sua carreira militar será definitivamente comprometida, sem possibilidade de promoção a coronel.

O tenente-coronel já enfrentou duas prisões desde que as investigações tiveram início. Entre maio e setembro de 2023, ficou detido no Batalhão da Polícia do Exército, até firmar um acordo de colaboração premiada, homologado pelo STF em setembro daquele ano. Solto em novembro, chegou a afirmar ao Globo que estava "tudo tranquilo". Mas a calmaria durou pouco. Em março de 2024, áudios divulgados pela revista Veja revelaram críticas de Cid à Polícia Federal e ao ministro Alexandre de Moraes, levando a uma nova prisão. Sua defesa alegou que os áudios eram apenas um "desabafo". Dois meses depois, o oficial foi novamente solto.

Desde então, sua vida tem sido marcada pelo isolamento e por uma crescente desconfiança. Sem perspectivas claras sobre o futuro, Cid se tornou um personagem central em um dos casos mais graves da história política recente do Brasil, mas agora se encontra isolado, evitando até mesmo aqueles que antes o cercavam.

Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Globo

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