domingo, 30 de março de 2025

Lindbergh ironiza confissão de Bolsonaro à Folha: “o tiro saiu pela culatra”

Ex-presidente admitiu discussões sobre golpe de Estado e uso de medidas excepcionais para anular eleições e prender ministro do STF

      Lindbergh Farias | Jair Bolsonaro (Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados | REUTERS/Bernadett Szabo)


O líder do PT na Câmara, deputado federal Lindbergh Farias (RJ), reagiu neste sábado (29) à entrevista concedida por Jair Bolsonaro (PL) ao jornal Folha de S.Paulo, na qual o ex-presidente, atualmente réu no Supremo Tribunal Federal (STF), admitiu ter discutido com militares a adoção de medidas excepcionais após o resultado das eleições de 2022. Segundo Lindbergh, o conteúdo da entrevista representa uma “confissão de culpa”. “O réu Jair Bolsonaro com essa entrevista à Folha pretendia criar uma vacina contra os depoimentos dos comandantes militares [...] O tiro saiu pela culatra. A entrevista é uma confissão de culpa”, afirmou o parlamentar em postagem nas redes sociais.


A reportagem da Folha, publicada neste sábado (29), apresenta declarações de Bolsonaro sobre o período pós-eleitoral que precedeu os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Em tom defensivo, ele admitiu ter discutido com militares a aplicação do artigo 142 da Constituição, além dos dispositivos de estado de defesa, estado de sítio e intervenção federal — todos mecanismos previstos constitucionalmente, mas, segundo especialistas e o próprio STF, inaptos para justificar qualquer tipo de ruptura democrática.

“Conversei com as pessoas, dentro das quatro linhas, o que a gente pode fazer?”, afirmou Bolsonaro, na sede do Partido Liberal, ao descrever as conversas que teve com sua equipe e comandantes militares. “Golpe não tem Constituição”, prosseguiu. “Um golpe, a história nos mostra, você não resolve em meses. [...] Então foi descartado.”

Lindbergh destacou que, ao admitir ter levantado com os comandantes a possibilidade de decretar estado de defesa ou estado de sítio para anular uma eleição e prender o ministro do STF Alexandre de Moraes, Bolsonaro reconhece a natureza golpista da trama. “Estado de Defesa e Estado de Sítio estão previstos na Constituição para manter a ordem pública e a paz social e não anular uma eleição”, criticou.

A entrevista de Bolsonaro ocorre em meio ao agravamento de sua situação jurídica. Aos 70 anos, o ex-presidente já figura como réu no STF por sua participação na tentativa de subverter o resultado das eleições. As acusações, que incluem organização criminosa e tentativa de golpe de Estado, podem somar mais de 40 anos de prisão.

O ex-capitão também comentou a delação de seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, que o acusou de ordenar a adulteração de seu cartão de vacinação contra a Covid-19. Bolsonaro negou veementemente:

“Eu jamais faria um pedido desse para alguém, me desmoralizaria politicamente, porque sempre fui contra a vacina.”

O ex-presidente ainda celebrou o pedido de arquivamento feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR) nesse caso, feito pelo procurador Paulo Gonet.

“O procurador [...] chegou à conclusão que não tinha indícios mínimos de eu ter mandado falsificar o cartão”, disse Bolsonaro, acrescentando que a decisão deveria servir de alerta sobre os demais processos que enfrenta: “Mais que uma sinalização, uma luz vermelha contra o processo.”

A entrevista, que parece ter sido pensada como estratégia para suavizar sua imagem diante das revelações feitas por militares à Polícia Federal, teve efeito contrário, segundo analistas e integrantes da oposição. Para Lindbergh, em vez de aliviar a pressão, Bolsonaro forneceu elementos adicionais que reforçam o entendimento de que houve, sim, tentativa de golpe de Estado.

Fonte: Brasil 247

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