
Golpistas na Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 – Reprodução/Agência Brasil
As comparações entre o julgamento do plano de golpe de 8 de janeiro e o escândalo do mensalão são inadequadas e sem fundamento, afirmou a antropóloga Isabela Kalil, da FESPSP, em entrevista ao UOL News neste domingo (23). Segundo a especialista, há diferenças significativas entre os dois casos, tornando a equiparação perigosa e imprecisa.
◉ Diferenças estruturais entre os casos
Kalil destacou que, apesar da gravidade do mensalão e de outros escândalos de corrupção, como a Lava Jato, a tentativa de golpe do 8 de janeiro possui outra dimensão. Ela alertou que a comparação deve ser feita com cautela e apontou um fator político importante:
“Eu acho descabido essa comparação, porque ela é muito perigosa, porque a gente está falando de coisas que são distintas de fato. Isso não significa minimizar o que foi escândalo de corrupção, questões envolvendo a Lava Jato ou até o mensalão. Comparar mensalão e o 8 de janeiro precisa ter um determinado cuidado. Primeiro, há um interesse, isso é público, todo mundo sabe, que há um interesse que esse julgamento aconteça, se possível, ainda no ano de 2025, para que não contamine o ano eleitoral de 2026. Então, isso está posto, a gente sabe que é isso”.
◉ Impacto da tecnologia e diferenças no sistema judiciário
Outro ponto levantado por Kalil é a evolução da tecnologia e do sistema judiciário brasileiro desde o mensalão. Ela lembrou que, na época, muitos documentos estavam em formato físico, exigindo um longo processo de digitalização para torná-los acessíveis a todas as partes. Hoje, os processos já nascem digitais, acelerando as tramitações e mudando a dinâmica dos julgamentos:
“Comparar com o mensalão, tem uma série de problemas. Primeiro, quando a gente teve o julgamento do mensalão, a própria tecnologia era diferente. A justiça brasileira precisou de um prazo para pegar o que estava em papel e digitalizar para ficar acessível para todas as partes. Hoje já não é mais assim. Hoje todos os processos já são digitais”, disse.
“Então, a tecnologia mudou, a Corte tem uma configuração que é diferente da do mensalão, não são os mesmos ministros. Tem muita coisa que aconteceu. A gente tem uma expertise diferente, a Corte e todo o sistema de justiça aprendeu com os erros e acertos do mensalão. Por último, são processos diferentes”.
“Uma coisa é a gente julgar o mensalão, e aí eu não estou minimizando a relevância do julgamento do mensalão, mas outra coisa é julgar uma tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, uma tentativa de golpe do Estado. A gente está falando de coisas que são distintas. A comparação é válida para a gente ter parâmetro, mas a gente tem que ter muito cuidado com essa comparação”, acrescentou.
◉ Gravidade do 8 de janeiro e tentativa de minimização
Para a especialista, o julgamento do 8 de janeiro se distingue por tratar de uma tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, o que vai além de crimes de corrupção internos ao sistema. “Essa comparação é uma tentativa também de minimizar os atos do 8 de janeiro e colocar os atos do 8 de janeiro como se eles fossem atos menores. Corrupção é um ato menor? Nesse caso, basicamente, a ideia é a seguinte. Quando a gente está falando de corrupção, a gente está falando de crimes que estão acontecendo dentro do nosso sistema”, alertou.
“Agora, quando você tem uma ação coordenada para acabar com o sistema como todo, é uma coisa diferente. Então, tem também essa tentativa de igualar para tentar criar uma espécie de minimização do que é, de fato, o processo do 8 de janeiro”.
Confira:
Fonte: DCM com informações do UOL News1'
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