Especialista alerta para gravidade das declarações e estratégias da extrema direita no Brasil e nos Estados Unidos
Em entrevista ao programa Boa Noite 247, a advogada e professora Gisele Ricobom fez uma análise contundente sobre os recentes movimentos da extrema direita no Brasil e nos Estados Unidos. Segundo ela, o discurso de suposta perseguição política utilizado por alguns parlamentares e figuras públicas tem como objetivo "fragilizar o Judiciário e criar uma falsa narrativa de ruptura institucional". Ricobom enfatizou que a própria legislação penal brasileira já tipifica como crime algumas das atitudes que vêm sendo adotadas.
"O próprio Código Penal prevê, no artigo 359-C, que é crime entregar a governo estrangeiro ou a organização criminosa estrangeira documentos classificados como secretos ou ultrassecretos, cuja revelação possa colocar em perigo a soberania nacional", explicou a especialista. "O mínimo que deveria acontecer é uma investigação sobre essas atitudes, especialmente quando partem de um parlamentar que ocupa um cargo público e tem responsabilidades com a nação”.
Ricobom também abordou as constantes investidas contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e a tentativa de interferência internacional na política brasileira. "Quando um deputado brasileiro pede a intervenção de um governo estrangeiro no país, ele atenta frontalmente contra a soberania nacional. Isso não é uma questão de liberdade de expressão, é uma tentativa clara de desestabilização", alertou.
A advogada chamou atenção para o fato de que o pedido de interferência estrangeira não é um episódio isolado. "Vimos isso acontecer também no ato realizado em Copacabana, onde se clamou por uma intervenção dos Estados Unidos. Além disso, houve uma declaração clara de que se espera que Donald Trump assegure a 'liberdade do Brasil'. Mas o que ele pode fazer? Trump está atacando a própria democracia norte-americana, então o que se espera que ele faça pelo Brasil?", questionou.
Ataques ao Judiciário e estratégia da extrema direita - Para Ricobom, há um padrão global de comportamento das lideranças da extrema direita que inclui ataques sistemáticos ao sistema de Justiça. "Todos os países onde essa ideologia assume o poder passam por tentativas de deslegitimar o Judiciário, que é o contrapeso ao Executivo. Nos Estados Unidos, Trump já afirmou: 'a lei sou eu'. Isso demonstra o projeto autoritário que busca desmontar as instituições democráticas", afirmou.
Ela destacou a recente tentativa de Trump de perseguir juízes e promotores que participaram de investigações contra ele. "Há pedidos de impeachment contra juízes que tomaram decisões contrárias a seus interesses. Isso é um ataque direto ao sistema de justiça. No Brasil, estamos vendo um movimento semelhante de desestabilização, especialmente contra Alexandre de Moraes”.
O futuro das investigações e o impacto para o Brasil - A professora também comentou sobre o desenrolar das investigações e dos julgamentos no STF. "Esses processos não vão se encerrar rapidamente. Estamos falando de um julgamento que pode se estender por todo o ano, dada a complexidade das provas e o volume de pessoas envolvidas", avaliou. "O Supremo está sendo cauteloso, aprendendo com os erros da Lava Jato para evitar medidas precipitadas ou autoritárias”.
Ricobom ressaltou a importância desses julgamentos para a consolidação da democracia brasileira. "Esses processos não são apenas sobre indivíduos, mas sobre a preservação do regime democrático. Quem premeditou golpe, quem tentou impedir o curso do processo eleitoral, deve ser responsabilizado. A estabilidade política do país depende disso”.
Interferência internacional e redes sociais - Outro ponto de preocupação apontado pela especialista é a interferência através das plataformas digitais. "Já há uma ingerência clara de Elon Musk e de outros atores na política brasileira. Não resta dúvida de que tentarão influenciar as eleições de 2026 por meio da disseminação de fake news e campanhas de desestabilização", alertou. "A estratégia da extrema direita é destruir as estruturas institucionais da democracia para aprofundar o autoritarismo e garantir sua permanência no poder”.
Por fim, Ricobom destacou que, apesar das tentativas de pressão, o STF tem se mantido firme. "O Supremo e Alexandre de Moraes não se deixaram desestabilizar por essas ameaças. O que estamos vendo é um enfrentamento necessário contra aqueles que tentam minar o Estado Democrático de Direito”.
A entrevista de Gisele Ricobom no Boa Noite 247 expõe com clareza os riscos da escalada autoritária e a importância da resistência institucional para a manutenção da democracia no Brasil.
Fonte: Brasil 247
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