Influenciadora digital Aline Dutra, a EsquerdoGata, relata ameaças, perseguição e violência por sua militância política
A influenciadora digital Aline Dutra, conhecida nas redes sociais como EsquerdoGata, concedeu uma entrevista ao programa Boa Noite 247, na qual relatou as ameaças de morte que já recebeu, o impacto da violência política em sua vida pessoal e sua visão sobre a atual conjuntura política brasileira. "Se eu cresço muito na internet ou se a direita volta ao poder, eu não tenho coragem de morar no Brasil", afirmou.
Aline, que também é historiadora e ex-professora, destacou a importância do funcionamento das instituições democráticas após os anos de descredibilização durante o governo Bolsonaro. "Eu acho que isso é muito importante pra mostrar que as instituições funcionam, porque elas foram totalmente descredibilizadas durante anos de governo Bolsonaro", disse. Para ela, o Brasil ainda está saindo do "buraco" deixado pelo bolsonarismo, mas os avanços recentes dão esperança de "dias melhores".
☉ A surpresa com a "burrice" bolsonarista
A influenciadora afirmou que sempre acreditou que Jair Bolsonaro seria preso, mas se surpreendeu com a quantidade de provas deixadas por ele e seus aliados. "Nunca duvidei [da prisão], só que não tinha noção do quanto eles conseguiriam produzir provas contra eles mesmos", disse. "Eles falaram o golpe, escreveram o golpe, digitaram o golpe, filmaram o golpe, imprimiram. Só faltou fazer um PowerPoint e passar na GloboNews", ironizou.
O que mais chocou Aline foi a descoberta de planos de assassinatos e a profundidade das articulações golpistas. "Eu sabia que ele [Bolsonaro] era mau, mas eu não sabia que ele era tão mau", revelou.
☉ A perseguição e ameaças
A militância política na internet fez de Aline um alvo constante de ameaças, algumas das quais foram levadas à justiça. A mais grave envolveu o próprio filho, que, aos 12 anos, teve sua escola monitorada por uma mulher que ameaçou esquartejá-lo. "Me mandaram uma foto da escola dele e, na sequência, uma imagem de uma criança esquartejada", contou. O caso está na Justiça e a autora da ameaça, uma mulher baiana evangélica, alegou que queria apenas assustá-la.
O impacto foi devastador para sua família. "Eu não mandei meu filho pra escola durante mais de um mês e ele reprovou o ano escolar", lamentou.
Além das ameaças virtuais, Aline já sofreu agressões físicas e humilhações em locais públicos. "Já apanhei na rua, já fui enxotada de bar com vaias de 'vagabunda'. Uma mulher já me jogou um copo", relatou.
☉ A ascensão de EsquerdoGata e a luta contra a ignorância política
A influenciadora ganhou notoriedade nas redes sociais com vídeos que desmascaravam símbolos e estratégias da extrema-direita, muitas vezes usando humor. "No início, eu achava que as pessoas estavam errando por ignorância. Pensei que, ao saberem que Bolsonaro fazia referências a Hitler, mudariam de lado. Tolinha! Mal sabia eu que eles só ficariam mais afinados em caráter", disse.
O humor foi uma ferramenta essencial para sua comunicação. "Foi um vídeo de comédia, uma paródia bolsonarista, que viralizou e me fez ganhar milhares de seguidores da noite pro dia", lembrou. Desde então, sua personagem satírica "Pietra" se tornou um sucesso, ajudando a esquerda a dialogar de forma mais leve.
☉ "Mexi com a polícia em um bar bolsonarista. Pedi pra apanhar"
Um dos episódios mais violentos de sua trajetória ocorreu em um bar de Ribeirão Preto, cidade onde mora. Aline denunciou policiais que recebiam refeições gratuitas de um estabelecimento e questionou a normalização desse privilégio. "Mexi com polícia num bar bolsonarista. Pedi pra apanhar", disse. O protesto gerou revolta no local. "O bar inteiro se voltou contra mim. Uma mulher me jogou cerveja no rosto e depois um copo de vidro", relatou.
A violência não parou por aí. "Um homem de 1,90m levantou e falou: 'Eu só não te bato porque você é feia'. Olha o quanto o discurso do Bolsonaro ficou no imaginário dessas pessoas", disse, referindo-se à infame frase do ex-presidente sobre a deputada Maria do Rosário.
☉ O medo de um futuro autoritário
Aline reconhece que o crescimento de sua página também aumenta sua exposição ao perigo. "Quando cheguei a 500 mil seguidores, tive pânico. Pensei em fechar a página", disse. O temor aumentou após o atentado frustrado em Brasília, quando um homem tentou explodir um caminhão no final de 2022. "Se a direita volta ao poder, eu não tenho coragem de morar no Brasil", desabafou.
Apesar do medo, Aline afirma que continuará lutando pelo Brasil. "Acredito que a gente precisa fortalecer nossa democracia, que ainda está muito fragilizada", finalizou. Assista:
Fonte: Brasil 247
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