quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Redução na inelegibilidade de Bolsonaro só pode acontecer com aval do STF, avaliam juristas

 

Aliados de Bolsonaro articulam mudança na Ficha Limpa no Congresso para driblar inelegibilidade. Foto: Amanda Perobelli/Reuters

A bancada bolsonarista no Congresso Nacional está mobilizada para reduzir o período de inelegibilidade de políticos condenados, de oito para dois anos, uma mudança que poderia beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). No entanto, juristas alertam que a aplicação da nova regra aos processos do ex-presidente dependeria de análises do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cuja jurisprudência tende a manter sanções mais rígidas.

A expectativa dos aliados de Bolsonaro é que o novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), acelere a tramitação de um projeto de lei complementar que altera a Lei da Ficha Limpa. O texto, que está na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, tem como relator o deputado bolsonarista Filipe Barros (PL-PR).

A proposta, de autoria do deputado Bibo Nunes (PL-RS), visa reduzir o prazo de inelegibilidade para dois anos, contados a partir da eleição que resultou na punição.

Na quarta-feira (5), Hugo Motta reafirmou sua posição em entrevista à rádio CBN, afirmando que oito anos de inelegibilidade “são basicamente uma eternidade”.

“Quem está na vida pública e teve alguns problemas de condenações, até mesmo injustas, acaba sofrendo com essa questão da inelegibilidade. Oito anos representam quatro eleições no modelo democrático que temos, e quatro eleições é basicamente uma eternidade”, disse Motta.

Huto Motta, novo presidente da Câmara dos Deputados. Foto: Mario Agra/Câmara dos Deputados

A proposta já conta com o apoio de 73 deputados de direita e extrema-direita, incluindo parlamentares do PL, MDB, Patriota, PP, PSD e Republicanos. A família Bolsonaro, especialmente o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), tem participado ativamente das articulações.

A mudança, se aprovada, beneficiaria políticos de todo o espectro, mas tem como foco principal permitir que Jair Bolsonaro dispute as eleições presidenciais de 2026.

Atualmente, Bolsonaro está inelegível até 2030 após duas condenações pelo TSE em 2023: uma por disseminar desinformação sobre o sistema eleitoral em uma reunião com embaixadores e outra por uso indevido da comemoração do 7 de Setembro de 2022. A defesa do ex-presidente recorreu das decisões, e os processos ainda aguardam julgamento no STF e no TSE.

A eventual mudança na lei não garante automaticamente a retroatividade para casos já julgados. Fernando Neisser, da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), explica que o STF teria de avaliar se a redução valeria para condenações antigas ou apenas para novas.

“O STF já adotou a lógica de valer para casos julgados quando a Lei da Ficha Limpa aumentou o período de inelegibilidade, de três para oito anos. Por outro lado, o Supremo pode entender que a redução de oito para dois anos tornaria a lei inócua, violaria o princípio da moralidade, ou até que seria inconstitucional”, afirmou Neisser em entrevista ao jornal O Globo.

Além disso, o TSE também poderá avaliar a retroatividade ao julgar pedidos de registro de candidatura, como ocorreu em 2010, quando a Lei da Ficha Limpa foi aprovada. Na época, alguns candidatos tiveram seus prazos de inelegibilidade estendidos.

A mudança na lei não protegeria Bolsonaro de todas as possíveis condenações. Caso seja denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e condenado pelo STF no inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente poderá ficar inelegível por crimes contra o Estado Democrático de Direito, que também são previstos na Lei da Ficha Limpa.

Fonte: DCM

Nenhum comentário:

Postar um comentário