quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

PGR diz que Bolsonaro “preparava comunidade internacional” para golpe

 

O então presidente Jair Bolsonaro (PL) durante reunião com embaixadores em 18 de julho de 2022. Foto: Reprodução

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) atuou para que a comunidade internacional adotasse uma postura de “tolerância” diante do que seria um golpe de Estado no Brasil. A acusação consta na denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) nesta terça-feira (19) contra o ex-capitão e outras 33 pessoas.

Segundo a PGR, a denúncia se baseia na reunião de 18 de julho de 2022, quando Bolsonaro se encontrou com embaixadores e representantes diplomáticos de outros países.

Na ocasião, ele “verbalizou as conhecidas e desmentidas acusações sobre fraudes, por meio de truques informáticos, em vias de serem cometidas”. O objetivo, segundo a acusação, era “preparar o terreno” para questionar o resultado eleitoral.

“O que parecia, à época, um lance eleitoreiro, em si mesmo ilícito e causador de sanções eleitorais, mostrou-se, a partir da trama desvendada no inquérito policial, um passo a mais de execução do plano de solapar o resultado previsto e temido do sufrágio a acontecer logo adiante”, afirmou a PGR.

Para a procuradoria, a fala de Bolsonaro aos embaixadores foi um elemento-chave da estratégia golpista: “O descrédito do sistema de eleição e as palavras acrimoniosas de suspeitas sobre Ministros do STF e do TSE, temário do discurso do Presidente da República aos representantes diplomáticos em Brasília, representavam passo a mais na execução do plano de permanência no poder, independentemente do resultado das urnas”.

Bolsonaro também teria explicitado essa intenção durante o evento ao afirmar: “Estamos tentando antecipar um problema que interessa para todo mundo. O mundo todo quer estabilidade democrática no Brasil”. Para a PGR, essa declaração demonstrava que “preparava-se a comunidade internacional para o desrespeito à vontade popular apurada nas eleições de outubro”.

Paulo Gonet, procurador-geral da República, responsável pela denúncia contra Bolsonaro por golpismo. Foto: Reprodução

A denúncia aponta que o grupo articulador do golpe sabia da importância da aceitação externa do plano. Como evidência, cita um documento apreendido durante a investigação, no qual se recomendava “a exploração da base legal nos cenários interno e externo e a exploração global dos indícios de fraude”.

Inicialmente, a reunião foi interpretada como uma tentativa indevida de interferência eleitoral. No entanto, segundo a Polícia Federal (PF), as investigações revelaram “a faceta de interesse também penal do evento”.

Para a PGR, o discurso promovido por Bolsonaro naquela ocasião fazia parte de uma estratégia maior de enfraquecimento do Estado Democrático de Direito, “no âmbito nacional e internacional”.

O objetivo do encontro, segundo a PGR, foi “incutir na sociedade o sentimento de insubordinação aos poderes constituídos” e minar a confiança no sistema eleitoral. A denúncia destaca que Bolsonaro usou o peso do cargo para dar credibilidade a falsas acusações contra as urnas eletrônicas e os ministros do TSE.

“A circunstância de essas palavras haverem sido vertidas com solenidade, pelo Chefe de Estado, perante a comunidade dos representantes diplomáticos estrangeiros, induzia o cidadão a conferir ainda maior verossimilhança às acusações infundadas, em prejuízo da clareza da verdade”, afirma a PGR.

O órgão conclui que o discurso de Bolsonaro “reforçou a estratégia da organização criminosa de perturbar a tranquilidade social que deveria ambientar as eleições no sistema democrático”.

Fonte: DCM

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