Manobra visa controlar a pauta e evitar que a discussão se torne um peso político antes do tempo
Hugo Motta (Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados)
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), fechou um acordo com a oposição bolsonarista para evitar surpresas em relação ao projeto de anistia aos golpistas de 8 de janeiro, um tema que domina as discussões da direita e é visto como fundamental para reabilitar Jair Bolsonaro (PL) para a corrida presidencial de 2026. A manobra visa controlar a pauta e evitar que a discussão se torne um peso político antes do tempo.
Segundo a coluna da jornalista Malu Gaspar, de O Globo, fontes ligadas à oposição na Casa Legislativa confirmam que o 1º vice-presidente da Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ), comprometeu-se a não pautar o projeto enquanto estiver no comando da Casa, durante as ausências de Motta em viagens ao exterior ou eventuais licenças. Côrtes, que recentemente deixou a liderança do PL, também alinhou com Motta que a anistia só será discutida quando houver uma avaliação de que há chances reais de aprovação no plenário.
A aliança entre Motta e Côrtes se reflete nas movimentações nos bastidores da política, incluindo declarações recentes do presidente da Câmara. Em entrevista à Rádio Arapuan FM, de João Pessoa (PB), na sexta-feira (7), Motta minimizou os acontecimentos de 8 de janeiro, alinhando-se à narrativa bolsonarista ao afirmar que os ataques não configuraram uma tentativa de golpe contra o presidente Lula, e condenou "exageros" nas punições dos envolvidos, especialmente nas sentenças do Supremo Tribunal Federal (STF).
A articulação de Motta também é uma resposta ao desejo do PL, que vê na anistia uma oportunidade estratégica para reabilitar Bolsonaro, que está inelegível até 2030. Apesar de a bancada do PL ser a maior da Câmara e o partido ter grande influência no Senado, a liderança do PL e o próprio Bolsonaro não cogitaram lançar uma candidatura própria nas eleições de 2026, preferindo focar em ocupar posições-chave para viabilizar o projeto da anistia. No Senado, o PL tem garantido o apoio de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), em troca da indicação de Eduardo Gomes (PL-TO) como 1º vice-presidente.
"Não queremos esperar a anistia para o futuro presidente de direita, caso seja eleito em 2026 e vá tomar posse em 2027", declarou Bolsonaro à revista Oeste em janeiro, sublinhando a urgência da medida para sua reabilitação política.
Ainda segundo a reportagem, a estratégia do PL é fazer um aceno ao novo presidente da Câmara, que, embora tenha expressado apoio à discussão da anistia, pretende abordar o tema com cautela, para evitar agravar o já tenso relacionamento entre os Poderes. "Vamos tratar esse tema de maneira muito tranquila, para que não seja mais um fator para aumentar o tensionamento entre os poderes", declarou Motta.
Atualmente, tramitam na Câmara e no Senado projetos de anistia, com três de autoria de aliados de Bolsonaro já sendo discutidos na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), além de iniciativas de outros parlamentares, como o senador Marcio Bittar (União Brasil-AC) e o ex-vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS). Em paralelo, Ciro Nogueira (PP-PI) apresentou um projeto que visa anistiar Bolsonaro da inelegibilidade por oito anos, imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Globo
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