sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Mensagens mostram delegada da PF combinando cerco a eleitores de Lula em 2022

 

Marília Ferreira de Alencar, ex-diretora de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do DF na gestão de Anderson Torres. Foto: Reprodução

A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou a delegada da Polícia Federal Marília Ferreira Alencar por integrar a organização criminosa que atuou para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder por meio de uma tentativa de golpe de Estado.

Segundo a denúncia, apresentada nesta semana, Marília, que foi subsecretária de Segurança Pública do Distrito Federal e diretora de Inteligência do Ministério da Justiça durante a gestão de Anderson Torres, organizou blitze pelo país para impedir que eleitores do então candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegassem às seções de votação no segundo turno das eleições de 2022.

As intenções de interferir no voto popular ficaram mais claras em um grupo de mensagens que incluía o delegado da PF Fernando de Souza, então diretor de operações do Ministério da Justiça, e o coordenador de operações Leo Garrido, que não foi denunciado nesta fase. No grupo, intitulado “Em off”, Marília fez um levantamento sobre redutos lulistas e sugeriu reforçar a presença da PF em áreas onde o petista teve alta votação. As mensagens foram tornadas públicas nesta sexta-feira (21).

No dia do primeiro turno das eleições, em 2 de outubro de 2022, a delegada enviou uma mensagem a Fernando de Souza sugerindo uma “ofensiva” em relação às pesquisas eleitorais. Quatro dias depois, em 6 de outubro, ela encaminhou a Fernando um plano de trabalho para atuação nas capitais do país durante o pleito.

“[Em] Belford Roxo (RJ), o prefeito é vermelho. Precisa reforçar PF”, escreveu Marília. “Menos 25.000 votos no 9 [nine, como se referiam a Lula]”, acrescentou. Em outra mensagem, ela destacou: “Pelotas (RS) Pelotas foi 52×36 [%] pro Lula. 202 mil habitantes”. Fernando respondeu sugerindo o envio de equipes ao Rio Grande do Sul, estado com forte presença de eleitores petistas.

A delegada solicitou um levantamento dos locais onde Lula teve votação expressiva no primeiro turno e articulou ações para dificultar o acesso de eleitores petistas às urnas. As informações constam na denúncia da PGR, que acusa Marília e outros envolvidos de atuar em uma organização criminosa com o objetivo de garantir a vitória de Bolsonaro.

Em 16 de outubro de 2022, 15 dias antes do segundo turno, Garrido anunciou no grupo que havia finalizado os planos para a Bahia, Ceará e Pernambuco, estados nordestinos que concentravam grande número de votos em Lula. As mensagens trocadas no grupo demonstravam o interesse em intervir nas eleições, conforme destacou a PGR na denúncia.

“Está claro o desvio de finalidade das ações policiais do grupo, orientadas ao propósito comum dos integrantes da organização criminosa de impedir, também mediante o emprego de atitudes de força, que o candidato agora denunciado fosse afastado do Poder”, afirmou a PGR.

O órgão destacou que as investigações revelaram uma “forte rede de comunicações” entre os denunciados, com evidências de reuniões e decisões tomadas para garantir a vitória de Bolsonaro.

As planilhas analisadas pelos grupos forneceram dados detalhados sobre o número de votos recebidos por candidatos no primeiro turno das eleições em cada município do Brasil. Essas informações foram usadas para criar um painel de Business Intelligence (BI) solicitado por Marília Alencar, segundo a PGR.

A denúncia também aponta que Silvinei Vasques, então diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), acolheu as diretrizes ilícitas dos denunciados e direcionou os recursos da PRF para inviabilizar a derrota de Bolsonaro. “As diretrizes manifestamente ilícitas construídas pelos denunciados foram acolhidas por Silvinei Vasques, que direcionou os recursos da PRF para o objetivo de inviabilizar ilicitamente que Jair Bolsonaro perdesse o Poder”, afirmou a PGR.

Com a denúncia apresentada, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do caso, abriu um prazo de 15 dias para os advogados dos denunciados apresentarem defesa prévia e eventuais contestações.

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