quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Líder da bancada evangélica, Gilberto Nascimento diz que não fará oposição ao governo Lula

Deputado rejeita o rótulo de oposicionista e adota discurso moderado

      Gilberto Nascimento (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

Eleito com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para assumir a presidência da Frente Parlamentar Evangélica, o deputado Gilberto Nascimento (PSD-SP) adotou um discurso de moderação em relação ao governo federal, mas não poupou críticas à administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em entrevista ao O Globo, o parlamentar afirmou que não fará oposição sistemática, deixando essa função para os partidos políticos. No entanto, responsabilizou a condução econômica do governo pela insatisfação popular e declarou que a resistência dos evangélicos ao presidente decorre das chamadas "pautas ideológicas".

Nascimento venceu a disputa pelo comando da bancada evangélica com quase o dobro de votos do outro candidato, Otoni de Paula (MDB-RJ), que contava com a simpatia do Planalto. Durante a eleição, o pastor Silas Malafaia e Bolsonaro atuaram diretamente a favor do agora presidente da frente evangélica.

◉ Diálogo e unidade na bancada

O deputado afirmou que sua candidatura foi um movimento natural diante do desejo de membros da bancada por um nome capaz de dialogar com diferentes setores. “Acabei sendo convidado pelos parlamentares que queriam alguém capaz de dialogar com todos os lados e me coloquei”, disse. Ele minimizou qualquer divisão interna, apesar de a eleição ter sido marcada pela polarização entre alas bolsonaristas e governistas.

“Não tem divisão. Hoje estávamos presentes os três postulantes e sentimos que compartilhamos das mesmas pautas, dos mesmos princípios. Vamos sair dessa confusão partidária. Política tratamos com os partidos. Temos membros desde o PSOL até o PL. Precisamos ter diálogo, união e muito respeito”, afirmou.

◉ Resistência evangélica a Lula

Para Nascimento, a rejeição do presidente Lula entre os evangélicos se deve principalmente às suas pautas progressistas. “O presidente acha por bem discutir pautas hoje mais conservadoras, e isso gera uma insatisfação maior entre os evangélicos. Um exemplo claro disso é a liberação das drogas. Quando fala disso na igreja, todos colocam a mão na cabeça, há um desespero”, declarou.

O parlamentar afirmou que a situação era diferente nos primeiros governos petistas, quando Lula mantinha boa relação com lideranças evangélicas. No entanto, segundo ele, a mudança de postura do governo contribuiu para um distanciamento da bancada.

“O governo tem pautas muito mais abertas do que tinha anteriormente. Acho que isso automaticamente tem deixado a desejar entre os evangélicos e piorado a situação”, pontuou.

◉ Críticas à economia e postura do governo

Nascimento criticou a condução da economia pelo governo Lula, afirmando que a população está sofrendo com a atual política fiscal. “O governo tem se pautado em gastos e não em economias, como deveria fazer. Isso, logicamente, afeta quem está na ponta”, afirmou.

Questionado se considera Bolsonaro um presidente melhor para os evangélicos do que Lula, Nascimento respondeu que cada um teve seu tempo, mas destacou que o ex-presidente “teve as pautas da família muito claras”.

O deputado negou que sua gestão à frente da bancada evangélica será de oposição ao governo, mas garantiu que haverá embates quando necessário. “Não farei oposição ao governo, quem faz oposição são os partidos políticos. Como frente, não tenho essa condição de fazer oposição. Nós temos pautas definidas e vamos discutir isso. Faremos enfrentamentos, caso necessário”, declarou.

◉ Prioridades da bancada evangélica

O novo presidente da Frente Parlamentar Evangélica afirmou que ainda está levantando os projetos prioritários da bancada, mas garantiu que seguirá acompanhando temas de interesse dos evangélicos e monitorando ações do governo.

“A prioridade é continuar discutindo a nossa pauta e ficar no aguardo sempre de como vai ser a posição do governo. Às vezes vem um decreto ou portaria que fere nossas pautas, então precisamos ficar atentos. Estaremos presentes e a postos para lutar, se preciso”, disse.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do senador Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), que amplia a imunidade tributária de templos religiosos, deve ser uma das bandeiras da bancada neste ano. “Vamos trabalhar nela, claro”, confirmou Nascimento.

Com um discurso que tenta equilibrar moderação e alinhamento com a base bolsonarista, Gilberto Nascimento assume o comando da bancada evangélica num momento de disputas internas e incerteza sobre a relação da frente com o governo Lula. Se manterá a postura de “diálogo” ou se tornará mais um bastião da oposição, o tempo dirá.

Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Globo

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