“Os ministros precisam sair dos seus cercadinhos”, aponta Marco Aurélio de Carvalho
O coordenador do Grupo Prerrogativas, Marco Aurélio de Carvalho, defendeu, em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, o engajamento total dos ministros do governo federal em defesa do presidente Lula (PT). Carvalho ironizou e disse que o governo deveria instituir o programa “Pé-na-Bunda”, em referência ao programa Pé-de-Meia, para demitir os ministros que não estão engajados na defesa do presidente.
“Não dá para fazer uma defesa protocolar, restrita à própria pasta, aos interesses imediatos ou de um grupo político. Os ministros precisam sair dos seus cercadinhos. É inadmissível que um governo com tantas entregas não tenha uma avaliação compatível [...]. De toda sorte, estamos começando o segundo tempo do jogo. É fundamental que o presidente convoque os seus melhores jogadores e faça uma avaliação sobre o primeiro tempo. Se precisar desligar algum ministro, tenho certeza de que fará isso. Ninguém deve se apegar ao cargo. Eu brinco que o presidente teve sucesso com o Pé-de-Meia, um dos maiores programas educacionais da história, e agora poderia implementar o Pé-na-Bunda para quem não se engajar, não defender o governo e não entregar resultados”, disse o jurista.
“A defesa do governo não pode caber apenas ao presidente Lula. É importante que os ministros coloquem o coração na chuteira. Falta engajamento. Não quero ser injusto, não me refiro a todos, mas essa partida é de final de campeonato, não dá para fazer uma defesa protocolar, restrita à própria pasta, aos interesses imediatos ou de um grupo político”, completou.
Carvalho também defendeu que o governo amplie as alianças com o centro para barrar a extrema direita e afirmou que a reeleição de Lula é “a melhor saída” até para a elite. “O presidente não abre mão dos princípios e propósitos que marcam a esquerda no Brasil e no mundo. Todas as nossas políticas têm esta marca. Mas precisamos ampliar ainda mais nosso arco de alianças para dialogar com setores médios da população e recuperar a confiança de outros. Temos agora uma oportunidade primorosa: formar uma aliança com o setor produtivo para criar barreiras de contenção a essas políticas do Trump. A melhor saída para a própria elite brasileira é reeleger o presidente Lula, com a compreensão de que todos precisam dar uma colaboração mais efetiva para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva”, explicou.
O jurista ainda saiu em defesa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que é alvo de ataques da extrema direita. Segundo Carvalho, a oposição tenta enfraquecer Haddad já de olho nas eleições de 2030. “O Haddad é um quadro técnico da maior qualidade e tem a confiança do presidente. As críticas a ele camuflam outros objetivos. É gente colocando o carro na frente dos bois, antecipando o debate sobre o pós-Lula. O real objetivo dessas críticas é enfraquecer Haddad para um cenário futuro, que só será uma realidade a partir de 2030. Até lá, todos nós do campo progressista vamos apelar para que Lula seja candidato em 2026 e conduza sua própria sucessão. No mais, Haddad tem sido um magnífico ministro, e a Fazenda, ao lado da AGU, é uma das pastas com maior entrega”, elogiou.
PEC da Segurança - Carvalho afirmou que o governo federal precisa trabalhar “melhor” a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública. A iniciativa visa ampliar a integração entre as forças policiais no Brasil e aumentar o papel da União na segurança pública. O jurista cobrou engajamento dos ministros, especialmente de Rui Costa (PT), da Casa Civil.
“A gente pode e deve trabalhar melhor esse tema. Temos que pautar a discussão da PEC da Segurança Pública com a centralidade que ela merece. É um jogo de ganha-ganha: se perdermos, ganhamos por ter proposto o debate; se vencermos, ganhamos ainda mais. O ministro Lewandowski precisa de apoio. É um luxo para o país ter um ministro da qualidade dele. Esse tema precisa ter maior centralidade e engajamento, especialmente do ministro da Casa Civil, Rui Costa. Não dá para deixar o Lewandowski sozinho nessa discussão. Quem não faz gol, toma”, criticou.
Mauro Cid e Lava Jato - Marco Aurélio de Carvalho afirmou que “não há paralelo possível” entre as delações feitas na operação Lava Jato com a delação do tenente-coronel Mauro Cid no âmbito das investigações sobre uma tentativa de golpe de Estado pelo governo Jair Bolsonaro (PL). “Essa é uma comparação equivocada e desonesta. Nós continuamos acreditando que as delações não podem ser o único meio de prova e que se não estiverem acompanhadas de elementos que possam ser comprovados, devem ser desconsideradas. E seguimos defendendo que a espontaneidade é fundamental”, opinou.
“A delação dele é bastante coerente e relata fatos já comprovados nas investigações policiais e judiciais sobre o 8 de Janeiro. Ele menciona a minuta do golpe, que existe e foi apreendida. Diz também que havia um plano em curso para matar Lula, Alckmin, Alexandre de Moraes e uma quarta pessoa não identificada. Há vídeos mostrando pessoas em posições estratégicas para executar o plano. A narrativa de Mauro Cid, ao que parece, é coerente, espontânea e lastreou provas que já tinham sido obtidas ao longo das investigações”, completou.
Além disso, Carvalho criticou a posição do ministro da Defesa, José Múcio, sobre a tentativa de golpe. Mucio defendeu punições mais brandas aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro como forma de pacificar o país. “É fundamental individualizar as condutas para a correta dosimetria da pena. Nisso, concordamos. O que não se pode é naturalizar o 8 de janeiro e isentar os envolvidos, inclusive os militares. A única forma de pacificar o país é não anistiar nenhum golpista, ao contrário do que disse o ministro Múcio. Inclusive, o silêncio dos militares é constrangedor e mantém sobre eles uma grave suspeição”, criticou.
Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Estado de S. Paulo
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