Ex-ministro avalia os desafios do Brasil frente à desglobalização e à disputa entre EUA e China
Durante sua participação no programa Boa Noite 247, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega analisou os impactos da crescente desglobalização, destacando os desafios enfrentados pelo Brasil no cenário internacional. Mantega discutiu o papel da China como principal parceiro comercial brasileiro e alertou sobre a necessidade de proteger a indústria nacional frente à concorrência global, especialmente no setor automotivo.
◎ Relação comercial Brasil-China
De acordo com Mantega, a relação do Brasil com a China é marcada por interdependência, mas também por tensões. "O mercado brasileiro está sendo disputado pelos chineses, que têm inibido o crescimento da nossa indústria manufatureira. Ao mesmo tempo, queremos continuar exportando para eles, pois são o maior mercado para os produtos brasileiros", afirmou.
O ex-ministro destacou o impacto das importações de carros elétricos chineses, que chegam ao Brasil com preços competitivos. "Esses veículos estão quebrando a produção nacional. O governo colocou uma tarifa inicial de 10%, que aumentará gradualmente até 30%, mas eu acho que deveria ter sido mais. Não quiseram melindrar a China."
◎ O dilema do protecionismo
Mantega argumentou que, diante da tendência global de desglobalização, o Brasil precisa adotar medidas protecionistas para preservar sua indústria. "Quando todos os países estão virando protecionistas, não tem outro jeito, você também precisa proteger seu mercado. O Brasil tem um dos maiores mercados automotivos do mundo, e devemos utilizá-lo estrategicamente para atrair investimentos que gerem empregos e desenvolvimento."
Ele também ressaltou a importância de criar condições para que o Brasil substitua importações por produção local. "Se queremos proteger nossa economia, precisamos dizer: 'Quer acessar nosso mercado? Invista aqui.' Essa é a lógica que devemos seguir."
◎ Impacto da desglobalização para o Brasil
Mantega analisou as implicações da política protecionista dos Estados Unidos sob o governo de Donald Trump e o impacto indireto para o Brasil. "Os Estados Unidos vão alimentar a desglobalização parcial, impondo tarifas e bloqueios comerciais. Isso pode até beneficiar o Brasil em certos aspectos, como no setor agrícola, onde podemos substituir as exportações americanas para a China."
No entanto, ele alertou para os riscos de uma política econômica global fragmentada. "A desglobalização não será total, porque não é eficiente. Mas se não houver coordenação, tarifas muito altas podem criar inflação nos EUA e levar a uma desaceleração econômica global, afetando a todos."
◎ Ameaças e oportunidades nos BRICS
O ex-ministro também comentou sobre o papel do Brasil nos BRICS e os desafios da integração econômica no bloco. "A ideia de uma moeda comum nos BRICS ainda está distante. A própria China não quer abandonar o dólar, pois grande parte de suas reservas está nessa moeda e ela depende do mercado americano para suas exportações."
Mantega sugeriu que os BRICS foquem na criação de mecanismos para facilitar transações comerciais em moedas locais, mas destacou que o dólar continuará sendo indispensável. "Podemos criar facilidades para o comércio intrabloco, mas na hora de compensar saldos comerciais, o dólar ainda será necessário."
Assista:
Fonte: Brasil 247
Nenhum comentário:
Postar um comentário