sábado, 11 de janeiro de 2025

Em clima festivo, milhares de pessoas marcham em apoio à posse de Maduro

 

Nas ruas de Caracas, o Brasil de Fato ouviu as expectativas para os próximos seis anos de quem foi apoiar o presidente

Marcha em apoio a Nicolas Maduro na Venezuela - Zoe Alexandra


Milhares de venezuelanos saíram às ruas de Caracas na sexta-feira (10) em apoio à posse do presidente Nicolás Maduro. Desde cedo, as praças e avenidas do centro da cidade ficaram cheias de pessoas que chegaram de diferentes partes do país, enquanto bandas ao vivo acompanhavam as ruas no intenso dia caribenho em diferentes partes da capital.

As avenidas do centro de Caracas ficaram tingidas de vermelho, azul e amarelo, com bandeiras venezuelanas em toda parte. A tensão que caracterizou os últimos dias, devido à incerteza sobre as ações da oposição de direita, foram rapidamente dissipadas.
O pequeno número de pessoas que compareceram à manifestação de María Corina Machado não deixou margem para dúvidas. A atmosfera festiva da capital venezuelana contrastou drasticamente com as previsões de violência e caos feitas pelos setores da oposição de direita.

Nas ruas de Caracas, o Brasil de Fato conversou com várias pessoas que foram apoiar a posse de Maduro para conhecer suas expectativas para os próximos seis anos do novo governo.

Lilimar Acevedo, ativista contra a violência de gênero, destaca que o país está lidando com "desafios internos e externos". Aponta as sanções e o bloqueio como o principal desafio que o país ainda enfrenta.

"O bloqueio injustificado e doloroso afetou muito o nosso país. Mas nossa formação como povo, como poder popular, está em busca de uma solução para todos esses problemas. Temos o desafio de continuar a melhorar nossa saúde, educação, cultura e esporte. Todos estes anos de guerra econômica e bloqueio nos afetaram muito. Temos o objetivo de recuperar a qualidade de todos esses serviços para o nosso povo", diz.


Entre as milhares de pessoas que se mobilizaram, mais de 11 mil camponeses e pescadores do interior do país vieram à capital para acompanhar a inauguração. Ediu Gonzalez, líder camponesa do estado de Portuguesa, conta que viajaram com uma delegação de cerca de 200 pessoas.

"Viemos o melhor que pudemos para apoiar nosso governo. Temos companheiros que viajaram por mais de um dia, em ônibus, coletando dinheiro para a gasolina de cada uma das comunidades para poder vir. Sabemos que este é um dia histórico e queríamos estar aqui, comemorando e apoiando nosso projeto", conta.

Garante que foi um triunfo o fato de o povo da Venezuela ter conseguido chegar a essa data em um cenário de paz e estabilidade. "Houve tentativas de semear o caos e a violência novamente. Para manchar a pátria. Não será fácil, mas nunca tivemos tempos fáceis. Sempre houve uma extrema direita violenta aqui que tentou, repetidas vezes, desestabilizar o país. Não conseguiram, nem conseguirão."

Com a economia estabilizada após anos de hiperinflação incapacitante, Gonzalez acredita que os próximos anos devem se concentrar na melhoria da renda da população trabalhadora. Aponta especialmente o fato de que os camponeses e os trabalhadores rurais precisam melhorar suas condições de vida.

Desafios populares

Há meses, o chavismo vem falando sobre a necessidade de promover um processo de reforma constitucional. Durante seu discurso de posse na Assembleia Nacional, Maduro anunciou que assinaria um decreto para criar uma "comissão nacional ampla para elaborar um projeto de reforma constitucional, a fim de avançar em um processo de democratização e definição do perfil da nova sociedade e economia da Venezuela".



O debate sobre a reforma constitucional vem gerando grandes expectativas em vários movimentos sociais. Muitos ativistas populares percebem que o governo recentemente voltou a colocar os movimentos sociais no centro de seu discurso.

"Temos o enorme desafio de incorporar todo o acúmulo histórico dos últimos anos, toda a construção do poder popular e do Estado comunal, em uma nova constituição da República Bolivariana da Venezuela", reflete Carlos Vargas, um dos dirigentes da Unión Comunera.

"O presidente nos convocou e temos o desafio de responder com propostas elaboradas a partir da organização popular. Temos que debater, temos que propor e temos que continuar demonstrando que muitas das soluções que nosso povo precisa são aquelas que construímos todos os dias a partir dos movimentos populares e, especialmente, do movimento comunal", afirma.


Brasil de Fato acompanha o que está acontecendo na Venezuela / Brasil de Fato/Rafael Canoba


Vargas ressalta que as duas consultas populares sobre o orçamento participativo que ocorreram este ano foram um exemplo de como avançar em um sentido de discussão e decisões sobre projetos que podem melhorar a qualidade de vida nas comunidades. No entanto, ele diz que um dos principais desafios é aumentar o nível de participação nas comunidades.

"Cada um desses debates, cada uma dessas consultas, deve servir para fortalecer a cultura política do nosso povo. Isso fortalece os mecanismos de intervenção democrática. É nesse ponto que o movimento popular tem um grande desafio. Este ano, em cada uma das consultas populares, tivemos uma participação de cerca de 25 a 30% da comunidade. Temos que aumentar o nível de participação do nosso povo e criar uma cultura de prestação de contas desses recursos. Para que os recursos alocados para as obras que precisam ser feitas sejam de fato realizados."

A poucos dias da posse de Donald Trump, a ingerência de Washington voltará a ser uma questão fundamental para a Venezuela. Embora todas as administrações do governo dos EUA tenham mantido uma forte oposição ao chavismo, e até mesmo o governo Obama tenha declarado a Venezuela uma "ameaça inusitada para os Estados Unidos", o novo mandato de Trump imporá mais uma vez uma situação difícil para o país caribenho.

"Temos que construir um aparato econômico comunitário que possa enfrentar as batalhas que o imperialismo nos impõe. Temos que ser capazes de enfrentar a chegada de Trump, que certamente imporá novas medidas coercitivas contra a Venezuela. Por isso, é fundamental que durante esses próximos anos possamos avançar no empoderamento popular."

Edição: Nicolau Soares
Fonte: Brasil de Fato

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