quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Da cadeia, pastor bolsonarista preso pelo 8/1 implora por anistia e diz que pensou em suicídio

 

Foto de David quando saiu do presídio em Brasília, sete meses depois. Foto: reprodução
O pastor bolsonarista David, preso pela segunda vez em razão de sua participação nos atos terroristas de 8 de janeiro em Brasília, enfrentou sete meses de detenção no Presídio da Papuda e, posteriormente, passou dez meses em prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica.

Agora, após mais sete meses detido no Complexo Médico Penal (CMP) de Pinhais, no Paraná, ele escreveu uma carta direcionada aos políticos, apelando para que se empenhem na aprovação de uma anistia. Recentemente, foi transferido para o Complexo Penitenciário de Piraquara (PR), onde permanecerá incomunicável por 30 dias. O bolsonarista revelou que chegou a pensar em suicídio.

Leia a íntegra da carta:

“Para muitos brasileiros eu sou apenas mais um dos 2.300 presos políticos do 8 de janeiro. Me chamo David Michel Mendes Maurício, filho de um casal de pastores que fizeram muito pela minha cidade Paranaguá, localizada no litoral do Estado do Paraná.

Sou pastor também desde 2008, ano em que me casei com Simone. Em 2013 nasceu o nosso primeiro filho, o Luís Miguel. Simone e eu abrimos uma pequena construtora que não deu muito certo. Então me profissionalizei no setor de estética automotiva e graças a Deus o serviço que era só um hobby se tornou uma empresa e foi a nossa fonte de renda, até acontecer o 8 de janeiro.

Em 2017 veio ao mundo a nossa princesa Isabela e, a cada dia que passava, eu me dedicava ainda mais, por conta da nossa família, sonhando em dar o melhor para a minha esposa e os nossos filhos. Cogitamos em vender tudo e ir embora para os Estados Unidos, mas com a vitória do presidente Bolsonaro decidimos dar mais uma chance para o nosso Brasil, que tanto amamos. Graças a Deus a nossa empresa não parou de crescer.

Com o surgimento dos movimentos políticos, que acompanhava nas redes sociais, passei a frequentar o QG em minha cidade, que aqui equivale a nossa capitania. Encontrei no movimento uma nova família, onde inclusive estavam alguns amigos mais chegados e clientes também.

Com as notícias das supostas fraudes nas urnas e com o incentivo de vários influencers, tomamos a decisão de ir nos manifestar pacificamente em Brasília. Custeei a minha viajem e fui com um grupo de amigos. Cheguei na capital federal às 23 horas do dia 07.01.2023.
Durante a primeira prisão, no Presídio Papuda, o pastor ficou numa ala entre bolsonaristas. Eles formaram uma cruz no pátio no horário de banho de sol e um fotógrafo amador registrou a foto por acaso. Foto: reprodução

Acostumado a fazer lives falando sobre o meu trabalho e a situação política do Brasil, fui a Brasilia com a mesma intenção de oferecer informações reais e verdadeiras aos meus seguidores.

No dia seguinte à chegada, 08.01, acompanhei a multidão após orientação dos próprios militares no QG. Fomos em direção à Praça dos Três Poderes, escoltados pela PM, mas antes de chegarmos na região dos ministérios passamos por uma revista.

Nunca foi cogitada a invasão ou depredação, e ao chegarmos na Praça dos Três Poderes ficou nítido que era uma minoria que depredava. Por várias vezes falei na própria live para não quebrar, não invadir. Após a invasão e quebradeira desses poucos vândalos, tive a curiosidade de entrar para filmar e me proteger da “guerra” que estava do lado de fora.

Vi muitas pessoas de idade lá dentro se protegendo e começamos a orar e cantar louvores. De repente nos vimos cercados pelo exército, que pediu para que nós nos retirássemos dali. Isso aconteceu praticamente ao mesmo tempo que em apareceu uma enorme tropa de choque que nos cercou por outro lado, pela frente, pela rampa.

Foi então que várias bombas de gás foram jogadas para dentro do Planalto, onde 80% das pessoas que estavam lá dentro eram idosos. Quem tinha quebrado já tinham ido embora.

A bateria do meu celular acabou e não pude filmar toda aquela brutalidade. Um policial deu um calço em uma moça que estava apavorada com as bombas, e por várias vezes pensei que desmaiaria. O comandante do exército tentou nos liberar pela saída de emergência, mas o comandante do choque esbravejou: “Ninguém vai sair dessa *orra! Está todo mundo preso!”.

Meu mundo desabou, pois nunca imaginei algo assim. Sempre tive a convicção de que “quem não deve, não teme”. Deitei no chão e falei para todos deitarem, pois os policiais estavam fortemente armados. Vi algumas pessoas sendo agredidas, idosos principalmente, mas estava crendo que na delegacia tudo seria esclarecido.

Para a surpresa do Brasil, aqui estou eu, condenado a 17 anos de prisão por fazer uma live e entrar para me proteger no Planalto. Nenhuma prova contra mim foi apresentada, até porque não existe.

O ministro Alexandre de Moraes não aceitou nada do que o meu advogado enviou em minha defesa. Fui preso como o pior criminoso do Brasil. Fomos tratados pior que bicho no Presídio Papuda em sete meses de horror, sem contato com minha família do Paraná, meus filhos sofrendo e adoecendo. Eu que sustentava a minha família estava preso!

Minha esposa Simone teve que assumir sozinha o nosso trabalho. Foi um peso enorme para ela e não foi possível, tanto que perdemos a nossa pequena e honesta empresa.

Não vou mentir, o pensamento de suicídio é algo constante em uma cadeia, ainda mais com notícias de que ficaríamos 30 anos presos.

Após os sete meses, fiquei dez meses em “liberdade” com uma tornozeleira. Duante dois dias cheguei a ficar com duas tornozeleiras: uma de Brasília e outra do Paraná. Contudo pude estar perto da minha família por um tempo, participar do aniversário da minha filhinha de 7 aninhos, já que no ano anterior estava preso no Papuda e não estive presente. Agora que estou preso novamente, perdi o aniversário do meu filho de 11 anos.

David chegou a usar duas tornozeleiras eletrônicas: uma de Brasília e outra de Curitiba. Foto: reprodução

Tenho orado aqui no presídio por pessoas, ajudado espiritualmente os presos que me cercam. Já faz quase sete meses que estou preso.

Tenho trabalhado mesmo preso.

Perdi a minha empresa e nem auxílio reclusão minha esposa conseguiu. Mas Deus tem provido e cuidado da minha família.

Só faço um apelo: Aprovem a anistia! Mesmo sabendo que nada fiz para ser anistiado, é o que pode nos tirar daqui.

Por favor, Deputados e Senadores, nós e os nossos filhos estamos em sofrimento!”.

Fonte: DCM

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