O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, durante sessão plenária desta quinta (14). Foto: Reprodução/TV Justiça
O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), iniciou a sessão plenária da Corte nesta quinta (14) repudiando o ataque terrorista desta quarta (13) em Brasília. O magistrado disse que “preferiria não ter que fazer” uma fala institucional, mas alertou que estamos “importando mercadorias espiritualmente defeituosas de outros países”.
“Apesar de ainda estarmos no calor dos acontecimentos e no curso das apurações, nós precisamos, como país e sociedade, fazer uma reflexão profunda sobre o que está acontecendo entre nós, onde foi que nós perdemos a luz da nossa alma afetuosa, alegre e fraterna para a escuridão do ódio, da agressividade e da violência?”, questionou Barroso.
O ministro afirmou que o atentado se soma a uma série de ações golpistas, como os ataques do ex-deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) a ministros, o uso de granadas e fuzis de Roberto Jefferson contra policiais federais e o episódio em que “uma parlamentar persegue de arma em punho um cidadão que havia se manifestado criticamente”, uma referência à deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
O magistrado ainda citou os bloqueios de estrada, os acampamentos em quarteis do Exército e o ataque de 8 de janeiro de 2023 e prosseguiu:
“Querem perdoar sem antes sequer condenar. A gravidade do atentado de ontem nos alerta para a preocupante realidade que persiste no Brasil: a ideia de aplacar e deslegitimar a democracia e suas instituições, em perspectiva autoritária e não pluralista de exercício do poder inspirada pela intolerância, violência e desinformação”.
Sem citar nomes, Barroso avalia que os episódios mostram que extremistas querem “naturalizar o absurdo e não veem que dão um incentivo para que o mesmo tipo de comportamento ocorra outras vezes”. “Cabe a pergunta: onde foi que nós nos perdemos nesse mundo de ódio, intolerância e golpismo? Por que subitamente se extraiu o pior das pessoas?”, acrescenta.
Polícia e bombeiros cercam frente do Supremo Tribunal Federal (STF) após explosões. (Foto: Mateus Coutinho/UOL)
O presidente do Supremo fez um apela para uma “volta à civilidade e respeito mutuo” e condenou “essa crença primitiva de que quem pensa diferente de mim só pode ser um cretino completo a serviço de uma causa escusa”.
“A democracia, como sempre digo, tem lugar para conservadores, liberais e progressistas, somos todos livres e iguais, só não há lugar para quem não respeita as regras da própria democracia, os direitos fundamentais dos outros, para quem pensa que violência é estratégia de ação. Uma causa precisa de ódio, de mentira e violência não pode ser uma causa boa”, apontou.
O magistrado ainda fez uma menção ao feriado desta sexta (15), Dia da Proclamação da República, e afirmou que “é uma boa hora de renovarmos nossos votos e nossas crenças e os valores republicanos, para um novo recomeço, pensando de acordo com suas convicções, mas sem desqualificar ou agredir quem pensa diferente”.
A Corte decidiu manter a sessão plenária desta quinta, mas restringiu o acesso a advogados das partes em ações e profissionais de imprensa previamente credenciados. Os trabalhos do tribunal foram retomados às 13h e todos que entraram no prédio tiveram que passar por procedimentos rigorosos de segurança.
O prédio da Corte passou por vistoria e varredura de agentes da Polícia Federal e do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) da Polícia Militar na manhã de hoje. O programa de visitação pública ao edifício foi suspenso provisoriamente.
Veja o discurso do ministro:
Fonte: DCM