quinta-feira, 18 de julho de 2024

PGR pede ao STF abertura de inquérito contra blogueiro bolsonarista Allan dos Santos

 

O órgão pede que a Polícia Federal investigue se o blogueiro está envolvido em uma atuação coordenada para difundir informações falsas

Paulo Gonet, procurador-geral da República (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

A Procuradoria-Geral da República (PGR) enviou na quarta-feira (17) uma manifestação ao Supremo Tribunal Federal (STF), solicitando a abertura de um inquérito contra o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos. No documento, o órgão pede que a Polícia Federal apure se o blogueiro está envolvido em uma “atuação coordenada com o fim de, deliberadamente, difundir informações falsas” nas redes sociais.

O caso faz referência a uma captura de tela falsa relacionada à jornalista Juliana Dal Piva, publicada em 21 de junho. Na postagem, Allan dos Santos atribuiu à repórter uma suposta conversa na qual ela confessa conhecer um plano do ministro Alexandre de Moraes, em colaboração com a PF, para prender o ex-mandatário Jair Bolsonaro. A PGR considerou a mensagem falsa.

Dal Piva relatou ao STF a manipulação da captura de tela. Com o parecer da PGR, o processo será analisado pelo relator, Alexandre de Moraes. 

Allan dos Santos já é alvo de dois inquéritos no STF por disseminação de informação falsa e possui um mandado de prisão preventiva, além de uma ordem de extradição. Atualmente, o blogueiro bolsonarista está foragido e reside nos Estados Unidos. 

Fonte: Brasil 247 com informações de Estadão

"A vida é difícil mesmo": o consolo de Gilmar Mendes após lágrimas de Bolsonaro na pandemia

 

Ministro do STF relatou um encontro no Palácio da Alvorada

Gilmar Mendes e Jair Bolsonaro (Foto: Nelson Jr./SCO/STF | REUTERS/Adriano Machado)

Durante um jantar-debate recente em Lisboa, o ministro Gilmar Mendes, do STF, compartilhou histórias dos bastidores do poder em Brasília, incluindo um encontro com Jair Bolsonaro durante a pandemia. No evento, Mendes relatou que, durante a pandemia, Bolsonaro o convidou para uma reunião na residência oficial, onde expressou suas discordâncias sobre as medidas de isolamento e mostrou vídeos de WhatsApp para justificar suas opiniões. As informações são da coluna do Estadão

Mendes destacou que, em um momento mais íntimo da reunião, Bolsonaro desabafou sobre as críticas que enfrentava e acabou chorando, revelando-se angustiado com os ataques e os desafios de sua posição. Gilmar tentou consolar o presidente, reconhecendo a dureza da vida.

“Ele ficou falando sobre como estava difícil, sobre como era atacado, da família, e, lá pelas tantas, se pôs a chorar”, detalhou Gilmar. “Aí eu disse, senhor presidente, a vida é difícil mesmo”.

Bolsonaro confirmou o encontro e admitiu ter se emocionado, relembrando as dificuldades que enfrentou até alcançar a presidência, incluindo a suposta facada. 

Fonte: Brasil 247 com informações da coluna do Estadão

Argentina e Irã trocam farpas no aniversário de 30 anos do atentado à AMIA em Buenos Aires

 

Um meio iraniano alinhado com o governo afirmou que o país persa "não esquecerá a política anti-iraniana de Buenos Aires"

Pessoas seguram imagens das vítimas do ataque a bomba de 1994 no centro comunitário da Associação Mútua Israelita Argentina (AMIA), marcando o 30º aniversário do ataque, em Buenos Aires, Argentina, 18 de julho de 2024 (Foto: REUTERS/Irina Dambrauskas)

RT O chefe de gabinete dos ministros da Argentina, Guillermo Francos, afirmou nesta quinta-feira (18) que ao governo de Javier Milei "não importa" as advertências do Irã feitas por ocasião do aniversário do atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) em 1994, que segundo o país latino-americano foi perpetrado por funcionários iranianos.

"O presidente não será intimidado, todos conhecem sua personalidade e quando se trata de defender posições ideológicas ou direitos essenciais, ele não tem nenhuma dúvida", afirmou Francos durante uma entrevista à Rádio Mitre, acrescentando que os comentários de Teerã "não vão abalar suas posições, que são muito firmes nesses temas".

As declarações de Francos se referem a um editorial publicado em 14 de julho no jornal Tehran Times, alinhado à postura governamental, onde afirmaram que o país persa "não esquecerá a política anti-iraniana de Buenos Aires" e fará com que a Argentina "lamente sua inimizade" com o Irã, bem como a um comunicado emitido pelo Ministério das Relações Exteriores iraniano, que qualificou de "infundadas" as acusações do país sul-americano sobre a participação da República Islâmica no atentado.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Nasser Kanaani, também instou as autoridades argentinas a "evitar declarações e ações contra o Irã", bem como a "não colocar em risco os interesses nacionais da Argentina e as relações bilaterais, em prol dos cenários anti-Irã promovidos pelo eixo do mal de Israel e dos EUA".

A esse respeito, Francos expressou que "chama um pouco a atenção a impunidade com que se fazem esse tipo de ameaças, mas isso não deve abalar a convicção dos argentinos de viver em liberdade e em paz", acrescentando que o país não se deixará "submeter aos que pretendem infundir medo e terror".

O funcionário lembrou que a investigação realizada pela Justiça argentina concluiu que o Irã e o movimento libanês Hezbollah perpetraram o ataque há 30 anos. Por sua vez, a publicação do Tehran Times destaca que o atentado foi classificado por alguns especialistas como "auto-atentado" dos judeus, enquanto outros sustentam que se tratou de "uma vingança do governo de Carlos Menem contra os sionistas argentinos".

"A Argentina não é ameaçada por ninguém" - "Não me importam as ameaças que possam ser feitas quando estamos defendendo a liberdade e os direitos humanos, não apenas dos argentinos, mas de um número muito importante de israelenses que sofreram todo tipo de abusos e atropelos", sublinhou.

Nesse sentido, a vice-presidente argentina, Victoria Villarruel, assegurou que seu país "não vai tolerar ameaças de nenhum Estado nem permitir que sua população esteja aterrorizada".

Por sua vez, a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, também comentou sobre o tema: "Ninguém nos ameaça, a Argentina não é ameaçada por ninguém". Além disso, afirmou que "está absolutamente provado que o atentado foi organizado desde a Embaixada do Irã na Argentina, e isso implica um crime de lesa humanidade", advertindo que buscarão os responsáveis "até o último dia de suas vidas".

Fonte: Brasil 247 com RT

Loja de brinquedos Lança “Orelha do Trump” para colecionadores

 

Desde seu lançamento na madrugada de segunda-feira, mais de cem unidades foram vendidas


A Corbe Toys, loja de brinquedos de São Paulo, conhecida por suas sátiras políticas, lançou nesta semana a “Orelha do Trump”. O produto é uma paródia do ataque sofrido pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante um comício na Pensilvânia no último sábado (13), quando sua orelha foi ferida.


Segundo o proprietário da loja, Luís Ricardo Aizcorbe, o brinquedo é uma “figura de ação” para colecionadores, vendido por R$ 65. Aizcorbe explicou que a criação do produto, lançada pouco mais de 24 horas após o ataque, visa ao humor para evitar problemas legais, com orientação de um advogado.


Desde seu lançamento na madrugada de segunda-feira, mais de cem unidades foram vendidas. A Corbe Toys, que opera online e não possui loja física, já produziu anteriormente bonecos como o “Faria Limer” e o “Fantasma do Comunismo”, ambos inspirados em figuras estereotipadas e discursos políticos. Durante as eleições de 2022, a empresa também lançou o “Patriota do Caminhão”, satirizando um protestante bolsonarista.


Os brinquedos da Corbe Toys estão disponíveis em lojas especializadas em produtos colecionáveis, como Legião Nerd e Ugra.


Fonte: Agenda do Poder com informações da Folha de S.Paulo



Convenção de Boulos e Marta terá presença de sete ministros do governo Lula

 

“É quase a esplanada dos ministérios que vai estar nessa convenção”, brincou Boulos

Marta Suplicy, Lula e Guilherme Boulos (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Sete ministros do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, além do próprio presidente, confirmaram presença na convenção que formalizará a candidatura da chapa de Guilherme Boulos e Marta Suplicy neste sábado (20), em São Paulo. A data marca o início do período permitido pela legislação eleitoral para a realização das convenções partidárias obrigatórias que definem as candidaturas.

“É quase a esplanada dos ministérios que vai estar nessa convenção”, afirmou Boulos em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (18). “A partir de agora acaba o treino e começa o jogo. Vai começar uma nova etapa”.

Participarão do evento os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Sonia Guajajara (Povos Indígenas), Marina Silva (Meio Ambiente),  Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência) e Luiz Marinho (Trabalho). 

A campanha de Boulos espera atrair cerca de 10 mil pessoas ao centro de convenções Expo Center Norte para a ocasião. Praticamente toda a bancada de deputados federais e estaduais também é esperada na convenção, segundo o presidente do diretório municipal do PT de São Paulo, Laércio Ribeiro.

Também devem comparecer os presidentes do PSOL, dos partidos da federação PT-PCdoB-PV e representantes de outras siglas que apoiam a candidatura.

De acordo com o calendário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as convenções partidárias ocorrem entre 20 de julho e 5 de agosto. As siglas têm até 15 de agosto para registrar as candidaturas na Justiça. A campanha eleitoral, por sua vez, começa oficialmente em 16 de agosto.

Fonte: Brasil 247

Ramagem disse que gravou encontro a pedido de Bolsonaro com receio de alguma proposta ilícita feita pelas advogadas

 Na gravação, o então chefe da Abin, Bolsonaro e as advogadas Luciana Pires e Juliana Bierrenbach discutem um plano para blindar o senador no caso das rachadinhas


No depoimento de quase sete horas prestado à Polícia Federal nesta quarta-feira, Alexandre Ramagem, ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) afirmou que gravou o áudio de sua reunião com Jair Bolsonaro e as advogadas de Flávio a pedido do próprio ex-presidente.


Segundo a colunista Bela Megale, do Globo, Ramagem disse aos investigadores que temia que pudesse haver alguma proposta ilícita por parte das advogadas. Na gravação, o então chefe da Abin, Bolsonaro e as advogadas Luciana Pires e Juliana Bierrenbach discutem um plano para blindar o senador no caso das rachadinhas.


Em um vídeo publicado na segunda-feira em suas redes sociais, Ramagem apresentou uma versão similar à que deu à PF. Na postagem, afirmou que fez a gravação com o aval de Bolsonaro e disse que o autogrampo foi realizado porque havia uma informação de que um emissário do governo do Rio de Janeiro participaria da reunião e faria uma proposta “pouco republicana” para Bolsonaro. O fato não se concretizou.


A PF ainda perguntou a Ramagem qual foi o encaminhamento legal feito por ele sobre afirmações e propostas ilícitas apresentadas e mencionadas na conversa. Entre essas propostas ilícitas está a própria investigação de auditores da Receita Federal envolvidos na confecção do relatório que embasou o inquérito das rachadinhas contra Flávio.


Outra ilegalidade apontada no áudio é que a advogada Luciana Pires afirma ter lido a denúncia do Ministério Público do Rio (MP-RJ) contra o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro no caso das rachadinhas cinco meses antes de a peça ter sido protocolada.


Em resposta à PF, Ramagem se limitou a dizer que as propostas deveriam ser apuradas pela Receita Federal. Durante o depoimento, Ramagem negou que tenha dado ordem para um suposto esquema de monitoramento ilegal e responsabilizou ex-servidores da pasta.


Quando soube da existência da gravação, na semana passada, Bolsonaro ficou furioso e disse não ter conhecimento do grampo. Depois, minimizou as críticas a Ramagem e passou a dizer a aliados que havia esquecido do fato, afirmando que a gravação teria tido seu aval.


Fonte: Agenda do Poder

Justiça federal do Rio nega mandado de segurança impetrado por Carlos Bolsonaro para reaver porte de arma de fogo

 Juiz afirma que Carlos apresentou três termos circunstanciados com relatos de ameaça, todos posteriores à decisão de indeferimento do pedido administrativo pela PF


O juiz da 11⁠ª Vara Federal do Rio, Vigdor Teitel, negou o mandado de segurança impetrado pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) contra o superintendente da Polícia Federal do Rio, Leandro Almada. O filho 02 de Jair Bolsonaro (PL) requeria a emissão da renovação do porte de arma de fogo de calibre permitido que foi suspenso pela corporação em julho do ano passado.


De acordo com o magistrado, a concessão do porte de arma, à vista do Estatuto do Desarmamento, é excepcional e restrita, e demanda a comprovação do preenchimento dos requisitos dispostos na legislação vigente.


No despacho, Teitel afirma que Carlos apresentou três termos circunstanciados com relatos de ameaça, todos posteriores à decisão de indeferimento do pedido administrativo pela PF.


“Entendo que o termo circunstanciado, por si só, não é instrumento bastante para configurar prova documental pré-constituída em relação ao preenchimento do requisito da efetiva necessidade da aquisição de arma de fogo”. 


O termo circunstanciado contém alegações de caráter unilateral, que dependem de posterior apuração pela autoridade policial, ressaltando-se que o impetrante não juntou aos autos nenhum documento que comprove o desdobramento das alegações relatadas nos documentos em questão”, escreveu o juiz.


À PF, Carlos havia solicitado a renovação do porte por cinco anos em todo o país. O parlamentar argumentou nunca ter se envolvido em “situação que desabone sua conduta portando arma de fogo” e afirmou ter “a cabeça a prêmio por sua atuação política”.


O vereador citou o atentado a faca sofrido pelo pai durante a campanha eleitoral de 2018 e lembrou que “mora no Rio de Janeiro, um dos municípios mais violentos do estado em que ocupa função pública”, além de afirmar que possui qualificação técnica para operar o armamento.


Na negativa, a PF alegou que “a documentação juntada não é suficiente para comprovar a efetiva necessidade por ameaças e riscos individualizados, plausíveis e atuais à sua integridade física, que justifiquem a concessão excepcional do porte”.


Em publicação nas redes sociais, o vereador criticou na época a decisão e chamou o indeferimento de “redondamente orquestrado”.


O vereador também tentou comprar outra arma, uma pistola 9 mm. Entretanto, desde então, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou um novo decreto presidencial para controle de armas de fogo, este tipo de armamento passou a ser restrito, fazendo com que Carlos também tivesse o pedido de compra negado.


Fonte: Agenda do Poder com informações de O Globo.

Governo fará contenção orçamentária de R$15 bi para cumprir arcabouço fiscal, diz Haddad

 

Segundo o ministro, 11,2 bilhões de reais serão bloqueados e 3,8 bilhões de reais serão contingenciados

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta-feira que o governo fará uma contenção de 15 bilhões de reais no Orçamento deste ano com o objetivo de cumprir as exigências do arcabouço fiscal.

Segundo o ministro, 11,2 bilhões de reais serão bloqueados para respeitar o limite de despesas públicas para este ano. 

Outros 3,8 bilhões de reais serão contingenciados para que a projeção de resultado primário do ano fique dentro da banda de tolerância da meta fiscal.

Fonte: Brasil 247 com Reuters

Petrobras encaminha recompra de refinaria na Bahia privatizada por Bolsonaro

 

Fábrica de combustíveis foi vendida a fundo dos Emirados Árabes Unidos em 2021

Criada em 1950, a refinaria Landulpho Alves (Rlam) deve voltar a ser estatal após privatização de Bolsonaro - Divulgação/ Petrobras

Petrobras deve anunciar ainda neste ano a recompra total da antiga Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, privatizada pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2021. Rebatizada de Refinaria de Mataripe, a fábrica de combustíveis pertence atualmente ao fundo Mubadala Capital, dos Emirados Árabes Unidos.

recompra da refinaria entrou na pauta do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda no ano passado. Petroleiros que trabalharam pela eleição de Lula sempre reivindicaram a reestatização do ativo por conta de sua importância regional e para a economia nacional como um todo.

O ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), defendeu publicamente a recompra ainda no ano passado. A Petrobras anunciou em dezembro que recebeu uma proposta oficial para negociação do ativo, a qual passou a ser avaliada.

Sob anonimato, fontes da Bahia que acompanham essa discussão disseram ao Brasil de Fato que o caso caminha para um desfecho, que deve ser anunciado entre setembro e outubro. O mais provável é que a Petrobras recompre toda a refinaria, reassumindo completamente o papel que tinha sobre o ativo após um período de transição que deve durar entre seis meses e um ano.

Dentro da Petrobras e do próprio governo, cogitou-se a possibilidade de a estatal dividir com o Mubadala a administração da antiga Rlam. Isso, contudo, está cada vez mais fora dos planos também por vontade do Mubadala, que não pretende se associar com a Petrobras nesse negócio especificamente.

O fundo dos Emirados Árabes, que criou uma empresa para administrar a refinaria – a Acelen –, pode virar sócio da Petrobras num projeto de energia renovável completamente novo. Essa possibilidade foi noticiada pelo jornal O Estado de S.Paulo nesta quinta-feira (18). O Estadão também informou que a Petrobras deve mesmo recomprar a Rlam.

Oficialmente, a Petrobras não divulga informações sobre o andamento das negociações. A Acelen, do Mubadala, não comenta o assunto.

Privatização contestada

A venda da antiga Rlam da Petrobras foi fechada em março de 2021. O custo foi de 1,65 bilhão de dólares, cerca de R$ 8,25 bilhões à época. Segundo avaliações do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep), porém, a refinaria valia pelo menos o dobro disso.

A instituição elaborou três cenários para estabelecer o valor de mercado da Rlam. Nas três situações, a venda deveria ter sido feita por 3,12 bilhões de dólares, 3,52 bilhões de dólares ou 3,92 bilhões de dólares.

Uma denúncia sobre a venda chegou a ser feita pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) ao Tribunal de Contas da União (TCU). O órgão não viu irregularidades no negócio.

Atualmente, a FUP cobra investigações sobre a venda da Rlam e as joias recebidas por Bolsonaro e sua comitiva de autoridades árabes um mês antes da venda da Rlam.

Refinaria histórica

A antiga Rlam é a primeira refinaria nacional. Foi criada em 1950, antes mesmo da fundação da Petrobras, em 1953.

A planta é capaz de produzir mais de 30 produtos diferentes, incluindo lubrificantes e querosene de aviação. Também é produtora nacional de uma parafina usada na indústria de chocolates e chicletes.

É a principal produtora de gasolina e diesel da Bahia. Abastece distribuidoras de combustíveis de Minas Gerais a Alagoas.

Nesses estados e principalmente na Bahia, o preço dos combustíveis subiu por conta da privatização. Em março de 2022, a Bahia se tornou o estado brasileiro com a gasolina e o diesel mais caros do Brasil.

Privatizações sob revisão

A Petrobras cancelou em maio o plano para privatização de cinco de suas refinarias. A decisão foi anunciada depois que a estatal entrou num novo acordo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Em 2019, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a estatal fechou com o Cade um compromisso de vender oito refinarias. Esse acordo foi firmado após uma queixa de importadores de combustíveis contra um suposto monopólio da estatal. A Rlam foi vendida ao Mubadala por conta dessas queixas.

A Petrobras nunca chegou a ser condenada, já que resolveu fechar o acordo com o Cade ainda na fase de investigação sobre o tema. Na época, petroleiros e opositores do governo Bolsonaro denunciaram a falta de vontade da companhia em se defender para evitar a perda de patrimônio.

Apesar disso, o acordo entrou em vigor e as refinarias foram postas à venda. Das oito, três acabaram negociadas: além da Rlam; a Refinaria Isaac Sabbá (Reman), no Amazonas; e a SIX, no Paraná. Todas foram negociadas na gestão Bolsonaro.

Edição: Felipe Mendes

Fonte: Brasil de Fato

Ex-vice da Venezuela diz que Maduro conseguiu reduzir a violência social e afirma que oposição aposta no caos há 25 anos

 

Elias Jaua foi vice de Hugo Chávez e diz que o governo conseguiu manter a 'independência' em meio aos ataques externos

Elias Jaua (esquerda) foi vice de Hugo Chávez (direita) de 2010 a 2012 - Arquivo pessoal

Manter a independência do país e reduzir a violência política e social. Para Elias Jaua, ex-vice-presidente da Venezuela, essas foram as maiores conquistas dos 12 anos de governo de Nicolás Maduro. Mas ele entende ser fundamental o fim das sanções impostas pelos Estados Unidos para o país retomar os investimentos e melhorar a estrutura do país. 

Em entrevista ao Brasil de Fato, Jaua afirmou que as eleições presidenciais de 28 de julho devem ser marcadas por uma posição já conhecida da oposição do país. De acordo com ele, um setor opositor apresenta, desde a eleição de Hugo Chávez em 1998, táticas de sabotagem ao governo. Para o pleito de 2024, o ex-vice acredita que o grupo ligado à extrema direita não vai respeitar o resultado, caso Maduro seja reeleito.

“Essa história não é nova, não começou com o presidente Nicolás Maduro. Não reconhecem que o ex-presidente Hugo Chávez com apenas 2 anos de seu governo, sofreu um golpe de Estado. Fizeram ele prisioneiro e ele recuperou o poder. Depois, teve a paralisação da indústria petroleira. Ficamos, no começo deste século, por vários meses sem a receita do petróleo. É como um padrão repetido com diferentes modalidades e diferentes chefes. Como conseguimos superar toda essa situação? Com os acordos internacionais que foram feitos naquele momento”, explicou. 

Jaua foi vice-presidente de Hugo Chávez de 2010 a 2012. O golpe a que ele se refere foi dado em uma articulação da oposição com empresários, setores militares e o reconhecimento imediato dos Estados Unidos e forçou a prisão de Hugo Chávez em 2002. Ele voltou ao poder depois de o povo ir às ruas e saiu do incidente fortalecido.

Elias Jaua também foi ministro das Relações Exteriores de 2012 a 2013 e deputado de 2014 a 2017 / Arquivo pessoal

Depois daquele episódio, a oposição voltou a ter uma postura violenta em 2014, com as chamadas guarimbas – atos de rua violentos– e, mais tarde, tentou aplicar outro golpe para colocar Juan Guaidó como presidente em 2019. Jaua diz que a postura não mudou durante esse período, mas que não deve haver uma nova onda de violência, já que a população não está disposta a isso.

“Eu acho que nenhum setor da população está disposto a acompanhar essa aventura. O custo é muito alto para as famílias que perderam seus entes queridos, convocados por dirigentes irresponsáveis que saíram do país e vivem uma vida boa. O dano econômico que isso promoveu ao país, a ansiedade que foi um dos detonadores da migração venezuelana, teve dois componentes: o medo da guerra civil em 2017 e 2018, e outro obviamente as condições econômicas que se criaram”, afirmou.

O ex-vice se afastou do governo nos últimos anos, mas se reaproximou em 2024 em meio à campanha eleitoral. Em comício ao lado de Maduro, ele disse que as diferenças “não podem tornar-se problemas pessoais”. Agora, ele evita fazer ponderações negativas sobre os últimos 12 anos do presidente e afirma que há acertos importantes. Os principais deles é manter a soberania nacional e reduzir a violência. 

Leia a entrevista completa:

Brasil de Fato: Como você avalia os governos Maduro?

Elias Jaua: O presidente Maduro foi um presidente que promoveu, nos dois mandatos, uma resistência e uma defesa do princípio básico do chavismo que é a independência nacional, por meio da defesa da vontade soberana, do povo venezuelano que o elegeu em 2013 e 2018. Tudo isso em meio a uma situação bem complexa e bem difícil.

Uma restrição absoluta sobre a receita nacional, produto das sanções contra a principal receita que é a produção petroleira. Isso teve consequências sociais muito pesadas para o povo venezuelano em questão de direitos que havíamos alcançado com o presidente Hugo Chávez. As decisões que tomou em questões políticas e econômicas são sempre discutíveis, mas eu prefiro ver por essa ótica. 

Mas você acredita então que seus dois mandatos foram guiados da mesma maneira?

Foram de defesa do chavismo. Mas para além do chavismo, o direito à independência da Venezuela, especialmente no segundo mandato quando a Casa Branca, por meio do presidente Donald Trump, reconheceu e quase nos impuseram um presidente que não havia sido escolhido por vontade popular, Juan Guaidó.

Estamos na véspera das eleições, é uma vitória da Venezuela como República independente poder em apenas 10 dias eleger um presidente. Há 5 anos nos impuseram um presidente. Isso é o que Maduro conseguiu fazer, defender o direito do povo venezuelano a dar sua própria forma de governo.

Há críticas em relação à condução econômica do governo Maduro, de que foram reduzidos os gastos e que ele poderia ter expandido o Estado. Você vê assim?

Sim, eu tenho uma posição crítica em relação à orientação político-econômica do governo. No entanto, já que não estou mais nele, não tenho informações financeiras, das receitas nacionais, neste momento.

O governo atuou com restrição quase absoluta de receitas. Chegou ao mínimo. Digo que, na economia, sempre há opções. Alguém teria apostado em opções mais reguladoras do mercado para proteger, sobretudo, os trabalhadores e as trabalhadoras que ficaram com o peso da retração econômica produzida pelas sanções. 

Você entende que o governo poderia ter aumentado os investimentos e a participação do Estado?

Mais que posições críticas, tenho ideia de que as coisas poderiam ter sido feitas de outra maneira. Há propostas neste sentido. Mas são os que decidem que têm a noção de quanta receita o país tem, qual é o dinheiro que entra na Venezuela.

Nós, como uma boa parte do chavismo, seguiremos apostando em uma política que garanta que os direitos fundamentais de trabalhadores e trabalhadoras, que ela seja expressada nos salários, poder aquisitivo, uma política de crédito mais ampla para os setores produtivos pequenos, médios e, inclusive, grandes setores produtivos, como elemento para amenizar essas medidas.

Quais seriam os desafios de Maduro para um eventual terceiro mandato, nos próximos 6 anos?

Não me atrevo a fazer previsões. Eu fui governo. É muito delicado dizer "deveria ser dessa, ou daquela forma", porque quando não se é governo, não se tem informações para tanto. Eu gostaria de fazer isso, mas não posso. 

Em todo caso, digo que a aspiração de alguns setores do chavismo é que a recuperação econômica seja equilibrada, que não caia nos ombros dos trabalhadores e trabalhadoras, em meio a situações complexas, já que as sanções continuam. A licença de exploração de petróleo é decidida fora do país.

Essa é parte da batalha que temos que recuperar, a nossa plena capacidade de decidir sobre o que fazer aqui. Se uma empresa asiática, africana quer negociar ou investir na Venezuela, ela não pode ir primeiro ao país, tem que ir aos Estados Unidos. O mundo não pode ser assim. Eles não podem dizer para o mundo quem compra e quem não compra.

Em relação a este bloqueio, como as eleições dos Estados Unidos podem mudar a política de Washington com Caracas? É possível uma abertura dos diálogos?

É o que deveria acontecer e o que aspiramos. Se aqui Maduro ganha, espero que os Estados Unidos abandonem essa política de desconhecimento do Estado venezuelano, das instituições e das empresas. E que acabem essas sanções ilegais.

Essa não é uma aposta só do chavismo, mas de toda a sociedade. Eu sei que há setores da oposição que compartilham essa indignação. Como venezuelanos e venezuelanas, temos que vender e investir os recursos petroleiros.

Há diferença entre Trump e Biden?

Para os EUA é muito fácil essa situação, administrar os recursos de um outro país. Por isso, o problema não é a democracia, mas com a Venezuela, o petróleo. Não é democracia, direitos humanos, isso não importa nada para os Estados Unidos.

Eles conseguiram seus objetivos com as sanções e um setor da oposição tem muita responsabilidade por isso. É incrível que a oposição fugiu da responsabilidade desse caos perante a comunidade internacional e à sociedade venezuelana. É verdade que cometemos erros, mas quem pediu as sanções, fez lobby para isso, foram setores da oposição organizados em torno da Plataforma Unitária.

Como a oposição está organizada hoje?

Primeiro, é uma oposição cujos déficits democráticos são muito relevantes, porque é uma força política que não participa das eleições quando sente que vai perder. E que só participa quando sente que vai ganhar.

Mas se perdem, não reconhecem os resultados. Se ganham, não reconhecem a institucionalidade, como em 2015, ao tentar destituir o presidente da República naquele momento, sem que tivesse competências constitucionais para isso, ou para impor um presidente interino que não tinha nenhum respaldo na Constituição. Essa é a oposição.

Há muito afã no mundo para ter um termômetro para medir a democracia do chavismo. Mas esse mesmo termômetro não se aplica à oposição venezuelana que está alinhada ao governo dos Estados Unidos. Lamento dizer que estou quase seguro de que eles não vão reconhecer o resultado de uma vitória de Nicolás Maduro. Eles só estão participando hoje porque sentem que o dano que causaram na economia e o mal-estar que isso gerou criaram condições que os levam a acreditar que possam ganhar. Se não, eles não participariam. 

Você acredita que, ao não reconhecer os resultados eleitorais, pode haver uma onda de violência, como já ocorreu com as guarimbas?

Eu acho que nenhum setor da população está disposto a acompanhar uma aventura dessa. O custo é muito alto para as famílias que perderam seus entes queridos, convocados por dirigentes irresponsáveis que saíram do país e lá vivem vidas boas.

Aqui ficaram pessoas que foram processadas por delitos cometidos durante as ações de violência, jovens mortos em diferentes circunstâncias. O dano econômico que isso promoveu ao país, a ansiedade que foi um dos detonadores da migração venezuelana, teve dois componentes: o medo da guerra civil em 2017 e 2018 e, obviamente, as condições econômicas que se criaram.

Os venezuelanos não têm ânimo para acompanhar aventuras violentas de dirigentes que o povo sabe que os vão deixar na mão.

Hoje a Venezuela tem uma inflação em queda, um câmbio estável. Mas você disse em entrevista recente que é preciso estabilizar ainda mais a economia e a política. O que você quis dizer e como fazer isso?

A estabilidade econômica passa principalmente pela possibilidade de que a Venezuela possa comercializar livremente seu principal produto e recuperar a receita nacional. Com isso, ela pode incidir na estabilidade econômica do país, a partir da recuperação do poder aquisitivo dos trabalhadores e trabalhadoras, de uma política de crédito que amplie a produção nacional dos bens necessários, e que permita uma “reinstitucionalização” do país, um funcionamento normal das instituições. 

Tivemos uma assembleia eleita em 2015 que encerrou seu mandato em 2021, mas que ainda é reconhecida pelos EUA, administra a petroleira venezuelana Citgo e outros ativos do Estado. Olha a gravidade do que foi feito. Nenhum país fez isso antes, ter um Estado paralelo que outorga a administração dos ativos do país, no estrangeiro. Ninguém nunca fez isso. É preciso aca a lógica amigo-inimigo dessa situação. 

Temos que tomar cuidado também para falar em estabilidade econômica. Ter estabilidade nos indicadores econômicos não significa estabilidade nas famílias. Teremos estabilidade econômica quando todas as famílias tiverem capacidade de comprar os bens que precisam para viver. Sem dúvida na macroeconomia temos uma estabilidade.

Mas além da questão das sanções, qual seria um caminho para resolver isso internamente?

Primeiro, com base no conhecimento. Nós temos uma experiência. Porque essa história não é nova, não começou com o presidente Nicolás Maduro. Não reconhecem que o ex-presidente Hugo Chávez, com apenas 2 anos de governo, sofreu um golpe de Estado, o fizeram prisioneiro, mas ele recuperou o poder. Depois teve a paralisação da indústria petroleira. Ficamos no começo deste século, por vários meses, sem a receita do petróleo. É como um padrão repetido de modos diferentes e  com diferentes chefes. Como conseguimos superar toda essa situação? 

Com acordos. Naquele momento lembro que foi facilitado pelo Centro Carter, OEA a partir do presidente César Gaviria da Colômbia, um acordo de reconhecimento de utilização dos mecanismos constitucionais que, naquele caso, foi o referendo revogatório. Não estou dizendo que é algo que aconteça aqui nesse momento, mas o que aconteceu foi que Chávez foi ratificado, mesmo que um setor da oposição não reconhecesse o resultado, apesar de o Centro Carter, a União Europeia e a OEA dissessem que Chávez havia sido eleito.

Mas se cconseguiu um longo período de estabilidade política até a morte de Chávez. Com refluxos, conflitos, como em toda sociedade, mas sem conflitos de destruição total. O que significou isso para Venezuela? Um crescimento econômico expressivo, um incremento à produção nacional, o consumo básico chegando a níveis inéditos.

A população pôde ter acesso, enfim, à alimentos, medicamentos e roupas. Uma ampliação de todos os direitos, educação, saúde pública gratuita, desenvolvimento industrial, tecnológico… Tudo isso foi resultado do acordo de reconhecimento.

A oposição sempre teve governadores que participaram. Chegaram a ter 10 governadores, frações parlamentares importantes… De maneira que há um caminho já percorrido de que sim, se pode conseguir o que chamamos naquele momento de administração democrática do conflito. O conflito entre nós e eles não vai desaparecer, mas precisa ter uma regulação desse conflito que não afete a sociedade venezuelana, o povo humilde trabalhador.

Sobre o apoio da base social, um ponto importante são as comunas. Desde que você foi vice até hoje, houve uma expansão das comunas. Qual deve ser o papel das comunas para os próximos anos? É possível chegar onde Chávez planejava?

Todas as organizações populares, comunas, conselhos comunais, comitês de terra, água, trabalho, movimentos sociais, foram a sustentação desses duros anos para manter a independência.

São homens e mulheres que fizeram de tudo: distribuíram comida, participaram das brigadas contra a pandemia. O controle bem sucedido que tivemos na pandemia se deve a eles. São os que garantem a paz na comunidade. São os que, em meio às dificuldades, mantêm os serviços mínimos. Sem um povo com esse nível de organização, não seria possível chegar nesse ponto a dias de uma eleição presidencial.

Chávez fez uma retificação do termo Estado comunal que foi pouco conhecida. Ele dizia que preferia falar em uma sociedade comunal.

Porque na Venezuela a Constituição estabelece o Estado Social de Direito e de Justiça e ele dizia que esse Estado deveria ser preservado porque garantia o desenvolvimento de uma sociedade comunal. Ou seja, um povo que fosse capaz de governar seu território, com autogestão, capacidade de gerir o público na sua comunidade e que isso só poderia ser feito se fosse amparado pelo Estado estabelecido na Constituição.

Isso é um processo longo, não vai acontecer no próximo mandato porque a concepção de Chávez sobre a comuna implica um grande esforço cultural, de transformação econômica na vida cotidiana, de transformação social, de novos valores. De convivência. Que não depende do governo, mas da vontade das pessoas, de construir um espaço em que se possa viver bem.

E o processo de construção do socialismo? Como é possível ter uma transição acelerada de um Estado capitalista para um Estado socialista?

Eu não diria que há um Estado capitalista. Há uma sociedade capitalista. Porque quando o Estado estava privado da sua receita, efetivamente o capital impôs seus próprios acordos. E hoje temos um mercado totalmente desregulado.

Lamentavelmente é o que eu tenho que dizer: o capital coloca as condições trabalhistas, de preços… o Estado conseguiu controlar valor da moeda, mas a dinâmica que se impôs na sociedade venezuelana depois do caos na economia foi a lógica liberal ou mais neoliberal que você possa imaginar.

Um Estado sem as suas receitas, não reconhecido internacionalmente por boa parte dos países, confrontando conspirações... Foi muito difícil voltar ao equilíbrio, controle e regulação que impeça a profunda desigualdade social que gera uma economia de mercado sem nenhum tipo de controle.

Mas você acredita que seja possível dar esse giro e que o Estado consiga controlar o mercado principalmente?

Na verdade nós nunca propusemos o controle do mercado. Nós acreditamos que o Estado tenha um papel no mercado, de equilíbrio, regulação, que garanta os direitos da maioria por cima só dos interesses do grande capital. Você me pergunta se é possível? Eu digo que é necessário.

Para que as pessoas vivam bem, porque em uma economia assim não vai ter igualdade, superação da pobreza. O mercado sem nenhum tipo de regulação é um produtor de miséria, de exclusão, desigualdade. 

O mercado é uma força política decisiva hoje?

O Estado tem a competência para isso, mas a economia não é um assunto de crédito ou de leis, mas de dinâmica e de realidade. O Estado, para conseguir ser efetivo nos mandatos constitucionais, tem que recuperar as receitas nacionais, a capacidade de suas instituições estabelecerem as regulações necessárias para evitar a desigualdade que se está produzindo no país neste momento.

Quais foram os erros e acertos de Maduro nos últimos 12 anos?

Não quero neste momento importante falar de erros. É claro que há decisões políticas e econômicas que poderiam ter outras alternativas. Mas os acertos de fato foram, além da independência nacional e política, a superação da violência política.

Há 6 anos estávamos à beira de uma guerra civil, de uma invasão dos Estados Unidos. Hoje isso felizmente está fora do mapa. A redução dos índices de criminalidade também acho que é uma grande conquista do governo.

E como o governo conseguiu reduzir a criminalidade? Costumo ouvir muitas explicações diferentes para isso…

Há políticas de segurança, inteligência e territorialização da atuação policial e um desmantelamento das principais facções. A Venezuela vinha em uma escalada de mega grupos que pretendiam controlar territórios e de certa forma conseguiram.

Com trabalho de inteligência, ações diretas com ampliação da presença policial, dos equipamentos policiais, se conseguiu efetivamente conter essas aspirações dos megagrupos. Hoje, o nível de criminalidade está como em qualquer parte do mundo, não há nenhuma facção que pretenda ou consiga controlar algum território.

Mas além da questão das facções, Caracas, por exemplo, tem uma sensação de segurança muito grande nas ruas. É algo que surpreende para quem vem pra cá. Como isso foi possível?

São coisas que vão desde questões pequenas, como iluminação das ruas, os quadrantes de paz --que tem uma atuação em que em cada quadra tem uma patrulha, um telefone que as pessoas podem chamar essas patrulhas. A ocupação, o desenvolvimento de programas noturnos de recreação.

Então as pessoas começaram a ocupar as ruas, fazer visitas turísticas, festas. As prefeituras desenvolveram uma série de medidas que geram um elemento que é real, que é a sensação de segurança. Tudo isso faz com que as pessoas se sintam mais seguras e mais tranquilas, ocupem os espaços, saiam de noite, caminhem.

Hoje as pessoas usam o celular na rua, é algo contagioso. Certamente há um alto componente de realidade e um alto componente de sensação. Hoje, a sensação é que é mais seguro estar nas ruas e a realidade é que conseguimos desmantelar uma série de grupos que tinha essa política de extorsão e sequestros. 

A desigualdade tem impacto nisso?

Não tem nada a ver. Durante Chávez tivemos um dos maiores índices de igualdade social que conseguimos na Venezuela, empatamos com o Uruguai nessa questão. E foi um momento de maior aumento nos índices de criminalidade. São fenômenos complexos e difíceis de desenvolver.

Nós os estudamos e há vários elementos. O crime é transnacional, então se um país tem um alto nível de consumo, muitas estruturas criminosas veem a Venezuela como potencial mercado para o consumo de drogas, sequestro –já que você tira dinheiro de uma classe média-alta e empresários– e isso teve uma incidência. O outro elemento é cultural.

Quando eu era vice, havia muitos jovens entrando no crime e nós interferimos, criamos programas sociais para evitar esse recrutamento. Me disseram uma vez: ‘Você é vice-presidente, é poderoso. Eu quero ser poderoso, relevante. Mesmo que minha vida seja curta’. Então há muitos desses elementos. Um país em igualdade social é um país com alto poder aquisitivo, com pessoas que tem recursos, ativos e isso vira um atrativo para obter recursos. 

Mas voltando ao ponto. Não podemos tirar o mérito da ação do Estado que foi planejada, executada.

E a questão da infraestrutura e serviços. Quais são os próximos passos para resolver avançar no abastecimento de água, energia…?

Esse é um desafio importante e um dos males que mais faz sofrer a população. A questão da eletricidade, combustível –que está associado à indústria petroleira– a questão da água, em menor medida.

As pessoas demandam respostas imediatas que, por sua vez, demandam grandes investimentos, recuperação da infraestrutura e de desenvolvimento de novas estruturas que garantam a quantidade de energia que a sociedade venezuelana precisa.

Essa seria uma próxima etapa para o governo? 

Claro, já começou. Nos últimos 2 anos, o governo fez investimentos importantes de telefonia pública, por exemplo, um dos setores que mais avançou. Abastecimento de água… A questão da eletricidade é mais complexa porque todo o nosso complexo elétrico está montado sobre tecnologia Siemens e há pouco tempo eles não podiam nos vender equipamentos de manutenção.

Nosso país tem 70% de energia hidrelétrica, e as mudanças climáticas fazem com que ela seja inconstante. Então precisamos  investir em fontes de energia, eolica, gas, solar… Recuperar a infraestrutura eletrica vai levar um tempo e importantes investimentos.

Como você vê a configuração da América do Sul e a possibilidade de volta ao Mercosul?

Com a atual configuração politica de Argentina e Uruguai, não vejo um retorno em curto prazo ao Mercosul. Podemos começar pensar na volta à comunidade de nações, formar um mercado comum nos Andes venezuelanos, ainda que a situação política seja diferente do Mercosul, com os governo de Equador e Peru.

Mas na verdade a Venezuela vai ter que batalhar sozinha nos mercados internacionais. Há uma correlação de forças para apostar na Celac. Com um governo solido do México, depois dessa contundente vitória eleitoral, com Lula no Brasil, com Petro na Colômbia, com Boric no Chile, que tem uma visão integracionista apesar das condições da sociedade chilena e como se desenvolvem eles.

Acho que poderia haver um lançamento importante da Comunidade dos Estados latino-americanos, e retomar sua necessária integração, que é a única forma que temos de nos desenvolver.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

Fonte: Brasil de Fato