A Polícia Federal (PF) avançou nas investigações da Operação Tempus Veritatis ao apreender, em fevereiro, um documento que aponta diretamente para a participação de Filipe Garcia Martins, ex-assessor especial da Presidência, no núcleo estratégico do plano golpista após as eleições de 2022.
O material, identificado como “Discurso 31-10.docx”, é o rascunho de um discurso que teria sido redigido para Jair Bolsonaro (PL). Com informações do Estadão.
Os metadados do arquivo indicam Filipe Martins como autor do texto. Nele, a derrota eleitoral é contestada sob a alegação de que o processo foi “ilegítimo”, levantando suspeitas sobre o resultado das urnas. Um trecho da minuta descreve: “Na verdade, fomos alvo de um contra-ataque do sistema, e estamos sendo perseguidos pelos poderosos, unidos para esconder a verdade junto com os principais veículos de mídia.”
Segundo a PF, o discurso tinha o objetivo de instigar os apoiadores do ex-presidente ao sugerir que fatores externos, como algoritmos, hackers e ações parciais, influenciaram a derrota. O arquivo foi encontrado em um HD externo durante buscas na casa de Tércio Arnaud Tomaz, outro ex-assessor de Jair Bolsonaro, conhecido como um dos principais articuladores do “gabinete do ódio”.
Martins está entre os 37 indiciados pela PF por crimes como organização criminosa, tentativa de golpe de Estado e ações voltadas à abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
O ex-assessor teria desempenhado papel-chave no chamado “núcleo jurídico” do plano, sendo responsável pela entrega de uma minuta ao ex-presidente. Este documento previa, entre outras medidas, a prisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e a anulação do resultado eleitoral.
A defesa de Martins nega as acusações, classificando-as como “ilações e narrativas fantasiosas”. Em nota, afirmou que provará sua inocência e criticou o que chamou de “criatividade autoritária” das investigações.
Confira a nota que a defesa de Filipe Martins divulgou após o indiciamento:
A defesa de Filipe Martins considera risível e juridicamente insustentável o indiciamento de seu cliente, fabricado inteiramente com base em ilações e narrativas fantasiosas – jamais em fatos e evidências concretas.
A julgar verdadeiras as informações sobre o teor do indiciamento divulgadas pela imprensa, este caso ilustra o estado alarmante e decadente do Estado de Direito no Brasil, onde o devido processo legal e as garantias fundamentais são continuamente atropelados por motivações meramente políticas.
Filipe Martins foi preso com base em um documento apócrifo e não oficial, providenciado exclusivamente por um delator desesperado em busca de benefícios judiciais. Esse documento foi prontamente contraditado por provas oficiais brasileiras e americanas que demonstraram de forma incontestável que a alegada viagem jamais ocorreu. Ainda assim, sua prisão foi mantida por mais de seis meses, desconsiderando todas as evidências de sua inocência.
A fabricação dessa viagem, por quem quer que seja, é agora objeto de investigação pelas autoridades americanas a pedido de advogados constituídos pelo Sr. Filipe Martins nos Estados Unidos. Apesar disso, a Polícia Federal insiste em sustentar essa narrativa para indiciá-lo, expondo sua desconexão total com a realidade e o evidente abuso de suas prerrogativas.
O relatório da Polícia Federal atingiu um patamar surreal ao afirmar que Filipe Martins “simulou registros” para enganar a própria PF, induzindo-a a acreditar que ele teria ido aos Estados Unidos. É importante relembrar que sua prisão foi decretada com base na alegação de que ele havia deixado o país sem registros, burlando sistemas migratórios brasileiros e norte-americanos. Agora, a narrativa inverte-se completamente: Filipe não teria saído, mas sim “simulado” sua saída.
Se isso for verdade, significa que a PF admite ter mantido Filipe preso por seis meses com base em uma mentira que ela própria fabricou – o oposto do que afirma agora. Agrava-se ainda o fato de que nenhuma diligência mínima foi realizada para verificar a autenticidade das alegações antes de ordenar sua prisão. Essa narrativa absurda seria cômica, não fosse trágica.
A inocência de Filipe Martins será mais uma vez provada, contra toda e qualquer criatividade autoritária que busque distorcer os fatos e a realidade.
Fonte: DCM
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