O caso que viralizou nas redes sociais nesta semana, envolvendo um menino chorando em um voo da Gol após uma passageira se recusar a ceder seu lugar, escancara uma questão maior: o impacto da falta de limites na criação de crianças no Brasil.
Jeniffer Castro, que pagou por um assento na janela, foi filmada sem autorização e exposta na internet como uma pessoa “sem empatia”. O vídeo, publicado no TikTok, provocou o efeito contrário: uma onda de solidariedade à mulher, que em um dia ganhou mais de 1 milhão de seguidores no Instagram e agora é conhecida como “diva do avião”.
A confusão começou quando a criança, que inicialmente estava sentado no assento comprado por Jeniffer, foi retirado pela mãe para que a passageira pudesse se acomodar. Inconformado, o menino chorou e insistiu em retornar ao lugar. O vídeo foi gravado pela filha mais velha da mãe da criança. Veja:
Jeniffer, ao ser exposta de forma indevida, revelou ao programa “Encontro”, da TV Globo, que foi insultada pela mãe do menino até o momento do desembarque. “Estou mais com medo da minha segurança”, desabafou. O perfil que publicou o vídeo no TikTok foi desativado após a repercussão.
O episódio expõe um comportamento comum, em que crianças, ao serem tratadas como intocáveis, são educadas para virar futuros tiranos – ou futuros bolsonaristas. Afinal, o desprezo pelos direitos alheios, a dificuldade em aceitar frustrações e a imposição da própria vontade sobre os outros são marcas que, no plano social e político, não passam despercebidas.
“Estar em uma situação social e passar por uma frustração é muito comum, e os pais precisam estar preparados previamente para lidar com isso. A criança deve ser ensinada a lidar com a frustração desde cedo”, afirma a psicóloga e doutora em saúde Fernanda Landeiro ao G1.
Quando os pais não estabelecem limites, as crianças podem crescer acreditando que tudo lhes é devido, o que dificulta a convivência em sociedade. Quando pais cedem a todas as vontades dos filhos, mesmo à custa de direitos alheios, perpetuam uma lógica em que qualquer “não” é visto como uma afronta. Essa dinâmica forma adultos que desprezam regras e acreditam estar acima de qualquer restrição.
Como a educadora e médica italiana Maria Montessori bem pontuou, “a primeira ideia que a criança deve adquirir é a diferença entre o bem e o mal”. A mãe da criança envolvida no caso do avião parece ter falhado em ensinar essa lição essencial.
Ensinar que nem sempre é possível ter tudo o que se quer é fundamental para formar indivíduos preparados para viver em sociedade. Ao contrário do que a filmagem buscava sugerir, talvez a “diva do avião” estivesse apenas fazendo valer seus direitos – algo que, na sociedade contemporânea, parece cada vez mais difícil de aceitar.
Fonte: DCM
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