O cineasta Ruy Guerra, aos 93 anos, lança ‘A Fúria’, o último filme de sua trilogia que começou há 60 anos com Os Fuzis (1964) e A Queda (1976). Com uma forte crítica ao fascismo e aos resquícios da ditadura militar no Brasil, a obra aborda temas de poder, corrupção e repressão, sem personalizar figuras políticas atuais, mas focando nos mecanismos de poder que perduram.
Em A Fúria, a história gira em torno de um homem que retorna da morte para buscar justiça, em um cenário onde o presidente da República é praticamente um figurante. A trama é centrada em outras figuras de poder: um presidente da Câmara dos Deputados, um general, um empresário, um pastor e um ministro do Supremo.
Embora o presidente fictício na obra remeta a aspectos do governo Bolsonaro, Guerra e sua co-diretora Luciana Mazzotti destacam que o foco é a representação do fascismo, não a personalização de Bolsonaro. O filme, que estreou no 57º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, gerou controvérsia e ameaças durante sua produção.
Em 2022, o governo Bolsonaro determinou a abertura de um inquérito policial após imagens do set mostrarem um ator com a faixa presidencial coberta de sangue. Além das ameaças de morte a Ruy Guerra, a produção enfrentou dificuldades financeiras, que só foram resolvidas após a vitória de Lula nas eleições de 2022.
Luciana Mazzotti, co-diretora do filme, afirmou que sem o governo de Bolsonaro, o filme não teria sido finalizado. O projeto foi alvo de pressões políticas e psicológicas, mas, como destaca Guerra, “não foram capazes de calar a equipe”. Durante a estreia, a exibição do filme gerou risos e gritos de “sem anistia” nas cenas que envolviam o presidente fictício.
A Fúria também homenageia Marielle Franco, com a deputada vivida por Grace Passô, inspirada na ex-vereadora do Rio de Janeiro. O filme ainda marca a última participação de atores como Paulo César Pereio, que morreu em maio, e Nelson Xavier, que faleceu antes das gravações. A produção inova também em sua linguagem, utilizando cenários com video mapping para representar o poder de Brasília.
Guerra, que buscou trazer à tona a crítica ao fascismo e aos herdeiros da ditadura militar, afirmou que a trilogia permanece aberta. A Fúria, além de sua crítica política, também reflete sobre os mecanismos de controle e a continuidade de um sistema que parece imune ao tempo.
Em um tom ácido e irônico, o filme propõe uma reflexão sobre o Brasil, afirmando: “É um filme sacana, da paródia. Quer dizer, [tem] personagens que são no nível do ridículo. É sério e não é sério, pode-se dizer assim. O Brasil não é um país sério. Esse não é um filme sério, dentro dessa leitura primária. Mas é um filme muito sério”. A estreia de A Fúria no grande público está prevista para 2025.
Fonte: DCM
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