sábado, 7 de dezembro de 2024

Filme com morte de sósia de Bolsonaro estreia em Brasília após inquérito da PF

 

Cena vazada sem autorização do filme, em 2022, em que personagem com faixa presidencial cai ensanguentado. Foto: Reprodução
O cineasta Ruy Guerra, aos 93 anos, lança ‘A Fúria’, o último filme de sua trilogia que começou há 60 anos com Os Fuzis (1964) e A Queda (1976). Com uma forte crítica ao fascismo e aos resquícios da ditadura militar no Brasil, a obra aborda temas de poder, corrupção e repressão, sem personalizar figuras políticas atuais, mas focando nos mecanismos de poder que perduram.

Em A Fúria, a história gira em torno de um homem que retorna da morte para buscar justiça, em um cenário onde o presidente da República é praticamente um figurante. A trama é centrada em outras figuras de poder: um presidente da Câmara dos Deputados, um general, um empresário, um pastor e um ministro do Supremo.

Embora o presidente fictício na obra remeta a aspectos do governo Bolsonaro, Guerra e sua co-diretora Luciana Mazzotti destacam que o foco é a representação do fascismo, não a personalização de Bolsonaro. O filme, que estreou no 57º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, gerou controvérsia e ameaças durante sua produção.

Em 2022, o governo Bolsonaro determinou a abertura de um inquérito policial após imagens do set mostrarem um ator com a faixa presidencial coberta de sangue. Além das ameaças de morte a Ruy Guerra, a produção enfrentou dificuldades financeiras, que só foram resolvidas após a vitória de Lula nas eleições de 2022.

O cineasta Ruy Guerra. Foto: Divulgação
Luciana Mazzotti, co-diretora do filme, afirmou que sem o governo de Bolsonaro, o filme não teria sido finalizado. O projeto foi alvo de pressões políticas e psicológicas, mas, como destaca Guerra, “não foram capazes de calar a equipe”. Durante a estreia, a exibição do filme gerou risos e gritos de “sem anistia” nas cenas que envolviam o presidente fictício.

A Fúria também homenageia Marielle Franco, com a deputada vivida por Grace Passô, inspirada na ex-vereadora do Rio de Janeiro. O filme ainda marca a última participação de atores como Paulo César Pereio, que morreu em maio, e Nelson Xavier, que faleceu antes das gravações. A produção inova também em sua linguagem, utilizando cenários com video mapping para representar o poder de Brasília.

Guerra, que buscou trazer à tona a crítica ao fascismo e aos herdeiros da ditadura militar, afirmou que a trilogia permanece aberta. A Fúria, além de sua crítica política, também reflete sobre os mecanismos de controle e a continuidade de um sistema que parece imune ao tempo.

Em um tom ácido e irônico, o filme propõe uma reflexão sobre o Brasil, afirmando: “É um filme sacana, da paródia. Quer dizer, [tem] personagens que são no nível do ridículo. É sério e não é sério, pode-se dizer assim. O Brasil não é um país sério. Esse não é um filme sério, dentro dessa leitura primária. Mas é um filme muito sério”. A estreia de A Fúria no grande público está prevista para 2025.

Fonte: DCM

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